Classe paulistana se reúne com Juca Ferreira durante “Existe Diálogo em SP-Dança”

Foi realizado, na noite de terça-feira, 19, o primeiro encontro “Existe Diálogo em SP – Dança”, que reuniu cerca de 180 artistas da dança paulistana com o secretário municipal de cultura de São Paulo, Juca Ferreira.

Criado por Juca, o evento vem reunindo, desde o início do ano, na sala Adoniran Barbosa, do Centro Cultural São Paulo, segmentos da cultura como teatro, hip hop, migrantes, e outros.

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A abertura de escuta e diálogo entre poder público e classe artística, ao mesmo tempo em que é uma conquista de democracia, instaura desafios. O que a classe tem a dizer? Quais os limites desse diálogo?

Ao menos nesse evento, a ação de reclamar daquilo que não anda bem ou de culpar uma ou outra instância pelos problemas existentes, parece ter sido superada pelos artistas. Principalmente os que estão vinculados a movimentos como A Dança se Move, Mobilização Dança, movimentos da cultura negra e da periferia, à Cooperativa Paulista de Dança, ao Conselho da Cidade (Daniel Kairoz é quem representa a dança no Conselho), se colocaram de maneira a propor participação permanente junto à secretaria que, como Juca Ferreira destacou, é formada por um corpo técnico que, em sua maioria, são artistas também.

Para Juca, o encontro tem o objetivo de gerar pautas para ações da secretaria, que são de responsabilidade dos gestores: “O diálogo é complexo. É uma cidade de 12 milhões de pessoas, são muitas as demandas. Pretendemos traduzir, adaptar sonhos, desejos, necessidades para uma possibilidade real de realizar. Por isso que as pautas são fruto do diálogo, mas com uma tradução técnica. O processo participativo é fundamental, mas é preciso a elaboração e construção de procedimentos para que a gente, de fato, transforme em políticas públicas.”.

 

“Fomento não caracteriza política pública”

Essa foi uma das afirmações do secretário ao longo do encontro. Juca diz que o principal impacto que teve ao assumir a secretaria de cultura do município foi constatar a ausência de políticas públicas. “A primeira coisa que me chamou a atenção quando cheguei na secretaria é que ela tem cento e tantos equipamentos culturais, mas não tem políticas. Apesar de ser a maior cidade do Brasil, vou dizer sem medo de errar, é uma das mais atrasadas em termos de políticas culturais. A secretaria é basicamente feita de equipamentos, verdadeiros totens.”, disse o secretário.

Equipamentos, orçamentos e modos de produção foram pautas levantadas pela artista paulistana Vera Sala: “Quando lutamos por verba, penso que é porque a dança não entra no circuito mercadológico. Acho que tudo o que não cai na lógica de reprodução precisa desse suporte. É por isso que discutimos verba pública, para que essas atividades não desapareçam. Mas, mais que orçamento, acredito que é preciso se pensar em modos de produção. E grande parte dos artistas estão usando do compartilhamento com outros artistas como modo de criar. Por isso que espaços permanentes que possibilitem residências e compartilhamentos são importantes.”.

Vera Sala levanta pautas sobre orçamento, modos de produção e programação de dança na cidade. Foto: Sylvia Masini.

Vera Sala propôs a discussão de pautas sobre orçamento, modos de produção e programação de dança na cidade. Foto: Sylvia Masini.

Juca concordou com a importância de se discutir modos de produção em dança. Afirmou que a secretaria de cultura já vem buscando espaços ociosos, alguns públicos, outros privados. “É complicadíssimo, mas queremos tanto para preservar, como para agregar processos criativos. Podíamos marcar uma reunião com o Grupo de Trabalho para conversar não sobre verba, mas sobre o uso de espaços para agregar processos criativos de diversos grupos culturais.”.

Sobre a questão orçamentária, o coordenador de assessoria técnica da secretaria de cultura, Guilherme Varella, informou que o orçamento anual irá aumentar de R$390 milhões para R$450 milhões, em 2014. No entanto, afirma que todo aumento de orçamento implica em estrutura que alcance sua execução. “É legítima a luta, por exemplo, por 2% do orçamento municipal para a cultura, mas a gente precisa ter uma estrutura da secretaria apta a executar esse orçamento. Quando lutamos por orçamento, precisamos brigar pela estruturação institucional da secretaria também, porque senão ficamos querendo dar o passo maior que a perna. Sempre a configuração dessas demandas é o que vai fazer a gente dar o salto.”.

 

Demandas

Foram diversas as demandas colocadas pelos artistas. Envolvem frentes como: Formação; Fomento para criações; Circulação de trabalhos por salas de espetáculos do município; Integração entre centro e periferias; Desburocratização das ações da secretaria; Representatividade da Dança na secretaria; e outras.

Algumas específicas são:

– Criação de um novo programa de fomento para a dança paulistana, proposto pela Cooperativa, que já está sendo avaliada na Câmara Municipal, e que contempla maior diversidade da produção de dança contemporânea da cidade.

– Isenção de ISS para as Cooperativas que representam a classe artística – a secretaria de cultura apoia e já está agindo para efetivá-la.

– Criação de um fomento à dança que contemple danças negras, indígenas, tradicionais étnicas, etc., ou ampliação do fomento já existente.

– Criar parâmetros para tornar mais eficiente a distribuição de valores de cachês entre grupos, companhias artistas locais e de outros estados, e também durante o evento “Virada Cultural”.

– Tornar eficiente o uso das Casas de Cultura, das unidades do Centro Educacional Unificado (CEU), e do Programa Vocacional, que são equipamentos da secretaria municipal de cultura.

– O que se entende por “formação” quando se fala dos equipamentos Vocacional e CEU? Propõe-se que seja reconhecido o caráter de formação de artistas, para além de cidadãos que dançam ou que usam da dança para ampliar sua percepção de mundo.

– Rever a política de programação das salas de espetáculos do município.

– Acesso às produções de dança: tornar mais eficiente a relação entre quem produz e quem assiste.

– Retorno da realização do Encontro Internacional de Contato Improvisação.

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Ao fim do encontro, Sandro Borelli, presidente da Cooperativa Paulista de Profissionais da Dança, escreveu em sua página pessoal do facebook: “(…) Vários companheiros se pronunciaram e fizeram inteligentes questionamentos endereçados ao secretário de cultura, Juca Ferreira. (…) Digo que foi mais um degrau percorrido pela Dança rumo ao amadurecimento político, esse é o caminho. Desde agora proponho ao secretário, para o próximo ano, o EXISTE AÇÃO EM SP.”.

Os artistas se prontificaram a enviar à Secretaria, no prazo de uma semana, nomes dos artistas que irão compor Grupo de Trabalho (GT), que permanecerá em diálogo com Juca.

Quem não acompanhou o encontro, poderá assistir ao vídeo, na íntegra, que será disponibilizado na internet, no fim de novembro, na página “Existe Diálogo em SP”.