A “tal” dança contemporânea | This “so called” contemporary dance

Em Brasília, a dança contemporânea ainda incomoda e causa certa estranheza: numa cidade em que esta estética tem conseguido se construir por meio da persistência de poucos profissionais, é difícil compreender e analisar a qualidade dos produtos coreográficos, com a reduzida informação disponível. A série Dança Brasil, promovida pelo CCBB, chega à cidade como uma possibilidade de suprir parte dessa lacuna, apresentando coreografias de companhias locais e de outros estados, além de promover palestras, lançamento de livros, mostras de vídeos e encontros entre os coreógrafos e o público, mediados por coreógrafos e pesquisadores de dança.Translation by Sarah Hyde, Ccaps Translation and Localization.

Tentando compreender de que maneira os coreógrafos brasileiros lidam com o espaço, esta edição (a 3a na cidade) abordou o tema O espaço que (nos) inspira, envolvendo profissionais que estão buscando novas linguagens de movimento, por meio de pesquisas em dança contemporânea. Participaram da mostra coreográfica: o Basirah Núcleo de Dança Contemporânea, de Brasília, que apresentou a coreografia Eu só existo quando ninguém me olha; o Kaiowas Grupo de Dança, de Santa Catarina, com Pausa; Luciana Gontijo & Margô Assis, de Minas Gerais, que apresentaram a coreografia In Situ e Thembi Rosa, com Ajuntamento. Também se apresentaram a Cia Carlota Portella – Vacilou Dançou, com a composição coreográfica Espaço de Luz e Celina Portella & Flavia Costa com Volume, ambas do Rio de Janeiro. Encerrando o evento, a Zikzira Physical Theatre, cia fundada em Londres com filial no Brasil, apresentou Verissimilitude.

De modo geral, os trabalhos apresentaram propostas que evidenciavam a busca por novas utilizações do corpo, no entanto, com relação ao tema do evento que propunha inspiração no espaço, na grande maioria dos trabalhos era difícil localizar questionamentos ou investigações diretamente vinculadas a ele. Neste sentido, merece destaque a coreografia Espaço de Luz, da Cia Carlota Portella – Vacilou Dançou, que propunha a criação de espaços dinâmicos por meio da dinâmica da iluminação.

Nas outras atividades como Palco Aberto, Mostra de Vídeo e Palestra os artistas e público, em geral, puderam assistir, ouvir, discutir e perguntar, construindo, deste modo, possibilidades de falar sobre essa “tal” dança contemporânea. Nestes encontros, os movimentos foram substituídos por reflexões e idéias, configurando um processo de disseminação da informação. Pena que os horários, nem sempre permitiram o acesso a um número maior de pessoas…

Se cumpre seus objetivos, é fato difícil de ser analisado, uma vez que este evento explicita uma preocupação em promover a circulação da dança contemporânea, bem como contribuir com a formação, questões que envolveriam ações sistêmicas e com outras características. Além disso, o Palco Aberto, que consiste no encontro entre os coreógrafos e o público, realizado imediatamente após os espetáculos das sextas-feiras, apesar das amplas possibilidades de troca e reflexão, em alguns casos, tornaram-se explicações sobre aquilo que o produto coreográfico não conseguiu, por si, comunicar. Assim, perderam seu sentido…

Apesar disto, o resultado é que, para a cidade, esta série se afirma como uma produção que proporciona um maior intercâmbio entre os criadores, e contribui para inserir Brasília na dinâmica cultural brasileira e, quem sabe, criar um pólo de expansão da dança contemporânea na região centro-oeste. E, se lembrarmos que a arte possibilita a visualização de novas perspectivas do mundo, a especificidade deste evento talvez esteja exatamente no fato de, antes de mais nada, contribuir para que a dança não seja apenas vista enquanto produto, mas também como processos de reflexão sobre as diversas realidades possíveis.

*Susi Martinelli é Bacharel e licenciada em dança pela Unicamp. Mestre e doutoranda em psicologia pela UnB.

In Brasilia, contemporary dance still bothers people and evokes some awkward feelings: in a city where this aesthetic has been able to construct its space through the persistence of a few professionals, it is hard to understand and analyze the quality of the choreography due to a lack of available information. The Dança Brasil series, promoted by CCBB, comes to the city and seems to be able to fill in this blank. It presents choreographies of local companies and of those from other states and promotes lectures, the release of books, video shows and meetings between the choreographer and the public. The series is organized by choreographers and dance researchers.

To try to understand how the Brazilian choreographers deal with space, this edition (the third in the city) has created the following topic: The space that inspires us. The program involves professionals who are looking for new languages of movement through contemporary dance research. The groups that took part in the choreography performance were: Basirah – Núcleo de Dança Contemporânea (Basirah – Contemporary Dance Center) from Brasília, which presented the choreography I only exist when nobody is watching; Kaiowas Grupo de Dança (Kaiowas Dance Group) from Santa Catarina, with Pause; Luciana Gontijo & Margô Assis from Minas Gerais, who presented the choreography In Situ, and Thembi Rosa, with Getting it together. We also saw presentations of the Carlota Portella Dance Company – Vacilou Dançou, with the choreography Space of light and Celina Portella & Flavia Costa with Volume, both from Rio de Janeiro. At the end of the event, Zikzira Physical Theatre, which was founded in London and has a center in Brazil, presented Verissimilitude.

Overall, the projects presented proposals that emphasized the search for a new use of the body. However, concerning the topic of the event, which inspired by space, it was hard to find questionings or investigations in most of the projects. Taking that into account, the choreography Light space by The Carlota Portella Company – Vacilou Dançou should be mentioned. Its proposal was the creation of a dynamic space through the dynamic of light.

In other activities, such as Open Stage, Video and Lecture Presentation, the artists and the public in general, could watch, listen, discuss and question, therefore making it possible to talk about this “so called” contemporary dance. During these events, movements were replaced by thoughts and ideas, spreading information. Unfortunately, the schedules did not always make it possible to have a big group of people…

It is difficult to figure out if this event has attained its goals, since it emphasizes the need to promote the spread of contemporary dance. It also focuses on contributing with formation to matters that would involve systemic actions and with other characteristics. In spite of the fact that it offered an excellent space to exchange ideas, Open Stage, a meeting between the choreographers and the public and that takes place immediately after the performance on Fridays, was sometimes transformed into an explanation about what the choreographies could not express. Therefore, it lost its meaning…

Despite all of this, the result for the city is that this series has become a production that sets up a better exchange among artists while also contributing to Brasilia’s entrance into the Brazilian cultural dynamic scene. Perhaps it even establishes the enhanced exposure of contemporary dance in the region. If we keep in mind that through art we are able to visualize a new world perspective, then this event makes it possible for dance to be seen not only as a product, but also as thinking processes about the many possible realities.

*Susi Martinelli is graduated in dance at Unicamp. Completed her master and is currently researching for her doctorate in psychology at UnB.