Festival ES de Dança: a retomada de um movimento
Com a apresentação, na noite de domingo (10/07), do espetáculo Céu na boca, da Quasar Cia. de Dança (GO), chegou ao fim a 1ª edição do Festival ES de Dança, em Vitória. A programação que movimentou a capital capixaba durante quatro dias teve espetáculos locais e de outros estados brasileiros, oficinas e debates. Ele representou mais um passo na retomada de uma movimentação no cenário da dança profissional no estado iniciado em setembro de 2010 com a realização do Fórum de Dança do ES. O idança esteve em Vitória e acompanhou a programação do festival a convite da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), organizadora do evento.
O ponto alto do festival foram os debates, que percorreram temas como criação, consumo de arte no Brasil e sustentabilidade, passando por questões relacionadas à formação e mercado de trabalho para quem vive da dança. A mesa Espaços da dança: olhares sobre a articulação criativa das companhias de dança do Brasil, que teve a participação de Suely Machado (Primeiro Ato Cia. de Dança, MG), Denize Marques (Cia. Somos Dez, ES) e Vera Bicalho (Quasar Cia. de Dança), foi a que despertou maior interação com o público e mostrou que a dança capixaba ainda tem um difícil caminho a percorrer no que diz respeito à sustentabilidade.
Suely e Vera falaram de suas experiências em gerir companhias, ora com patrocínio, ora sem. “Eu parei de dançar para me dedicar à parte administrativa. A gente tem que brigar muito para manter o grupo, já vi muitos se desmembrarem por falta de dinheiro. É preciso ter um foco, saber onde se quer chegar e lutar por aquilo. Mas ainda somos muito jovens na luta por políticas públicas, o movimento articulado de dança é muito recente”, afirmou Vera.
Suely reafirmou a importância do diálogo para alcançar os objetivos da classe. “Temos que nos unir, conversar e saber o que reivindicar. Há diferenças entre estados, mas antes temos que nos fazer vivos e presentes. O problema da sustentabilidade começa na falta de articulação política”, enfatizou.
Os debates tiveram início na quinta-feira (7/07), com a mesa O significado social da dança no século XXI, com Armando Aurich (ES), Sonia Sobral (SP) e Vera Sala (SP) – clique aqui para saber como foi. E na sexta-feira (8/07), Alejandro Ahmed (SC), Paulo Fernandes (ES) e a professora Aissa Guimarães (ES) falaram sobre A dança e as novas linguagens: convergências. Este encontro abordou vários aspectos da questão da criação, passando pelas definições de linguagem, corpo, dança, arte e entretenimento. “A pesquisa é vital na dança contemporânea. Mas precisamos trabalhar com uma possível frustração, o que experimentamos pode não dar certo. Às vezes caímos em armadilhas para chegar a algo novo, pulamos algumas etapas da pesquisa”, refletiu Ahmed. “No Cena 11, nós e a plateia somos a mesma coisa. Trabalhamos com o público como uma ideia de extensão do nosso corpo. Se vamos agradar ou não, nós não sabemos”, completou.
“A dança capixaba alterna momentos bons e ruins. O festival foi ótimo para iniciar uma comunicação maior com artistas locais e de fora. Minha expectativa a partir de agora é boa, temos que nos unir para reivindicar conquistas políticas, faltam espaços de apresentação”, analisou o bailarino capixaba Jordan Fernandes, integrante da Homem Cia. de Dança e que marcou presença nas discussões e também na oficina dada por Vera Sala durante três dias.
A 1ª edição do Festival ES de Dança prestou homenagem a Angel Vianna. Infelizmente, a coreógrafa não pode estar presente por questões de saúde. O público ficou conhecendo melhor a trajetória da mestra através de um minidocumentário que foi exibido. Na mesma noite o Grupo Cena 11 Cia. de Dança (SC) apresentou Embodied voodoo game. Além das companhias convidadas de outros estados, o festival abriu um bom espaço à produção local, reservando três programas para as companhias capixabas.
“É um momento importante para a dança do estado, uma movimentação que foi retomada em setembro com a realização do Fórum de Dança do ES, com uma programação de oficinas, debates e grupos de trabalho. Há 10 anos que nenhuma ação como essa era realizada. O importante agora são os desdobramentos do festival, que linhas de ação poderemos seguir a partir do que foi discutido aqui”, afirmou o subsecretário de Cultura do Estado, Erlon Paschoal.
O festival foi importante pois abriu um canal de comunicação entre os próprios artistas capixabas. E também levou informação do que vem sendo produzido fora das fronteiras do estado, o que pode – e deve – render frutos futuramente.
A foto em destaque é da apresentação de Quebra-cabeça, um sucesso entre adultos e pequenos no domingo de manhã, no Parque Pedra da Cebola.
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