Dilatando a atuação e criando parcerias | Dilating the action and creating partnership

A Casa Hoffmann (Centro de Estudos do Movimento) investe em 2005 na idéia de integração e expansão na sua atuação. Até o presente ano, a Casa Hoffmann, em seus dois anos de existência, teve como metas o estudo e experiência da pesquisa em dança e da performance. Para isso, teve em seu programa professores/artistas pesquisadores de todo mundo e contou com a presença de alunos bolsistas que, além da experiência nos cursos, produziram pesquisas e experimentaram o universo da performance.

Mas isso não bastou para que esse pensamento dialogasse de maneira mais efetiva com as demais esferas da dança em nossa cidade e com a comunidade em geral. E hoje, após esses dois anos de implantação, o Centro de Estudos do Movimento (Casa Hoffmann) começa a operar de um jeito um pouco diferente, já se podendo vislumbrar um outro modo de organização, que preza pela expansão dos relacionamentos. Relacionamentos que contemplam, além de artistas, também outras esferas de pesquisadores, e que desenvolvem pesquisa com mais profundidade, para que o próprio pensamento de criação e pesquisa que vem se implantando possa estabelecer relações com outros conhecimentos e realidades já existentes em Curitiba.
Para isso, a Fundação Cultural de Curitiba, pela primeira vez em sua história, cria uma Coordenação de dança, sediada na própria Casa e representada por Marila Velloso, que agora media os principais assuntos de dança em nossa cidade e é curadora da Casa Hoffmann. E entre tantas mediações, a Casa Hoffmann, um pouco diferente da idéia de centro gerador e centralizador de conhecimento, se apresenta como mais um centro, não menos importante, que integra a rede de dança que pretende acionar e articular realidades artísticas por hora tão distantes, como a dos grupos independentes, das academias, da Faculdade de Artes do Paraná, dos espaços de dança, do Centro Cultural Teatro Guaíra, da Secretaria de Esporte e Lazer e também das regionais da prefeitura.

Integrar, democratizar e ampliar relações: eis alguns dos pensamentos, entre tantos outros, da Coordenação de Dança de Curitiba. Em conversa com Marila Velloso, nota-se a sua preocupação para que a casa Hoffmann, como centro de pesquisa e criação do movimento, possa produzir conhecimento, mas também gerar os meios de ampliar as relações de continuidade desse conhecimento, e essencialmente gerar os modos para seu acesso.

E como integrar a dança em uma cidade tão diversa como Curitiba? Como pulverizar a atuação da Casa Hoffmann? Uma das possibilidades é perceber essa diversidade, é promover o encontro entre as diversas áreas e lugares e colocar para conviverem as múltiplas realidades e interesses de dança. E para isso, em 2005, primeiramente foi preciso reconhecer, traçar um mapa da cidade, conhecer o que existe e principalmente diagnosticar o que “não existe” no múltiplo universo do movimento curitibano. Foi preciso sair um pouco dos lugares mais conhecidos institucionalmente e criar um movimento em ambientes que por vezes se faziam escondidos e até esquecidos, que, obviamente, apresentam diferentes interesses, tipos de formação e informação, outros entendimentos de dança e experiências de vida. Está se falando da periferia: dos vários e populosos centros da cidade de Curitiba, espalhados por todos os cantos, onde as condições mínimas de existência muitas vezes inexistem. Lugares nos quais nem a luz nem o asfalto chegaram, mas a dança está presente e possui, mesmo com lacunas e dificuldades, seus jeitos específicos e fortes de organização. Está se falando das nove regionais da cidade de Curitiba: Boa Vista, Boqueirão, Bairro Novo, Fazendinha, Santa Felicidade, Matriz, Pinheirinho, Cajuru e CIC. As regionais, no decorrer do processo, foram contempladas por dois programas, o “Dança Solidária” e o “Dança quem quer” e também com um edital chamado Artes na cidade. Os dois programas citados surgem como estratégia criativa para reconhecer e conhecer as regionais, e, sem pretensão de ensinar ou domesticar, se nutrem da troca de experiências e se abrem para a possibilidade de encontrar nesses lugares bolsistas para os Workshops da Casa Hoffmann, ou seja, alunos replicadores e também criadores de informação.

Já o edital, que fará a arte circular nessas regionais, passa a existir como “ação colada” no pensamento de descentralização e mais uma vez de intercâmbio de informações. E aqui tomo as palavras de Marila, para esclarecer que “toda periferia é um centro e todo o centro é uma periferia”. Assim, pensar em descentralizar é enxergar mais centros e principalmente a conexão entre esses centros que, através de ações continuadas, possam estar formando rede com os demais. E por que falar de tudo isso? Quem sabe para dizer que a prática de conhecer e mapear as regionais, de maneira mais ou menos direta, ampliou as relações de atuação da Casa Hoffmann. Tudo isso, de certa forma, e portanto, esclarece que pulverizar as informações é perceber um todo – Curitiba – que religa o que está disjunto.

E para tudo isso, é preciso abrir-se e olhar com atenção para o que pode conversar com o que é produzido e experimentado na Casa Hoffmann. É necessário fazer parcerias, aprender a trabalhar em conjunto, provocar a multiplicidade de idéias e ações. Parcerias e trabalho colaborativo, eis o que em 2005 começa a aparecer como prática consistente nessa nova organização. Primeiro, junto com a Faculdade de Artes do Paraná, em agosto, a Casa promoveu a Mostra de Dança, que, como evento de ensino, pesquisa e extensão, integrou e mobilizou alunos, professores e comunidade de arte, além de apresentar trabalhos artísticos e científicos, refletir e discutir questões referentes à dança, como pesquisa, política pública e curadoria. Todos esses pensamentos e idéias foram aprofundados no Workshop “A dança como anticorpos para categoria tradicional de corpo”, e na conversa sobre curadoria, com Christine Greiner, no mês de agosto.

E por falar em parcerias…
Fabiana Britto esteve na Casa dando uma ampliada nos sentidos de parceria e, no Workshop “Ensaio em estudo”, leva esse conceito mais para o universo da colaboração na criação. Suas idéias vão poder ser revistas no trabalho da Impure Company Hooman Sharifi, pois a Fundação Cultural de Curitiba e a Platô Produções, em parceria com o Centro Cultural Teatro Guaíra, trazem essa importante companhia norueguesa de dança contemporânea para Curitiba. E a proposta é, além de entrar em contato com a aula de Hooman, ter acesso a suas obras e tempo para discussão sobre o seu processo e sobre a idéia de colaboração em dança. E isso tudo acontece entre os dias, na Casa Hoffmann e no Guairinha. Os trabalhos apresentados serão o solo We failed to hold this reality in mind e o trio Hopefully someone will carry out great venglance on me.

A colaboração em processos criativos é uma das idéias principais para curadoria da Casa para os próximos meses, e até o fim do ano, muita coisa nesse sentido ainda vai acontecer, dando continuidade às experiências voltadas para os estudos de consciência corporal, dança contemporânea e criação. De 28 a 31 de outubro, Ainhoa Vidal, pesquisadora e criadora no CEM (Centro de Movimento), em Lisboa, estará na Casa para compartilhar seus conhecimentos em dois workshops: “Composição-dança: presenças em investigação” e “Hands on-in”(baseado na metodologia Danis Bois e fasciaterapia). De 05 a 12 de novembro, Mark Taylor, coreógrafo, professor e terapeuta na School for Body-Mind Centering, tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha, traz para a Casa três workshops: “Voltando para a Casa do Corpo: workshop intensivo de Body-Mind Centering”, “Dança Contemporânea-BMC” e “Workshop de Criação”.

Navegar é preciso! O futuro para a Casa em 2006 já se desenha. No entanto, a curadoria acredita que futuro se faz com passado e presente e por isso, investe na continuidade também dos projetos iniciados anteriormente. E exemplo disso é o “Ciclo de Ações Performáticas em trânsito”, um evento que se realiza no último domingo de cada mês e é promovido em parceria com os ex-bolsistas que pretendem continuar as suas investigações performáticas e estender a discussão à comunidade.

* Gladis Tridapalli é artista e pesquisadora da dança contemporânea. Professora do curso de dança da Faculdade de Artes do Paraná. Especialista em “Dança Cênica” pela UDESC. Mestranda em dança pela UFBA. Orientadora de pesquisa do CEM- Casa Hoffmann.————- under construction ————-