Artistas e profissionais da cultura retomam a campanha #ficaminc

Com a aprovação do processo de impeachment e afastamento da presidenta da República, Dilma Rousseff, pelo Senado Federal anunciada nesta manhã, após mais de 20 horas de votação, vários artistas e outros profissionais da cultura compartilharam a hashtag #ficaminc, em referência à possibilidade de extinção do Ministério da Cultura (MinC).

Desde a aprovação do processo de impeachment pelo Congresso, no dia 17 de abril, o vice-presidente Michel Temer tem discutido a possibilidade de reduzir o número de ministérios dos atuais 32 para 25. Quanto ao Ministério da Cultura, há rumores de que seria fundido com a pasta de Educação.

Isso já aconteceu entre 1953 e 1985. Naquele ano, o Ministério ganhou autonomia, durante o governo Sarney, quando também entrou em vigor a Lei Rouanet. Em 1990, o então presidente Fernando Collor transforma o Ministério em Secretaria da Cultura, diretamente ligada à Presidência da República, situação que se manteve por pouco tempo, até 1992, quando o MinC volta a existir com a Lei 8.490.

A campanha #ficaminc começou a se difundir no final de agosto do ano passado, quando o governo Dilma cogitava uma ampla reforma ministerial. Mas, desde o anúncio da votação do processo de impeachment, a reintegração da pasta de Cultura ao Ministério da Educação vem se tornando uma possibilidade cada vez mais concreta, e com a decisão do Senado desta manhã, os compartilhamentos da hashtag se intensificaram, assim como do abaixo-assinado pela manutenção do MinC.

Vários profissionais da área têm se manifestado sobre o tema. O diretor da SP Cine e ex-secretário adjunto da Cultura da cidade de São Paulo, Alfredo Manevy, em postagem no facebook ontem, falou do caráter político dessa possível decisão: “Cortar Ministérios pouco contribui para as contas públicas, muitos estudos já apontam. O corte é mero aceno ideológico, não será um ato em beneficio da saúde econômica de governo… e em se tratando do Ministério da Cultura, cujo orçamento é pequeno, o impacto na finanças é irrisório. É ato de natureza política. Além disso, o setor cultural foi um dos primeiros a denunciar o enorme desprezo pelo voto e pela democracia que marcou esse processo de impeachment de Dilma, e mais importante, reuniu milhares de pessoas, não apenas simpatizantes ao governo, mas artistas que se manifestaram pela defesa da democracia e contra os arbítrios de Eduardo Cunha”.

O ator e músico Alexandre Nero argumentou: “Acabar com a cultura é o pensamento puramente racional do homem médio que desmerece tudo e qualquer coisa que não envolva alto retorno financeiro. É o capital selvagem e predatório que esmaga tudo e todos que não representem cifrões”.

[Foto: Elisabete Alves]