II Seminário Economia da Dança: informalidade é tema polêmico

Qual é o papel do artista na engrenagem da produção cultural contemporânea? Como formalizar o fazer artístico? Essas foram apenas algumas das perguntas ouvidas durante o II Seminário Internacional Economia da Dança, que aconteceu no início da semana dentro da programação do Festival Panorama de Dança 2009. As respostas ainda não existem concretamente, mas as discussões desses e outros temas avançaram com relação à primeira edição do seminário, realizada em 2008.

Durante os três dias de evento – que aconteceu de segunda à quarta-feira (9 a 11/11), no auditório do Sebrae – Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab), no Centro do Rio – muito se falou sobre os possíveis caminhos a se seguir para estabelecer uma relação entre dança e economia, mas o assunto mais polêmico continua sendo a questão da formalização do fazer artístico. “A formalização é importante, mas temos que pensar num novo meio, com menos impostos. As pessoas não têm dimensão do que é o fazer cultural”, disse a produtora Carla Lobo, que falou sobre sua experiência na área de produção cultural em Belo Horizonte. Ela ressaltou a importância do produtor cultural na realização de um espetáculo para que o artista fique livre para exercitar a sua função: criar. “O produtor cultural deve ser um facilitador das relações entre todas as áreas envolvidas na execução do produto artístico”, completou.

A importância da figura do produtor cultural também apareceu na fala da pesquisadora Ítala Clay, que deu um panorama da produção de dança em Manaus a partir de informações obtidas com cinco artistas/grupos locais. “Um ponto comum citado por todos eles é a falta de profissionais de produção na região. Eles também reclamam da falta de locais de ensaio e das dificuldades de circulação dos espetáculos”, relatou Ítala.

Indo de encontro à questão da formalidade e da importância de haver um profissional para cuidar da produção de um espetáculo, outro tópico importante levantado foi a necessidade de dados relativos ao mercado da cultura, questão que já havia sido abordada no seminário de 2008. “Os números servem para gerar questionamentos, para não ficarmos apenas nos queixando. Os artistas sentem falta desses números”, apontou Ítala, sobre a realidade em Manaus.

Para aclarar um pouco esse espaço recente e nebuloso dos números relativos à cultura no Brasil, o superintendente de Promoções Culturais da Secretaria de Cultura da Bahia, Carlos Paiva, falou sobre o bem sucedido caso da Bahia. A partir de dados do Suplemento de Cultura da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic/2006 ) e de pesquisas setoriais que vêm sendo realizadas pela própria secretaria, o estado pretende desenvolver, até 2010, um programa de economia da cultura, com mecanismos de fomento. “Deve-se tomar cuidado ao analisar os números pois eles misturam diferentes áreas, mas é um começo. E observa-se que há um potencial de crescimento”, avaliou Paiva.

A pesquisadora e crítica de dança Helena Katz (na foto com Christophe Wavelet) também ressaltou a importância do acesso aos dados da área de cultura. Ela chamou atenção, no entanto, para não se prender a uma única ‘economia da dança’. “É possível pensar em várias economias, já que não existe apenas um pensamento econômico. Nós vemos acontecer hoje na dança o que acontece em várias outras áreas. Mas para começar a trabalhar precisamos dos números e de uma certa familiaridade com o discurso econômico. Eles permitirão a construção de um discurso que nos permita ocupar uma posição dentro do contexto”, explanou Helena. Ao fim, ela propôs a execução de uma agenda de tarefas a ser seguida daqui para frente.

A proposta de uma agenda de tarefas foi compartilhada pelo crítico francês Christophe Wavelet. Para ele, é importante inaugurar um novo pensamento artístico já que criação e produção não são independentes. Ele apontou inúmeras semelhanças entre as realidades regionais relatadas no seminário e sua experiência na França. “Há muitos pontos em comum por conta da lógica do capitalismo globalizado. Deve-se levar em consideração os diferentes contextos para se pensar um modo de ação”, aconselhou.

Seminário abordou formas alternativas de sobrevivência artística

A estrutura do seminário este ano dividiu os depoimentos em relatos e alertas, onde cada palestrante aprofundava sua experiência regional. Além de Ítala Clay, também participaram deste momento Marcelo Sena, que falou sobre o Movimento Dança Recife e o Acervo Recordança, Marcelo Evelin, com o Núcleo do Dirceu, Ricardo Marinelli, com sua experiência no coletivo Couve-flor minicomunidade artística mundial, Sacha Witkowski, com o Festival Diagnóstico, e Telma Bonavita, com a experiência do Oxigênio.

Do Ceará, a coreógrafa Valéria Pinheiro apresentou a experiência do Café das Marias, espaço utilizado como ‘quartel-general’ de inúmeros coletivos de dança e música de Fortaleza. No início da parceria, eles praticavam o escambo de serviços. Hoje, o troca-troca evoluiu para a criação do Ubuntu, uma moeda alternativa criada por eles para valorar seu trabalho. “A moeda nasceu de uma necessidade, estávamos com editais atrasados, sem receber há meses. É uma forma de sobrevivência para fazer o que queremos. Acreditamos que o futuro é da economia solidária”, disse Valéria.

“Já não somos tão poucos, temos um caminho andado. Precisamos nos capacitar para novas formas de produção, já existem algumas redes, mas precisamos potencializar isso. O nosso embate com o empreendedorismo passa pelos dados numéricos e nós precisamos continuar administrando essa relação”, comentou o coreógrafo e gestor cultural Marcos Moraes, que coordenou o Seminário Economia da Dança em 2008.

Para dar continuidade aos temas pensados e discutidos nos três dias de evento, os participantes dos grupos de trabalho – realizados à tarde – resolveram usar o blog do seminário como plataforma de discussão. O espaço está aberto à participação de todos, basta clicar aqui.

Discussões e relatos foram transmitidos ao vivo

Numa parceria entre o Festival Panorama, dance-tech.net e o idança, o Seminário Economia da Dança 2009 foi transmitido ao vivo pela dance-techTV. Nos três dias, pessoas de todo o Brasil acompanharam os debates e enviaram perguntas. Em breve, todo o material captado estará disponível no blog do Seminário e no dance-tech.net. A ideia é que outras transmissões ao vivo sejam feitas pelo idança em parceria com o dance-tech.net.

Assista abaixo o vídeo realizado pelo idança em parceria com o Festival Panorama de Dança 2009 e o dance-tech.net.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=dvM7pEF-xGs[/youtube]