Ana Teixeira e Helena Katz sobre o Prêmio APCA 2015

Na última sexta, dia 4, o Idança publicou uma matéria sobre a ausência da dança no Prêmio da Academia Paulistana de Críticos de Arte – APCA, deste ano. Incluímos a declaração do presidente da Associação, José Henrique Fabre Rolim, que disse que a comissão responsável pela área da dança – composta por Renata Xavier, Helena Katz, Ana Teixeira e Ana Francisca Ponzio – não havia chegado a um consenso e por isso não houve premiação. Entrevistei também a artista Sheila Ribeiro, uma das ganhadoras do ano passado, que propôs vários questionamentos acerca do ocorrido.

Pouco tempo depois da publicação, tivemos acesso à postagem de Ana Francisca Ponzio em que ela contava a sua versão dos fatos . Conversei com Helena Katz, no domingo, dia 6. Ela me informou que estava elaborando um texto em conjunto com Ana Teixeira para tratar do assunto, que nos foi enviado no dia seguinte, e é o que se segue, na íntegra:

Fazendo parte de uma associação que congrega críticos de arte e tendo acompanhado a produção artística em 2015, nos perguntamos qual seria a melhor forma do Prêmio APCA contribuir com a Dança: bastaria ligar o piloto automático e repetir o modelo de sempre? Nesse momento, ele colabora de fato ou apenas reproduz o tipo de competição instaurado pela lógica dos editais? Escolher os sete melhores tem ajudado o fortalecimento da produção artística em Dança? Os não escolhidos também se sentem representados ou há algo a ser pensado a esse respeito?

A partir de perguntas como essas, que viemos nos fazendo ao longo deste ano, e que foram iniciadas no ano passado, decidimos buscar uma outra lógica. Começamos a reunião propondo destacar um trabalho e não um artista. Seu nome não seria sequer citado, porque na verdade, essa obra tem muitos autores, todos aqueles que entram em cena para coreografar o artista. Pensamos em La Bête (O Bicho) porque ela escancara o estado de violência que vem se tornando normalizada, natural quando nos mostra que não se sabe lidar com o outro, e que rapidamente transforma o que poderia vir a ser uma obra artística – fruto de uma colaboração horizontal – em manifestações de abuso e crueldade.

A mudança de lógica estaria no ato de destacar um trabalho e não um artista por entendermos que aquilo que esse trabalho propõe convida toda a Dança a uma reflexão importante. Ou seja, seria uma forma de reunir todos em torno de interesses comuns. Todavia, ficamos temerosas em expor o artista de forma indevida, mesmo não sendo ele o premiado. E optamos por propor a reflexão.

Vale a pena explicitar que as reuniões acontecem assim: cada membro apresenta a sua proposta, que passa a ser debatida por todos. Dessa vez, as conversas geraram um empate: dois membros a favor e dois contra. Vale lembrar que a Dança está na APCA desde 1973 e que nos anos de 1983, 1985 e 1994 não houve premiação para a Dança.

Como comunicar o empate na Comissão aos profissionais da Dança? Preparamos um texto para explicar o que se passava, mas ele também não foi aceito por um dos membros, que pediu para que publicássemos apenas que não houve consenso. Mesmo lamentando perder a oportunidade de informar a todos o que se passava, como não havia mais tempo para continuarmos a conversar porque a assembleia anual já estava em curso e a Comissão de Dança necessitava manifestar a sua posição, assim foi feito.

No entanto, na sexta-feira passada, fomos surpreendidas pela manifestação justamente do membro que não havia concordado em construir um texto em conjunto e que, sem comunicar à comissão da qual fez parte, escreveu sozinho a sua versão. Nela, torna público um trecho de uma longa correspondência (trocas de whatsapps e e-mails) realizada durante dois dias, retirando-o do seu contexto, e sem nada informar à parte citada.

Talvez agora, com o material das reações manifestadas, esteja mais clara a necessidade de uma reflexão conjunta. Reiteramos aqui a proposta de convidar a Dança a pensar sobre o papel do Prêmio APCA na sua consolidação como área artística.

A Dança não teve premiados neste ano, mas não foi excluída, nem extinta da APCA. A reflexão passou a existir no lugar do prêmio.

Ana Cristina Echevenguá Teixeira

Helena Katz

[Foto: Imagem de La Bête, de Wagner Schwartz, por Caroline Moraes.]