Morre o coreógrafo Jorge Schutze em Maceió

Foi registrada na noite de segunda-feira, dia 29, a morte do bailarino, coreógrafo e arte-educador Jorge Schutze. O corpo foi encontrado com suspeita de agressão em sua casa, em Garça Torta, na cidade de Maceió (AL). Segundo dados do Portal G1, os policiais do Batalhão de Polícia de Eventos (BPE), que atenderam o caso, acharam marcas de sangue na parede da casa. Após a perícia do Instituto de Criminalística, o corpo foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) da cidade. A polícia registrou o desaparecimento de objetos pessoais – um notebook, um telefone celular e uma carteira de dinheiro – mas ainda não forneceu à imprensa informações mais concretas sobre o que teria acontecido. Posteriormente, o referido Portal publicou uma nova matéria informando que o IML declarou que a morte teria sido de causa natural, que as marcas encontradas no corpo foram ocasionais e que a testemunha que relatou anteriormente que os objetos foram roubados da casa não compareceu à delegacia para prestar depoimento.

Jorge Schutze nasceu em Marília (SP). Teve aulas com artistas como Klauss Vianna, Eliana Carneiro e Wolney de Assis. Nos anos 1980, junto com outros artistas de diversas áreas, integrou o coletivo B.Céu & Antacheuza, performando em ruas e bares. Nos anos 1990 viveu nos Estados Unidos, onde estudou técnicas como contato-improvisação e release, e trabalhou com artistas como Nadine Helstroffer, David Zambrano e Donald Fleming. Em 2000, mudou-se para o Japão, onde passou dois anos trabalhando com o coreógrafo Min Tanaka, um dos nomes mais emblemáticos do butô. De volta ao Brasil, mudou-se para Maceió, onde criou a Cia. Ltda. em 2006, com a vontade de “ritualizar a relação corpo-ambiente,  a fim de provocar reflexões, compreender-se, compreender o todo e nossa condição”. Era também arte-educador, e nos últimos dois anos ministrava aulas de artes no Instituto Federal de Alagoas (Ifal).

Com profundo teor político, seu trabalho frequentemente era focado na interação com as pessoas e com seu contexto social. A partir do questionamento das interações com as figuras de autoridade, com a perspectiva burocrática, com regras, leis e normas sociais, desenvolveu projetos como Domínio Público, em que propunha modos de criação colaborativa, e Registro Geral, uma plataforma de criação e troca de troca de material bibliográfico, videográfico e documental. Uma de suas mais recentes apresentações foi a intervenção Despacho, durante a Mostra XYZ, em Brasília, ao final do mês passado.

Na ocasião, o jornalista Sérgio Maggio comentou sobre o trabalho: “Jorge Schutze faz uma performance, sobremodo, de dança. Da sua dança de vida, cheia de afetos, que emociona quem assiste de longe. Em seu corpo, expõe o RG de um artista nitidamente afetado pelo o que o circunda. É emocionante vê-lo, como um menino feliz, a brincar com o corpo, que se quebra, se desmorona no chão, se desenrola no asfalto. O empenho para que a sua dança vire a dança a dois, que se estabeleça como um vínculo possível na multidão de solitários. Ao propor essa dança, Jorge Schutze aponta para o vasto mundo que habita em si”.

 

[Editado com correções.]