Diagnóstico otimista | Optimistic diagnosis

Airton Tomazzoni é Professor do curso de Pedagogia da Dança/ Uergs-Fundarte e mestrando do Programa de Pós-graduação em Comunicação, da Unisinos.

Sintomas. Normalmente esta categoria de signos permite que o corpo dê sinais de como ele anda funcionando. E, no momento de tentar fazer um sintético panorama da dança contemporânea no Rio Grande do Sul, é oportuno conferir alguns sintomas que hoje permitem verificar os sinais vitais dos caminhos da produção e pesquisa e arriscar um diagnóstico animador do contexto atual.

Uma breve retrospectiva na trajetória da dança contemporânea gaúcha vai inevitavelmente se deparar com uma realidade árdua. Por um lado, a inexistência de políticas para a manutenção de grupos e companhias _ salvo a bem-vinda exceção da Companhia Municipal de Caxias do Sul. De outro, uma pesquisa que sobreviveu pelo esforço independente de investigadores sem apoio institucional. Há ainda algumas iniciativas públicas importantes na última década que, infelizmente, não tiveram a devida continuidade: a experiência exitosa do Centro de Formatividade em Dança e dos saudáveis e saudosos festivais Conesul Dança e Usina Dança, que conectaram a capital gaúcha com a produção contemporânea nacional e internacional. Quem se deparasse com tais sintomas poderia acreditar que os sinais vitais do paciente estavam comprometidos. Mas, apesar dos males, a dança contemporânea gaúcha vem sobrevivendo bravamente e, em 2003, vem apresentando indícios de que o quadro tende a mudar.

Se por um lado Porto Alegre perdeu dois dos seus importantes eventos, por outro o Porto Alegre Em Cena _ festival de artes cênicas que chegou à sua décima edição_ dedicou pela primeira vez um terço da sua programação à dança contemporânea. E tal o reconhecimento fez com que, inclusive, o espetáculo de abertura não fosse assinado por nenhum diretor teatral, mas pelo coreógrafo Cisco Aznar, de Barcelona, com sua montagem de Lola la loca. Ainda na programação, que movimentou as duas semanas finais de setembro, uma diversidade de linguagens foram contempladas num painel que trouxe ao palco o trabalho da Cia Fleur de Peau, com Denise Namura e Michel Bugdahn, em Un ange, passe, passe. Da cena nacional o público pôde conferir obras da Verve Cia de Dança (PR), do Cena 11 (SC), da Cia Nova Dança (SP), além da bailarina e coreógrafa Marta Soares, que apresentado O homem de jasmim. A cena local foi representada pela Terpsí Teatro de Dança e o recém-formado grupo Gentependurada.

Um pouco antes, pudemos contar com a terceira edição do CONDANÇA, que neste ano trouxe uma programação que optou, como no ano passado, por uma reflexão conseqüente e se firmou como um espaço essencial para o trabalho científico comprometido com a sistematização e circulação de informação. Ao lado disso, a formação acadêmica. Depois da formação da primeira turma do curso de dança da UNICRUZ, em Cruz Alta, passou a funcionar em Montenegro o primeiro curso público de graduação em dança, na Uergs/Fundarte. Também estamos vendo a segunda turma do curso de pós-graduação em dança, na PUC. Ao mesmo tempo, ainda que de maneira ainda tímida, o Fumproarte, da Secretaria Municipal da Cultura vem permitindo com que grupos e companhias possam realizar suas montagens com um nível de produção profissional. Nos últimos meses, financiou tanto trabalhos de jovens coreógrafas como Eduardo Severino, Tatiana Rosa e Heloísa Gravina, quanto de companhias como a Terpsí, que comemora seus 15 anos de atividades com um projeto no Centro Cultural Usina do Gasômetro, envolvendo a produção de dois espetáculos E la na no va e 15 valsas de 15, bem como palestras, mostras de vídeo e workshops.

Estes poucos mas determinantes sintomas começam a constituir um ambiente diferenciado que vem ao encontro de uma contínua produção de companhias que atuam há muitos anos como a Muovere, Phoenix e Ânima e outras que vêm se constituindo no meio deste novo contexto. Tais sintomas, se ainda não são suficientes para garantir uma longa e profícua existência à dança contemporânea gaúcha, permite vislumbrar que as condições são finalmente favoráveis a uma consolidação de criadores/pesquisadores da dança no Estado.Translated by Sarah Hyde.

Airton Tomazzoni is Professor of Dance Pedagogy/ Uergs-Fundarte and a master’s student at the Unisinos post-graduate Communications Program.

Symptoms. Normally this category of signs allows the body to give us signals as to how it is functioning. At the moment that we try to make a synthetic panorama of contemporary dance in Rio Grande do Sul, it is important to check for certain symptoms that today allow us to verify the vital signs of the production and research processes and to risk an encouraging diagnosis of the current situation.

A brief retrospective in the trajectory of contemporary dance in the region will inevitably recall an arduous reality. On one hand, the inexistence of policies for the maintenance of groups and companies except for the welcomed Companhia Municipal de Caxias do Sul. On the other, a research study that survived due to the independent efforts of investigators who had no institutional support. In addition, there is still the peculiarity of the important public initiatives of the past decade that unfortunately did not enjoy their deserved continuity like the successful experience of the Centro de Formatividade em Dança (Dance Training Center) and the healthy and deeply missed Conesul Dança (Conesul Dance) and Usina Dança (Mill Dance) Festivals that connected the Rio Grande do Sul capital to the latest national and international contemporary production

Those who run across such symptoms could believe that the patient’s vital signs were failing. However, in spite of the hardships, contemporary dance from the region is ferociously surviving. In 2003, there are signs that the picture is beginning to change.

Even though Porto Alegre lost two of its most important events (mentioned in the paragraph above), the scenic arts festival Porto Alegre Em Cena (Porto Alegre on the Stage), now in its 10th edition, dedicated 1/3 of its programming to contemporary dance for the first time. In recognition of the highlighted dance genre, the opening performance was not put together by a theatric director, but rather by choreographer Cisco Aznar of Barcelona with his creation, Lola la loca. Also in the programming, which took place during the last two weeks of September, was a range of styles, including the work of Cia Fleur de Peau, with Denise Namura and Michel Bugdahn in Un ange, passe, passe. On the national scene, the public can see the works of Verve Cia de Dança (Paraná), of Cena 11 (Santa Catarina) and of Cia Nova Dança (São Paulo), in addition to the dancer and choreographer Marta Soares, who presented O Homem de Jasmim. The Terpsí Teatro de Dança and the recently formed group, Gentependurada, represented the local scene.

Earlier this year, the third edition of CONDANÇA took place. It brought a program that opted, as in the previous year, for a consequential reflection. CONDANÇA confirmed its role as an essential space for the consolidation of scientific work committed to the systematization and circulation of information, and in this context, academic training received a reinforcement. After the first class of the Cruz Alta UNICRUZ dance course graduated, the course began offering classes in Montenegro, including the first public graduation course in dance at Uergs/Fundarte. In addition, the second class of the post-graduate course at PUC is close to graduating.

At the same time and with a certain degree of timidity, Fumproarte, an organization created by the Municipal Culture Secretary, is permitting groups and companies to organize their montages on a professional production level. During the past few months, the organization has financed the work of young choreographers such as Eduardo Severino, Tatiana Rosa and Heloísa Gravina. The dance company Terpsí celebrates 15 years of activity with a project at the Centro Cultural Usina do Gasômetro (Gasometer Plant Cultural Center), which involves the production of two performances, entitled E la na no va and 15 valsas de 15, in addition to lectures, video presentations and workshops.

These few but determinant symptoms start to construct a unique environment for the continuous production of companies that have been performing for many years, such as Muovere, Phoenix and Ânima, as well as others that are beginning to construct themselves within this new context. If such symptoms are still not enough to guarantee a long and profitable existence for contemporary dance in Rio Grande do Sul, it at least allows us to surmise that the conditions are finally favorable for a consolidation of the dance creators/researchers in the state.