O contexto da performance por Diana Taylor

* Arthur Moreau, colaborador do idanca.net, cobriu o 8º INSTITUTO HEMISFÉRICO, um encontro bienal que acontece em diversas partes da América do Sul. Este ano o evento aconteceu em São Paulo e, além do relato, Arthur preparou uma série de quatro entrevistas com alguns dos participantes: Diana Taylor, Beth LopesZeca LigiéroLúcio Agra.

Abaixo vocês podem conferir a primeira entrevista, com Diana Taylor; Diana Gomez colaborou na tradução:

Diana Taylor: é professora da Universidade de Estudos da Performance (Performance Studies) e de espanhol na New York University. Ela é a autora de livros sobre teatro e performance. Em 1998, junto com Zeca Ligiéro, Javier Serna (Universidad Autónoma de Nuevo León, Mexico) e Luis Peirano (Pontificia Universidad Católica del Perú) o Instituto Hemisférico de Performance e Política  e o dirige desde então. O Hemi é financiado por fundações como a Ford, Rockefeller, Andrew W. Mellon, e Henry Luce. A entrevista a seguir foi concedida no dia 15 de janeiro.

1 – O 8º Hemisférico era para acontecer no ano passado no México. Mas acabou vindo para São Paulo. Como foi esse processo?

        Diana Taylor: Foi um processo muito complicado. Estávamos nas últimas etapas do encontro que seria lá. Mas, por razões políticas, nossos anfitriões no México decidiram não apoiar mais o encontro. Perdemos muitíssimo dinheiro. As pessoas que haviam feito a produção, os artistas, os estudantes, os ativistas perderam dinheiro porque já tinham comprado suas passagens de avião. Foi uma crise para nós. Porém, temos uma ótima relação com a professora Beth Lopes, da USP. Ela queria que o encontro fosse aqui. Então conversamos e decidimos que poderíamos fazer naquele ano [2012]. Trabalhamos de novo. E agora aqui, felizmente, estamos muito contentes.

2 – O 8º Encontro acontece em lugares distantes entre si. Isso é um problema?

        DT: Creio que é um problema em certo sentido. São muitos participantes, temos uma programação ampla, então não há tempo de ir de um lugar para o outro, isso nos custa um tempo que para nós é muito valioso. Mas, por outro lado, o tema do Encontro é “Cidade, corpo, ação”, e não há melhor maneira de conhecer a cidade do que atravessa-la com o corpo. Também há muitas ações que são feita lá fora, performances na rua, no trânsito, muitas atividade que fazem parte da cidade. A cidade tem a sua própria performance e nós estamos envolvidos nela.

3 – O evento esta acontecendo de um modo satisfatório? Sentiu alguma particularidade na cidade de São Paulo em comparação as outras cidades que já receberam o Hemisférico?

        DT: Acho que vai muito bem. As pessoas nos receberam de uma maneira muito calorosa. Todas as palestras, as intervenções, as performances têm sido muito produtivas. Os espaços são belos, apesar da distância [entre si], mas são bons espaços. Todo mundo esta muito contente de estar aqui em São Paulo. Muitos não conheciam a cidade, alguns tinham medo de uma cidade tão grande. Mas, agora, já se sentem mais cômodos com o Metrô, caminhando pelas ruas, pelos diferentes espaços. Acho que esta indo tudo muito bem.

4 – Muitos grupos de dança do Brasil trabalham intensamente questões políticas contemporâneas vinculadas ao corpo, como o Lia Rodrigues Cia. de Danças, do rio de Janeiro. Algum deles chegou a ser considerado a participar desse evento?

        DT: Têm muitas pessoas que fazem dança, e por certo há grupos de discussão sobre dança. Na realidade, não sei quantas pessoas da dança no Brasil vieram. Sei que são muitas pessoas. Mas não sei dizer agora quais são os que participam, porque a lista mudou no último minuto; bem isso acontece: as pessoas querem vir e não podem; há pessoas que já estavam aqui e se envolvem, não sei exatamente. Mas dos grupos grandes, não. Em parte, porque não temos espaço adequado para dança.

5 – Qual é o país americano onde, para a senhora, o movimento de performance é mais escasso? O que o Instituto Hemisférico pode fazer para ajudar e melhorar a situação?

        DT:   Penso que tem muito a ver com as redes universitárias. O Brasil tem muitas universidades boas, então a presença da performance aqui é uma coisa bastante comum. Mas, existem países que tem menos universidades, por exemplo Guatemala, Costa Rica, ou países menores que não têm infraestrutura. No entanto, onde tem menos, ainda assim a performance alcança: na Costa Rica se trabalham o tema da performance. Assim, creio que mais e mais se está introduzindo o termo da performance como algo interessante para fins teóricos, práticos, epistemológicos e políticos.

        Outra coisa que esta fazendo o Instituto Hemisférico tratar é publicar muitíssimas coisas em espanhol, em inglês e em português sobre performance. Através de livros ou através de publicações digitais. Para que as pessoas possam ler, estar em contato e tudo mais. E isso vamos continuar ampliando.

        Então a nosso sonho seria que as pessoas que querem acessar esse material poderiam fazê-lo.

6 – Quais os próximos projetos do Hemisférico?

        DT: Existem muitos. Um, é o próximo Encontro, que vai ser em Montreal [Canadá], em junho do ano que vem, 2014. Inclusive, também teremos as datas: vai ser do 22 ao 29, mais ou menos. Vai estar um tempo bom em Montreal nessa época! Não tenho medo.

        Outra coisa são essas publicações digitais. Vamos seguir com todo tipo de publicação. Teremos a Revista Hemisférica, que também está disponível na internet e que também é trilíngue, é publicada duas vezes por ano e tem muitíssimo material acerca de performance. Vamos seguir com grupos de trabalho, com publicações, com encontros, com tudo que estamos fazendo atualmente.

7 – Qual livro dos seus têm previsão para ser publicado em português?

        DT: Meu livro mais conhecido, O Arquivo e o Repertório, agora esta em português [Editora UFMG, 2012] e acabamos de fazer a apresentação dele hoje. Esse é o mais conhecido dos meus livros. Quanto aos outros, não sei se vão sair ou não. Mas, no momento, estou muito contente que esse livro existe aqui, em português, em uma magnífica tradução. E em uma belíssima edição.