A Dança na noite de premiações da APCA 2012

Os melhores das Artes, na opinião da Associação Paulista dos Críticos de Artes, forma premiados na terça feira, dia 12 de março, na capital paulista. A cerimônia ocorreu no Teatro Paulo Autran, SESC Pinheiros, tendo como mestres de cerimônia Marília Gabriela e Herson Capri. As categorias artísticas premiadas foram: Artes visuais, Dança, Arquitetura, Música Popular, Cinema, Música Erudita, Literatura, Televisão, Teatro, Teatro Infantil e Rádio. Um Prêmio Especial da APCA, que homenageia personalidades ou instituições com trabalho relevante na área cultural, também foi concedido.

“Reincidências”

No dia 13 de março de 1972, Roberto Luis Arrieta (1951) fez sua primeira aula de balé, na Escuela del Ballet Contemporáneo de la Ciudad de Buenos Aires (Argentina). No dia 13 de março de 1974, Luis Arrieta chegou ao Brasil a convite de Marilena Ansaldi (1934), para dançar no Ballet Stagium (SP). Recém-chegado em São Paulo, se hospedou temporariamente na casa de Marilena, que estava casada, na época, com o crítico de teatro Sábato Magaldi. E foi praticamente no dia 13 de março de 2013, que Luis foi contemplado pelo Grande Prêmio da Crítica de Dança da APCA, mesma noite em que Sábato Magaldi, que havia recebido Luis em sua vinda ao Brasil, foi homenageado com o troféu especial APCA.

Personagens e números reincindem. “Coincidência?” lança, Luis, pergunta provocativa. “Ou sincronicidade?”, retorno com outra pergunta conduzida pelo palpite que escapa do diretor. Começo a observar o quanto ele é sensível a eventualidades cotidianas e como isso permeia suas criações, que apresentam aguçada sintonia entre movimento e música, além de uma exigência na qualidade técnica e artística do movimento que se traduz em elegância nele e em suas obras.

Luis foi reconhecido pelos seus 34 anos de experiência como coreógrafo e diretor, e mais de 40 anos como artista em dança, tendo dançado e coreografado para diversas companhias brasileiras e estrangeiras. Documento publicado pelos críticos que participaram da banca do Prêmio –  Ana Teixeira, Christine Greiner, Flávia Couto, Joubert Arrais, Helena Katz e Renata Xavier – pontua que cada movimento criado por Arrieta são “pistas para entender o que é ser um exímio Artíficie”.

Em dezembro de 2012, quando Luis soube que havia recebido prêmio APCA, sua percepção ficou especialmente aguçada. Conta que reparava nos porteiros, no jardineiro, na cozinheira, no carteiro; lembrou-se de seu pai, que era confeiteiro. Para ele, receber um prêmio tem dois lados: um está ligado ao ego, “que salta como um cabrito”, diz ele; o outro é o de se perguntar “mas por que mesmo que nós artistas precisamos receber prêmios, enquanto tem gente que contribui de tantas maneiras para o mundo e não recebe reconhecimento por isso? Será que é porque somos mais frágeis e inseguros?”. Completou dizendo: “Meu pai era um artista do olhar e do paladar e nunca recebeu prêmio por isso.”. As questões ficaram lado a lado com a alegria de ter sido agraciado pelo prêmio e agradece especialmente à crítica Helena Katz, que acompanhou de perto toda sua trajetória.

 

Espetáculo "Magnificat", coreografado por Luis Arrieta. Foto: Sílvia Machado.

Espetáculo “Magnificat”, coreografado por Luis Arrieta. Foto: Sílvia Machado.

João Saldanha, que dirige o Atelier de Coreografia (RJ) e já recebeu um APCA pelo espetáculo Monocromos (2007), não esperava receber o Prêmio de melhor coreógrafo com Núcleos (2011), porque suas criações não buscam esse fim. Para ele, receber tal prêmio é uma oportunidade singular de ouvir comentários generosos e atenciosos dos críticos de dança paulistanos que, para ele, têm uma percepção refinada e olhar cuidadoso. Foram apenas dois meses para montar o espetáculo junto com os dançarinos; mas as questões presentes em cena são resultados de uma vida inteira de dedicação à criação coreográfica – João cria há mais de 25 anos.

Luís Ferron, que já recebeu um prêmio APCA, em 2009, com o espetáculo Sapatos Brancos declarou que é um privilégio ter seu espetáculo Baderna reconhecido pela crítica e estar ao lado de artistas que ele admira. Ele acredita que o prêmio APCA valoriza a dança enquanto linguagem artística e o ajuda a se situar e pensar “acho que estou no caminho certo.”.

Também foram premiados(as), a bailarina Paula Perillo, do Ballet Stagium (SP), como melhor bailarina; Grupo Cena 11 (SC), representado pelo diretor Alejandro Ahmed, por melhor trajetória em dança, com o espetáculo Carta de amor ao inimigo (2012); Wagner Schwartz, representado por Sheila Ribeiro, por melhor projeto artístico com Piranha (2010); e elenco da Cia. Dani Lima (RJ), por melhor elenco no espetáculo 100 gestos (2012).

A noite parecia perfeita, mas havia uma ausência. Os artistas receberam um troféu de reconhecimento, mas nada além disso. Assim como os números e datas que se repetem na trajetória de Luis Arrieta, a falta de financiamento e de prêmio em dinheiro para que os artistas possam dar continuidade às suas criações e garantir condições básicas para sobreviver, parece uma constante longe de ser resolvida no ambiente das artes.

Os premiados:

Grande Prêmio da Crítica: Luis Arrieta (SP)

Bailarina: Paula Perillo, do Ballet Stagium (SP)

Coreógrafo: João Saldanha (RJ), com o espetáculo Núcleos (2011)

Trajetória de pesquisa em dança: Grupo Cena 11 (SC), com o espetáculo Carta de amor ao inimigo (2012)

Projeto Artístico: Wagner Schwartz

Elenco: Cia. Dani Lima (RJ), que integrou o espetáculo 100 gestos (2012) – Carla Stank, Eleonore Guisnet, Lindon Shimizu, Rodrigo Maia, Thiago Gomes e Tony Hewerton.

Espetáculo: Baderna (2012), do Núcleo Ferron (SP).