A loucura se contrapõe à produtividade em obra da Cia Sansacroma

O espetáculo Sociedade dos improdutivos, da Cia Sansacroma, faz suas últimas apresentações desta temporada,  até 21 de fevereiro, domingo, na Casa de Cultura M’Boi Mirim, em Piraporinha, São Paulo. A peça partiu de uma pesquisa teórica e prática sobre a loucura, e discute a oposição entre os corpos que são considerados produtivos socialmente e os considerados inválidos.

A pesquisa teórica da companhia foi um consistente estudo sobre a história da loucura no ocidente. De Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel, Erasmo de Roterdã, passando pela Nau dos Insensatos, de Sebastian Brant, até o conceito de Biopoder de Michel Foucault, pelo pensamento junguiano que inspira o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira e pelos paradigmas que norteiam a Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial no Brasil.

A pesquisa de campo foi realizada inicialmente através de 12 intervenções artísticas junto aos usuários do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Jardim Lídia, que fica no Capão Redondo. E se estendeu por meio de um vínculo entre a companhia, os profissionais de saúde e os usuários deste Caps, direcionado a outras atividades artísticas na Fábrica de Cultura Capão Redondo. Os artistas puderam observar uma prevalência de pessoas negras e de periferia tanto nos manicômios do passado como nos de hoje.

A perspectiva da transformação política é uma constante no trabalho da companhia, criada em 2002 por Gal Martins, vem desenvolvendo o conceito de “dança da indignação”. No entanto, por meio da sensorialidade – reforçada pela música executada ao vivo e pela disposição do público em uma instalação coreográfica -, pretende-se ultrapassar  o sentido de denúncia do sistema capitalista, para estabelecer relações de empatia e vivências de processos comportamentais que são vistos como desvio e como indesejáveis.

Gal, que também é diretora do espetáculo, reforça a relação entre o consumo e a necessidade de contenção dos que são considerados improdutivos: “É conveniente manter a sombra oculta e invisível aos olhos de uma sociedade sujeitada a valores de consumo, que legitima enunciados científicos em torno de uma idealização de saúde. Essa perspectiva ocidental, forjada histórica e linguisticamente, extrai a singularidade expressiva e a potência de produção do ‘louco’ – o inscreve na vulnerabilidade, no abandono, na miséria e na subjetividade-lixo, que impõem sua dependência aos tratamentos de contenção, ao consumo de medicamentos, substituindo o confinamento do passado, pelos controles farmacológicos e institucionais do presente.”

 

Espetáculo Sociedade dos Improdutivos
Dias 18, 19, 20 e 21 de fevereiro;
Quinta e sexta, às 21h, sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Casa de Cultura M’Boi Mirim
Av. Inácio Dias da Silva, s/n – Piraporinha, São Paulo – SP
Tel.:11 5514 3408
Entrada franca (retirada dos ingressos na bilheteria uma hora antes do espetáculo)
Duração: 50 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 40 lugares

[Fotos de Raphael Poesia]