Final que é um bom começo | Finals that are a good start

Trabalhos finais? Conclusão de tudo? Não. Impossível. Início? Continuidade…

Três noites, seis artistas, oito trabalhos de um semestre de intenso aprendizado, experimentação e processo. Novas e velhas considerações, idéias diversas, múltiplas e simultâneas, diferenças de toda ordem e desordem, de idioma, de busca e inquietação. Divergência, complemento, instabilidade. Diálogo!

Com tom de depoimento pessoal, a Mostra Tudo, mostra de trabalhos “finais” dos bolsistas da Casa Hoffmann, apresentou seus artistas e, indiscutivelmente, junto com esses trabalhos, a Casa deu alguns passos a mais na sua proposta inovadora no que se refere às reflexões sobre o corpo e a criação na contemporaneidade. Tais trabalhos revelam a existência de um ambiente que inegavelmente é gerado/gerador de um outro pensamento para a dança e a arte curitibana. Não foram poucos os artistas, teóricos e professores do Brasil e do mundo que aqui estiveram, assim como também não foi menor o número de estudantes e artistas que tiveram a oportunidade de dialogar com esse “caldeirão” de idéias e acontecimentos promovidos pela Casa.

Por meio de eventos diversos, debates e workshops relacionados à pesquisa de novas linguagens, a Casa Hoffmann vai confirmando seu caráter transdisciplinar e aberto, e, nesse semestre de 2004, continua a alimentar uma rede relacional de informações que contaminou os artistas e a comunidade desde o inicio das suas atividades em 2003. A Mostra Tudo é tudo isso. São rastros, vestígios de todos que passaram, levaram e deixaram marcas, de todos que aqui contribuíram, direta e indiretamente, nos fazeres artísticos de Elisabete Finger, Givaneide Bezerra, Gustavo Bitencourt, Juliana Adur, Maria Clara Bordini e Ricardo Marinelli.

Com mais ou menos intensidade, a criação de novos espaços – bem mais que lugares –, o engajamento com o público e o tom biográfico foram tônicas que notavelmente apareceram e permearam todos os trabalhos apresentados. São presenças que podem ser compreendidas a partir da visita de nomes como John Jasperse, Anna MacRae e Willi Dorner, Tere O’Connor, Dani Lima e, claro, tantos outros que “habitaram” a Casa e contaminaram bolsistas e demais artistas com suas idéias e práticas de “pulverização espacial”, busca pessoal de criação e comprometimento com o espectador – não com o sentido de agradá-lo, mas sim com o intuito de fazê-lo construir e completar experiências. Foi assim que o público curitibano foi capturado nessas três frias noites de apresentações. Nos dias 23, 24 e 25 de julho, nas dependências da Casa Hoffmann e também fora dela, o público foi envolvido como alguém convidado a participar, a não só retirar, mas também a colocar sentido nas obras apresentadas, a apalpar com os olhos, saborear com a pele, e também (por que não?), a mudar o curso dos acontecimentos.

Em trabalhos como Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui, de Ricardo Marinelli, Poser, de Gustavo Bitencourt e Frases, de Elisabete Finger, a abertura dada ao público para ressignificar sentidos e completar a obra é fortemente visível e está intimamente associada a outras características que unem esses trabalhos: escolha clara da proposta, questões biográficas que ultrapassam o particular e a instalação da dúvida da representação. Não é palco, não tem figurino, maquiagem, pose para começar ou terminar a apresentação. Há conversa com o público, pedidos, risadas. Seres humanos, cotidianos, que estão ali propondo coisas, sem escaparem de si mesmos.

Com a instalação – Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui – feita fora das salas da Casa e para além do seu público habitual, Ricardo vende sua arte, dança para quem paga seus movimentos ou mostra vídeo sobre sua história pessoal e principalmente seus nus. A escolha é feita pelo público, que coloca os níqueis em pratos no chão. Além da antiga e ao mesmo tempo tão presente reflexão sobre a arte e o seu valor de mercado, a performance instaura um clima “de vamos ver o que vai acontecer” e lança a possibilidade do público propor uma ação desde que haja um pagamento por essa escolha. Os limites do dentro e do fora da Casa são borrados. A performance, mesmo que delimitada por fitas isolantes, acaba por estabelecer um território intercambiante, que liga num mesmo cenário a vida do Largo da Ordem – com seus bares, botecos, sons, e pessoas – e o que continua acontecendo dentro da Casa Hoffmann, o lugar que até então era o espaço esperado e institucionalizado para a arte acontecer. Essa desterritorialização faz com que quem está fora queira descobrir o que está acontecendo dentro e quem está dentro continue a sentir o latejar do que está lá fora. A imaginação se instala como um elemento ativo, mesmo que por vezes inconsciente (no caso do público externo à Casa), e se transforma em ação de pessoas, que as faz entrar e sair desse dentro/fora para conferir o que acontece. Ou seja, promove movimento.

Desinstalar a imaginação do seu trono-mente e trazê-la para a ação foi uma das tônicas de Poser. O artista Gustavo Bitencourt, com uma profusão de imagens criadas, consegue destruir a idéia de que o imaginar está lá em cima, só na cabeça, e, de uma maneira brilhante, une na prática o que jamais deveria ter aparecido de maneira segmentada: mentecorpocorpomente. Poser é criado como um poderoso sistema cheio de linhas, texturas e sensações, dando ao público a chance de resolvê-lo. O espectador escuta, lembra, decifra vozes, escreve em papéis suas sensações e por fim mexe no corpo do performer, imagina e monta “esculturas vivas”. De forma bem humorada, o trabalho vai se armando como uma teia complexa de relações que suspende, gradativamente, o público, do início ao fim da performance. Não há como não estar atento a cada nova informação que é incorporada e sabiamente recombinada no trabalho. São imagens provisórias, que ora se formam, ora se desfazem ou se transformam, mas apresentam-se ali, no corpo, inteiro na ação, dilatado em um espaço e tempo que já são outros, alargados, expandidos e diferenciados.

Em Frases, de Elisabete Finger, pode-se ver claramente uma dança pensada a partir de contextos irrigados por informações plurais. A maneira como o espaço é detalhadamente produzido, criando uma estrutura capaz de englobar e misturar materiais diferentes, mostra que a dança contemporânea pode achar o seu lugar no trânsito das linguagens. Um lugar autoral, capaz de inserir, também nesse diálogo, o depoimento pessoal e as experiências particulares da artista. Elisabete vai trabalhando minuciosamente com os elementos e num dado momento – muito bem escolhido – apresenta o que ela tem de mais particular e especial, uma caixa com objetos que carregam a sua vida, que já não são mais só suas experiências, mas já são também do público que, até esse momento, juntamente com ela, transitava entre os espaços e sentia a obra bem de perto. O ambiente fora criado para que essas experiências particulares realmente estabelecessem relações com o restante do trabalho e se fizessem comunicar. Percebe-se, portanto, uma eficácia de combinação que provavelmente foi conseguida através de experimentos consistentes de investigação, pois se nota que esse – antes da pesquisa – (o chamado processo) está lá, latejando durante a apresentação da obra. E, sem medo de arriscar, parece que o outro trabalho da artista, Construção para movimento concreto, apresentado também durante a Mostra Tudo, é um dos experimentos que fizeram parte das referências para que se estabelecesse esse diálogo tão bem realizado em Frases.

Nesse mesmo caminho em que se percebem rastros de processo na cena, encontra-se o segundo trabalho de Ricardo Marinelli, Pelo a menos no país das maravilhas. O trabalho se inicia com um depoimento pessoal que, nos primeiros instantes, parece cair em uma narrativa quase enfadonha, linear, e até preenchida com seqüências de movimento aparentemente feitas a priori ao tema. No entanto, sem tirar o público do lugar, as combinações entre os elementos que Ricardo defende em sua busca artística são fortíssimas e transformam, complexificam as novas realidades criadas e intensificam as sensações. E o próprio início do trabalho ganha mais razão de existir e estar ali. Pelo a menos no país das maravilhas, portanto, navega em pólos diversos de sensações, o que faz o público vislumbrar as infinitas matizes do sentimento humano. Há cuidado nas escolhas, nas relações entre essas escolhas e em como tudo isso pode alterar o estado dos espectadores, sem necessariamente ter que tirá-los (ao menos externamente) da posição passiva. O trabalho, sem dúvida, apresenta-se num estado de amadurecimento, sempre aberto a novas informações que possam vir a reformulá-lo.

A consistência e a comunicabilidade de que se falou até aqui já não apareceram de forma tão eficaz no Identidade pessoal, de Givaneide Bezerra, no Tododia (fragmento) de Juliana Adur, e em Onde?, de Maria Clara. De maneira diferenciada, os respectivos trabalhos ficaram no meio do caminho, o que não significa fragilidade absoluta, porém carência de uma maior solidez nas propostas. Em Identidade pessoal, as questões biográficas ficaram encerradas em si mesmas, não ultrapassaram esse terreno do individual e não se universalizaram em quase nenhum momento, não produziram novos sentidos, o que talvez se dê pela ausência de clareza na escolha da proposta, de uma clareza do que se deseja colocar no mundo e que vá além da experiência pessoal. Enfim, é necessário, a partir da recriação estética, fazer o universo íntimo do artista ser compartilhado e também experimentado pelo seu público. Há, sem dúvida, como momento alto do trabalho, o corpo que brota de dentro de uma mala de viagens, um corpo cheio de simbologias ligadas à idéia de passagem, de viagem em que se carrega o corpo, ou ainda de bagagens metafóricas e abstratas das quais todo ser humano é feito. Mas essa poderosa simbologia que poderia ser desenvolvida, se perde na continuidade do trabalho.

Em Tododia (fragmento), fica clara a busca pelo diálogo entre teatro e dança; no entanto, ficam ainda inconsistentes os meios como esse trânsito de linguagens foi construído, bem como as escolhas que podem ser feitas para esse trânsito acontecer. A narrativa linear, com início, meio e fim, vai, da mesma forma que em Identidade pessoal, fechando a possibilidade de produção de novos sentidos. Espera-se que algo aconteça, quem sabe um imprevisto, uma inversão, uma mudança de percurso, um acaso que possa abrir para um elemento a fim de desestabilizar a ordem tão definida e já óbvia. Tratar da obviedade do cotidiano não significa fazer de modo óbvio. O texto gravado em off e ouvido quase que ininterruptamente, com o passar do tempo de performance, encurta as possibilidades de novos olhares sobre um – todo dia – sem abrir para uma releitura criativa que dê outra ênfase para o que venha a ser a repetição e o caótico tão presente na vida e no dia-a-dia. O texto muitas vezes explica o movimento, sufocando as possibilidades corporais de uma artista brilhante como Juliana Adur, que tem tudo para ir além. O texto aprisiona, não permitindo que o seu foco de investigação apareça no corpo.

Onde?, de Maria Clara Bordini, é um trabalho que está se preparando para ser, é literalmente um vir a ser cheio de promessas, está num processo de digestão de idéias. Está num quase lá, um pouquinho antes daquele lugar onde o pretenso tudo aparece. Existem coisas interessantes que podem ser destiladas daqueles movimentos ora lentos e cansados, ora frenéticos de um corpo preso a uma caixa/redoma de papelão. Essa caixa/redoma, ao mesmo tempo prisão e objeto lúdico de interação, deixa entrever fartas possibilidades de enriquecimento da ação e da reflexão através do corpo. Como processo que é, cabe buscar mais informações para aí então focalizar, chegar mais perto, ir a fundo, entender melhor os seus porquês.

Enfim, todos os trabalhos apresentados na Mostra Tudo, com as debilidades e riquezas inerentes a qualquer criação artística (debilidades e riquezas distribuídas em todos os oito trabalhos), só vêm reforçar a necessidade de um espaço como a Casa Hoffmann para o cenário artístico curitibano. É por meio de um espaço assim que artistas-pesquisadores como os seis bolsistas que produziram seus trabalhos para a Mostra Tudo podem compartilhar suas veredas múltiplas e férteis de um aprendizado que caminha sempre ad infinitum. Como a linha do horizonte que se vê ao longe e que ao tentar ser alcançada vai se mostrando sempre distante, o trabalho artístico também se apresenta como uma caminhada contínua, sem um porto seguro em que não se precise mais navegar. Navegar é sempre preciso. E a insatisfação é motor necessário para que não se afundem as possibilidades de enriquecimento estético na poltrona cômoda das fórmulas prontas de trabalho com arte. Uma crítica que se quer responsável e atuante, mais do que procurar assentar todos confortavelmente em suas poltronas, deve apontar sempre trilhas possíveis por onde a caminhada pode prosseguir. E se foram aqui apontadas possibilidades para o amadurecimento dos trabalhos, é porque eles já apresentaram germens de criação que merecem continuidade e sempre pesquisa.

* Gladis Tridapalli: artista e pesquisadora da dança contemporânea. Professora do curso de dança da Faculdade de Artes do Paraná. Especialista em “Dança Cênica” pela UDESC. Mestranda em dança pela UFBA. Orientadora de pesquisa do CEM- Casa Hoffmann.Translation by Fabiana Júlio, Ccaps Translation and Localization.

Final papers? Finish everything? No. Impossible. Beginning? Continuities…

Three nights, six artists, eight projects of an intense semester of learning, experimenting and process. Old and new considerations, many ideas, multiple and simultaneous, differences of all kinds in language, search, inquietude. Diverging, complement, instability. Dialog!

Mostra Tudo shows the final projects of the holders of scholarships of Casa Hoffman using a personal tone. Together with these projects, Mostra Tudo presented its artists and Casa developed a little bit more its innovative proposal in relation to the considerations over the body and the creation of contemporaneity, without a shadow of doubt. Such projects reveal the existence of an environment that is surely created/creator by/of another way of thinking for dance and the art from Curitiba. There have been many artists, theorists and teachers from Brazil and all over the world who have been here. The number of students and artists who had the opportunity to connect with this melting pot of events and ideas promoted by Casa wasn’t small either.

Through many events, debates and workshops related to the research of new languages, Casa Hoffman confirms its open interdisciplinary characteristic and on this semester of 2004, it still caters to a network of information that one can relate to which has infected the artists and the community since the beginning of its activities in 2003. Mostra Tudo is all that. They are remains, traces of everybody who has been there, who either took or left something, of everybody who has contributed directly or indirectly to the artistic dos of Elisabete Finger, Givaneide Bezerra, Gustavo Bitencourt, Juliana Adur, Maria Clara Bordini and Ricardo Marinelli.

Being more or less intense, the creation of new spaces – much more than places-, the interaction with the public and the biographical tone were points that appeared in a remarkable way and pervaded all the presented projects. Those are presences that might be understood as of the visit of people such as John Jasperse, Anna MacRae and Willi Dorner, Tere O’Connor, Dani Lima and, of course, so many others who lived in Casa and infected students and artists with their space pulverization of ideas and actions, personal creation search and a commitment with the spectator – not with the intent of pleasing him/her, but of trying to make him build and complete experiences. That was how the people from Curitiba were caught on these three cold nights of presentations. On the 23rd, 24th and 25th of July, inside and outside Casa Hoffman, the public got involved as someone who is invited to take part, not only to get meaning out of the presentation, but also to put something into it. They were invited to touch with their eyes, taste with their skin and also (why not?) change the course of the events.

In projects such as Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui (I have police permission to be here naked), by Ricardo Marinelli, Poser, by Gustavo Bitencourt and Frases (Sentences), by Elisabete Finger, the public was given the chance of finding new meanings for senses and completing the work. This is greatly visible and is closely associated to other characteristics that gather these projects: clear choice of proposal, biographical questions that go beyond private and the matter of the uncertainty of the representation. It is not a stage, there are no costumes, make-up, pose to begin or end a presentation. There is conversation with the public, requests, laughter. Human beings, every-day life, which are there suggesting things without escaping themselves.

With the Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui installation made outside the rooms of Casa and beyond its usual public, Ricardo sells his art, dances for those who pay for his movements or shows videos about his personal history, and mainly, his nudes. The choice is made by the public who puts “nickels” on plates on the floor. Besides the old and at the same time so present consideration over art and its value on the market, the performance has a “let’s see what’s going to happen” tone and gives the public the chance of “proposing an action”, as long as there is payment for the choice. The limits of what is “inside” and “outside” are blurred. Even though the performance area is limited by scotch tape, in the end you have an exchange activity established. It connects in one scenery Largo da Ordem – with its bars, dumps, sounds and people – and what goes on inside Casa Hoffman, the official place where it was expected art would happen. This unplacement makes those who are outside want to find out what is happening inside and those who are inside go on feeling the on-and-off sensation of what is outside. Imagination is an active element, even if unconscious sometimes (the case of the public outside the house), and becomes people’s actions that make them go inside and outside this in/out to check out what happens. That is, it promotes movement.

Uninstall imagination from its – mind-throne – and bring it to action was one of the points of “Poser”. The artist Gustavo Bitencourt, with a bunch of created images can destroy the idea that imagination is up there, only in the head and, in a brilliant way, unites what should never have been segmented: – mindbodybodymind -. Poser is created as a powerful system full of lines, textures and sensations, giving the public the chance of solving it. The spectator listens, remembers, deciphers voices, writes their sensations on papers and finally moves the performer’s body, imagines and creates living sculptures. In a good-humored fashion, the work builds itself as a complex web of relations that grabs the public gradually from the beginning to the end of the performance. You cannot be distracted from each new information that is caught and wisely recombined into the work. They are temporary images that are either built up, undone or transformed, but present themselves there, in the body, totally in the action, getting bigger in a space and time that are already other, widened, expanded and differentiated.

In Frases (Sentences), by Elisabete Finger, you can clearly see a dance that was thought based on contexts full of information. The way the space is produced in details, which makes a structure capable of involving and mixing different materials, shows that contemporaneous dance can find its place in the language transit. A place by an author, capable of inserting also in this dialog, a personal statement and private experiments of an artist. Elisabete goes on working carefully with the elements and at a certain moment – a very well-chosen one – she presents the most characteristic and special thing she has: a box with objects that carry her life, which are not only her experiences but also the public’s that, so far, has walked through the spaces and felt the work from a very close perspective. The environment was created so that these private experiences really could establish relations with the rest of the work and could communicate. You can notice, then, how efficient the combination was and it was probably got through consistent investigations experiments, because you can notice this before the research (the so called process) is there, on-and-off during the presentation. And fearless to risk, it seems that the other work of the artist – Construção para movimento concreto (Construction for a concrete movement.), also presented during Mostra Tudo, is one of the experiments that was part of the references so that this dialog could be established so well presented in Frases.

On the same way that you notice traces of process in the scene, you can find the second work of Ricardo Marinelli, Pelo a menos no país das maravilhas (At least in Wonderland). The work starts with a personal statement that, at a first glance may seem to be an almost boring, linear narration that seems to be filled with sequences of movement apparently made before the theme. However, without moving the public, the combinations among the elements that Ricardo defends in his artistic quest are very strong and transform, make the “new created realities” more complex and intensify sensations. And the beginning of the work itself is more logically explained. So, Pelo a menos no país das maravilhas sails in poles of different sensations, making the public visualize the so many possibilities of human feelings. There is care when choosing, in the relations between those choices and in how all that can change the spectators’ mood, without necessarily getting them out (at least externally) of a passive position. The work, without a doubt, presents itself in a maturing state, always open to new pieces of information that may arise and restructure it.

The consistence and communicability that have been mentioned so far have not been so efficient in “Identidade pessoal” (Personal Identity), by Givaneide Bezerra, in Tododia (fragmento) (Everyday -fragment-) by Juliana Adur, and in Onde? (Where?), by Maria Clara. In a different way, the respective projects did not make it through, which does not mean absolute frailty, but the need for more solid propositions. In Identidade pessoal, the biographical questions ended up locked within themselves, they didn’t trespass the individual barriers and didn’t globalize in almost any moment, they didn’t produce new meanings, which can be explained for the lack of clarity in the choice of the proposal, of a clarity of what one desires for the world and that goes beyond personal experience. That is, as of the aesthetic creation, it is necessary to make the intimate universe of the artist be shared and also experimented by the public. There is, without a doubt, the high point of the work, the body that springs up from inside a suitcase, a body full of symbols connected to the idea of passage, of a trip that carries the body, or the metaphorical and abstract luggage that every being is made of. But these powerful symbols that could be developed, lose themselves in the work continuity.

In Tododia (fragmento), the quest for a dialog between theatre and dance is clear. However, it is still inconsistent the way this transit of languages was built, as well as the choices that can be made for this transit to take place. The linear narrative with beginning, middle and end closes the possibility to the production of new senses the same way that “Identidade pessoal” does. You expect something to happen, maybe something unpredictable, an inversion, a change of course, a casual event that may open the possibilities to an element that can unbalance the so defined order and also already obvious. Dealing with the obvious everyday life doesn’t mean creating something in an obvious way. The text recorded in off and played almost non-stop as the performance goes on, creates fewer possibilities of new looks on the every day, without giving the chance for a creative new interpretation that gives another emphasis on what turns out to be the repetition and the chaotic, so present in life and in the every-day routine. The text explains the movement many times, which suffocates the body possibilities of a brilliant artist such as Juliana Adur, who is very prominent. The text is imprisoning, it doesn’t let investigation focus on the body.

Onde? by Maria Clara Bordini, is a project that is preparing itself to be. It is literally something full of promises; it is in a process of idea digestion. It is an almost there, a little before that place where the intended everything appears. There are interesting things that can be distilled from those movements sometimes slow and tired, sometimes frantic of a body stuck to a cardboard box/glass bell. This box/glass bell at the same time is a prison and a fun interaction object, lets us see many enriching possibilities of action and reflection through the body. As a process, it is part of its functions to search for more information and then focus, come closer, go deeper and understand its reasons better.

Finally, all the projects presented in Mostra Tudo, with its inherent weaknesses and enriching possibilities to any artistic creation (weaknesses and enriching possibilities distributed throughout the eight projects) only serve as a way to reinforce the need of a space such as Casa Hoffmann for the artistic scenario from Curitiba. It’s through such a space that artist-researchers such as the six scholarship holders who produced their projects for Mostra Tudo can share their multiple and fertile paths of a learning process that always goes ad infinitum. Such as the horizon that we see far ahead and that when we try to reach it, gets farther and farther, the artistic process presents itself as a continuous walk, without a Rock of Gibraltar where you don’t need to sail any longer. Sailing is necessary. And the dissatisfaction is necessary so that the possibilities of aesthetic enrichment don’t drown in the cozy armchair of ready formulas of work with art. A piece of criticism that one wants responsible and effective, more than trying to put everybody cozily seated in their armchairs, must always point at possible tracks one should walk on. And if there were possibilities here for the development of the projects, it is because they have already presented germs of creation that deserve continuity and research.

* Gladis Tridapalli is artist and contemporary dance researcher. Dance teacher of Faculty of Arts of Paraná. Especialist in dance at EDESC and research tutor at CEM-Casa Hoffmann. Master in dance at UFBA.