A relação entre as mulheres e a arte está em foco no Sesc Belenzinho

De metade de janeiro a metade de abril, o projeto Arte – Substantivo Feminino tem intensa programação de obras feitas por mulheres e sobre as mulheres

Hoje, 15 de janeiro, tem início uma programação que inclui espetáculos, shows, intervenção, debates e oficinas serão apresentados no Sesc Belenzinho, em São Paulo, tendo como foco as questões da mulher na sociedade e nas artes. As apresentações começam em janeiro e se desdobram até meados de abril de 2016.

As obras escolhidas trazem temáticas relevantes e de diferentes pontos de vista sobre o feminino e a ideia é abordar a mulher nas artes, tanto no conteúdo das obras – suas lutas em batalhas, dentro da história e da sociedade –, quanto na gestão e criação dos trabalhos.

A diretora Georgette Fadel faz a abertura do evento, com a estreia do espetáculo Guerrilheiras ou para a Terra não há Desaparecidos, que tem dramaturgia de Grace Passô. A peça traz acontecimentos da Guerrilha do Araguaia, ocorrida na região amazônica no período de 1967 a 1974. O conflito armado resultou na morte de grande parte dos revolucionários, doze deles mulheres. Além do espetáculo, o ciclo Guerrilheiras ou para a Terra não há Desaparecidos contém mesas de debates e oficina que levantam questões como resistência, guerrilha e poética.

Os assuntos serão debatidos sob a perspectiva do teatro e a de outra área que venha a complementar uma visão para além do teatro, ambas sob o viés feminino. Para tanto, foram convidadas artistas, jornalistas, gestoras e pesquisadoras para discorrerem sobre temas como Mulher e Guerrilha, Mulher e Resistência e Mulher, Realidade e Poética. A oficina Exercícios da Contracena será ministrada pela diretora Georgette Fadel.

Em fevereiro o Núcleo Artérias de dança apresenta Bananas 15, dirigido por Adriana Grechi. A companhia de dança investiga, nesse trabalho, a construção de gênero por meio da exploração de imaginários e desejos considerados exclusivamente masculinos. Além das sessões, a diretora ministra uma oficina prática em que os participantes terão a chance de entrar em contato com o processo de criação do espetáculo, experimentando gestos, desejos e comportamentos que inventam corpos considerados masculinos.

A Kiwi Companhia de Teatro, com direção geral de Fernando Kinas, reencena o espetáculo Carne. A peça discute as relações entre patriarcado e capitalismo, mostrando o panorama da opressão de gênero e a situação específica da violência contra as mulheres no Brasil. A oficina As Mulheres e os Silêncios da História será ministrada por Fernanda Azevedo e Maysa Lepique.

A Brava Companhia, com direção de Fábio Resende, elegeu a história de Joana d’Arc para propor uma reflexão sobre objetivos, rumos e preferências, e a postura das pessoas frente às consequências dessas escolhas. No espetáculo A Brava, a saga da heroína francesa é mostrada de forma épica, se valendo de recursos como a música, a interação com o público, e referências da cultura popular e da cultura pop agregadas a situações cênicas que exploram o drama e um humor anárquico, para construir paralelos com os dias de hoje. Voltada exclusivamente às mulheres, o grupo ministrará a oficina A Mulher na Sociedade que tem por objetivo a análise crítica de determinados aspectos da vida social, e a transformação disso, por meio da linguagem teatral, em material cênico.

A peça Engravidei, Pari Cavalos e Aprendi a Voar Sem Asas!, da Cia Os Crespos, fará quatro apresentações no projeto. Em cena, a privacidade de cinco mulheres negras é flagrada quando expõem suas trajetórias afetivas, permitindo ao público entrar em seus respectivos cotidianos. Elas tentam enxergar e modificar seus destinos, como lagartas aprendendo a voar, revelando seus medos, dores, amores e sonhos.

O teatro infanto juvenil terá vez e voz por meio de Oju Orum, do Coletivo Quizumba. Com direção de Johana Albuquerque e dramaturgia de Tadeu Renato, o espetáculo parte do mito da negra Anastácia, para apresentar a história de quatro mulheres, em espaços e tempos distintos e simultâneos. Suas narrativas expõem, simbolicamente, os discursos de poder que estão por trás da construção de gêneros.

No Dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, haverá um debate com Fernanda Azevedo, da Kiwi Companhia de Teatro, e Amelinha Teles, com mediação da diretora e atriz Lucia Romano.

Acesse a programação completa aqui.

[Foto por Elisa Mendes. Divulgação do espetáculo Guerrilheiras ou Para a Terra não há Desaparecidos, que abre o projeto hoje.]