A Cultura McWorld e os Novos Paradigmas em Dança | La Cultura McWorld y los Nuevos Paradigmas en Danza

Este texto originalmente encontra-se nos arquivos da Conferência Internacional de Dança, realizada pelo Itaú Cultural e British Council em maio de 2005.

O problema comum à cultura McWorld(1) é a dificuldade de intercâmbio real. Para nos sentirmos membros ativos de uma comunidade de dança é necessário dispor das informações que permitam nosso conhecimento mútuo, a comunicação com artistas, pessoalmente, e a integração em instituições nas quais o contato humano nos ajude a compreender e interiorizar tais relações.

Se nossas referências culturais e fontes de legitimação vêm da Europa, do Japão ou dos Estados Unidos; se não podemos interpelar ou ser interpelados pelos personagens que podem influenciar nossa conduta (porque ou são virtuais, ou são percebidos como tais, ou estão fora de nosso alcance); se nos consideramos grupos que ficaram à margem do domínio das TIC (televisão, Internet, salas de bate-papo), é provável que, longe de sermos protagonistas, estejamos sofrendo o fenômeno da globalização. Se não pertencemos aos que concordaram com o domínio das TIC e podem interpretá-las como um aumento das possibilidades de escolha, mas sim aos que não conseguiram dominá-las, então seríamos, ao contrário, vítimas de suas conseqüências.

Aqueles que concordaram com as TIC e não ficaram à margem vivem de forma realmente global: participação em festivais internacionais, bolsas de estudo, acesso a novas tecnologias, participação na rede informática mundial. Aqueles que ficaram à margem são influenciados pela cultura global, embora passivamente. Seus valores, freqüentemente arraigados em formas de vida diferentes, às vezes impregnadas de tradições religiosas, se vêem violentados por propostas tão atraentes quanto impossíveis de serem alcançadas. A explosão desses padrões culturais estrangeiros em nosso meio empurra o artista para a emigração ou a marginalização. É essa cultura global que se caracteriza por uma cultura McWorld .

Nossa disciplina artística quase se transformou em um folclore planetário, que se enriquece mediante integrações e encontros, ramificando-se em diversos estilos; processo semelhante ao realizado pelo rock que se arraigou em muitos idiomas do mundo e cuja difusão mundial suscitou novas originalidades.

Na Argentina, a dança-espetáculo se constituiu de ondas transculturais que favoreceram diferentes mestiçagens e hibridações, resultando em uma interfecundação frutífera.

Nós produzimos cultura e essa cultura é histórica. Além disso, nascemos em meio a tradições, nascemos em um meio cultural, histórico, que está determinado, marcado, por alguns traços característicos que são diferentes dos que marcam outras tradições. Essa situação é um fatum histórico no qual nos encontramos: estamos em meio a tradições e estar em uma tradição também é inovar na tradição. As configurações materiais e espirituais que nos foram dadas são objetos de contínua transformação. Nossa ação foi dupla: receber o que foi dado e estabelecer uma nova configuração.

Na Argentina, a dança-espetáculo não delimita uma unidade homogênea. É um objeto marcado pela diversidade resultante de encontros com outras expressões de dança, procedentes basicamente de países do continente europeu e, em menor escala, dos Estados Unidos. Sobre essas contribuições foram se construindo particularidades que dificilmente podem ser reunidas em uma perspectiva única.

A proposta do debate poderia englobar parte do mencionado anteriormente e algumas dessas dimensões:

1. Como as mudanças dos paradigmas atuais afetam a dança em nossos países? As situações que hoje se apresentam mostram até que ponto nos movemos em um plano de incertezas. Elas indicam a intensidade das mudanças que vêm se produzindo em todas as esferas da consciência individual e coletiva, na cultura acadêmica e na cultura social dominante. É necessário levar em consideração esses novos contextos para a criação artística? É necessário um sistema de idéias para abordar os novos parâmetros culturais? Mudança de mundo = nova visão do mundo = mudança de paradigmas.

2. Estamos diante de uma transformação no modo de produzir obras e nos modos de divulgação?

3. Como as mudanças produzidas nos modelos culturais (formação de uma consciência supranacional e transnacional ao redor de interesses regionais, renascimento das culturas individualistas: étnicas ou ancestrais, tribais urbanas…) afetam a dança em nossos países? A oscilação entre “mundialização” e “tribalização” das sociedades atuais afeta a dança de alguma forma?

(1) Essa cultura global vem se caracterizando como uma cultura McWorld (Benjamin Barber), em relação a duas marcas comerciais: MacIntosh e McDonalds.

*Susana Tambutti : Arquiteta, coreógrafa e pesquisadora. Criou e dirigiu o Nucleodanza (1974-1997), com Margarita Bali. Conseguiu bolsa de estudo em várias ocasiões pelo Fundo Nacional das Artes, Fundação Rockefeller e Usia, sendo a última distinção recebida da Fulbright 50 th Aniversary Distinguished Fellowship. Hoje trabalha para o Ballet Argentino dirigido por Julio Bocca. Ministrou cursos em diversas universidades e festivais internacionais. É professora titular no Instituto Universitário Nacional de Artes (Iuna), na Universidade Buenos Aires, no programa pedagógico da Fundação Antorchas, no interior do país, na pós-graduação de educação física na Universidade da Plata, na extensão para a carreira de teatro e dança da Universidade de Rosario, entre outras instituições. Foi assessora artística do IV Festival Internacional de Teatro e Dança 2003 e assessora artística do V Festival Internacional de Teatro e Dança 2005.

Este texto originalmente encontra-se nos arquivos da Conferência Internacional de Dança, realizada pelo Itaú Cultural e British Council em maio de 2005.

El problema común a la cultura McWorld(1) es la dificultad para el intercambio “real”. Para sentirnos miembros activos de una comunidad dancística es necesario disponer de la información que permita nuestro mutuo conocimiento, la comunicación con artistas “en persona” y la integración en instituciones en las que el contacto humano nos ayude a comprender e interiorizar dichas relaciones. Si nuestros referentes culturales y fuentes de legitimación vienen de Europa, Japón o EEUU, si no podemos interpelar o ser interpelados por los personajes que pueden influir en nuestra conducta (porque, o son virtuales, o los percibimos como tales, o están fuera de nuestro alcance); si nos consideramos como grupos que han quedado al margen del dominio de las TIC (televisión, internet, Chat), es probable que, lejos de protagonizarlo, estemos sufriendo el fenómeno de la globalización. Si no pertenecemos a los que han accedido al dominio de las TIC y pueden traducirlas en un aumento de posibilidades de elección; sino a los que no han logrado dominarlas, entonces seríamos, más bien, víctimas de sus consecuencias. Quienes han accedido a las TIC y no han quedado al margen viven de forma realmente “global”: (participación en festivales internacionales, becas de estudio, acceso a las nuevas tecnologías; participación en la red informática mundial). Los que han quedado al margen reciben la influencia de la cultura global pero pasivamente. Sus valores, a menudo arraigados en formas de vida diferentes a veces impregnadas de tradiciones religiosas, se ven violentados por propuestas tan atractivas como imposibles de alcanzar. La irrupción de estos patrones culturales extranjeros en nuestro medio empuja al artista a la emigración o a la marginación. Esta cultura global sería la que se caracteriza como una cultura McWorld.

Nuestra disciplina artística casi se ha transformado en un folclore planetario que se enriquece mediante integraciones y encuentros, ramificándose en diversos estilos, proceso similar al realizado por la música-rock que se arraigó en muchas de las lenguas del mundo, y cuya difusión mundial ha suscitado nuevas originalidades.

En Argentina, la danza espectáculo se constituyó por oleadas transculturales, que favorecieron distintos mestizajes e hibridaciones y que dieron como resultado una fructífera inter-fecundación.

Nosotros producimos cultura, y esta cultura es histórica, además nacemos en medio de tradiciones, nacemos en un medio cultural, histórico, que está determinado, marcado, por algunos rasgos característicos que son diferentes de los que marcan otras tradiciones. Esta situación es un fatum histórico en el cual nos encontramos: estamos en medio de tradiciones y estar en una tradición es también innovar en la tradición. Las configuraciones materiales y espirituales que nos han sido dadas son objeto de continua transformación. Nuestra acción fue doble: recepción de lo dado y establecer una nueva configuración.

En la República Argentina, la danza espectáculo no delimita una unidad homogénea. Es un objeto signado por la diversidad resultante de encuentros con otras expresiones dancísticas, procedentes básicamente de países del continente europeo y, en menor medida, de Estados Unidos. Sobre estos aportes se han ido construyendo particularidades que difícilmente puedan reunirse en una única perspectiva.

La propuesta del debate podría abarcar algo de los ya mencionado y alguna de estas dimensiones:

1. Cómo afectan los cambios de paradigmas hoy a la danza en nuestros países. Las situaciones que hoy se presentan muestran hasta qué punto nos movemos en un plano de incertidumbres. Nos indican la intensidad de los cambios que se vienen produciendo en todas las esferas de la conciencia individual y colectiva, en la cultura académica y en la cultura social dominante. ¿es necesario tomar en cuenta estos nuevos contextos para la creación artística? ¿es necesario un sistema de ideas para abordar los nuevos parámetros culturales? Cambio de mundo = nueva visión del mundo = cambio de paradigmas.

2. ¿Estamos ante una transformación en el modo de producir obras y de los modos de transmisión?

3. Como afecta a la danza en nuestros países los cambios producidos en los modelos culturales (formación de una conciencia supranacional y transnacional en torno a intereses regionales, renacimiento de las culturas individualistas: étnicas o ancestrales, tribales urbanas…). ¿existe algún impacto en la danza de la oscilación entre la mundialización y la tribalización de las sociedades actuales?.

*Susana Tambutti : Arquitecta, coreógrafa e investigadora. Creó y dirigió Nucleodanza (1974-1997), junto con Margarita Bali. Fue becada en varias oportunidades por el Fondo Nacional de las Artes, Fundación Rockefeller y USIA siendo la última distinción recibida la Fulbright 50th Anniversary Distinguished Felloship. Actualmente trabaja para el Ballet Argentino dirigido por Julio Bocca. Internacionalmente dictó cursos en diversas universidades y festivales. Actualmente és Profesora Titular en el Instituto Universitario Nacional de Artes (IUNA), en la Universidad Buenos Aires (Carrera de Artes), en el programa pedagógico de la Fundación Antorchas en el interior del país, en el postgrado de Educación Física en la Universidad de la Plata, en el Postítulo para la carrera de Teatro y Danza en la Universidad de Rosario, entre otras instituciones. Fue asesora artística del IV Festival Internacional de Teatro y Danza 2003 y asesora artística de V Festival Internacional de Teatro y Danza 2005.