Céu na boca / Foto: Lu Barcelos

Notações de multiplicidade | Notations of multiplicity

Uma versão preliminar do texto foi publicada  no Jornal Notícias do Dia durante o evento.

Multiplicidade

A quinta edição do Múltipla Dança: Seminário Internacional de Dança Contemporânea, uma realização da Aliança Francesa de Florianópolis, Santa Catarina, ocorreu de 25 a 29 de março de 2010, tendo como participantes aproximadamente 900 pessoas. As organizadoras, Marta Cesar e Jussara Xavier, mais uma vez se desdobraram para colocar em foco uma programação diversa e aguardada pelo público de dança catarinense.

O Múltipla Dança, semelhante à web, pareceu-me ser uma fonte de inúmeras  informações. Mas, as sugestões de rapidez, exatidão, multiplicidade, consistência, leveza, visibilidade, descritas por Ítalo Calvino me ajudaram a traçar um caminho, provocando as notas aqui expressas. Neste caso, a ação de anotar é destacada do saber como modelo, coisa para copiar, imitar. Ela é escritura, não memória; está na produção, diríamos, na criação e não na representação.

Os artistas e os trabalhos da dança catarinense foram o destaque do seminário, indicou a curadora Jussara Xavier: Anderson Gonçalves (1964-2010) foi homenageado; houve o lançamento do livro As metáforas do corpo em cena, de Sandra Meyer, e a estreia do documentário Ballet Desterro: contemporaneidade na dança catarinense, dirigido pela curadora; o Cena 11 compartilhou seu processo criativo com o público por meio de uma ação no palco e de uma conversa no dia seguinte; em ensaios abertos com discussão sobre dramaturgia, grupos e artistas de Florianópolis e Jaraguá do Sul conversaram com as professoras Christine Greiner e Sandra Meyer; foram promovidas atividades em parceria com o projeto Entrando em Contato, desenvolvido por Ana Alonso aqui na cidade; os videodanças de Sarah Ferreira foram exibidos. Outros destaques do seminário incluiram: o diálogo sobre economia da cultura com Ana Carla Reis. A presença da Quasar Cia. de Dança (GO), uma das mais importantes companhias brasileiras. A performance da Companhia Flutuante (SP) no Jivago Lounge, local que enfatizou o interesse do Múltipla em ocupar outros espaços, alcançar novos públicos, enfim, não perder de vista a multiplicidade, foco do encontro desde seu surgimento.

A dança aconteceu novamente na cidade múltipla e variada: muitas danças em contraposição a “uma”. Mas, não se trata de dispersão ilimitada, mas de número: quando a dança que se aprecia é uma e ao mesmo tempo múltipla.  Mas, independentemente da ordem  e da unidade que a dança receba, seja da sensibilidade e do intelecto, o espectador ao se deparar com a multiplicidade  de conhecimento acerca da dança apresentada nas propostas, nos espetáculos, nas oficinas, nos debates e ensaios abertos do Múltipla Dança, sentiu-se desafiado a buscar sentido para tal experiência em todo esse  conteúdo sensível. Neste estado aparentemente desconexo ou bruto, instaura uma experiência estética da dança que convida: aprecie com compreensão.

Instantâneos

No prefácio da obra de João Gilberto Noll: Mínimos, múltiplos, comuns, Wagner Carelli observa a aplicada disciplina desse autor de escrever narrativas completas e de porte incomum: cada relato estava confinado a um máximo de 130 palavras. Noll optou por chamá-los “instantes ficcionais”. Para exemplificar: “Como se chamava a sensação fluida de todo final de tarde? O sopro escorrendo pelo estômago sem desenlace seguro, o que era? Estava sentado  num café, absorto nesse laivo de instante. E isso lhe deixaria aquele sumidouro de lembrança cada vez mais distantes de uma nascente precisa…” Esse fragmento nos impulsiona a indagar como o olhar, o escrever, o mover-se, revelam gestos instantâneos, cujo entrelaçamento forja o vídeo, o livro, e a dança.

Podem nossos olhos interrogar o mundo e, através deles, o mundo apresentar-se a nós? Ballet Desterro: contemporaneidade na dança catarinense, dirigido por Jussara Xavier, registra em voz e imagens a trajetória pioneira de um grupo que, como relata a arguta diretora, realizou experiências inovadoras ao adotar procedimentos criativos diferenciados do padrão e provocar a percepção do público. Identifica em seus espetáculos a articulação inédita de diferentes linguagens e mídias, a simultaneidade de ações na cena, a valorização da singularidade, a experimentação coreográfica, a diversidade de motivações e as tentativas de dirigir a dança às infinitas coisas do mundo. Observa a diretora: “Vale notar que não existia crítica de dança regular em Santa Catarina nesta época; ocasionalmente Janga, então membro da Associação Brasileira dos Críticos de Arte, a pedido dos próprios artistas, exercia este papel. É dele o texto de apresentação do espetáculo para o programa (1990): ‘a mais nova montagem do Ballet Desterro tem […] em comum uma sintonização com a contemporaneidade, clara e acertada opção do grupo desde que iniciou sua trajetória. […]’ Quem assistir a essa montagem, mesmo que não conheça os excelentes trabalhos anteriores do Desterro, como Elo e Quatro Visões, poderá concluir quão merecidas são as diversas premiações conquistadas pelo grupo. Fazendo bom uso da inteligência e sensibilidade, a arte do Ballet Desterro contagia e emociona com sua inventividade, energia e juventude. Seus bailarinos e coreógrafos recusam-se a fazer da dança mera diversão, ornamento ou passatempo social inconsequente. Colocando o público diante de seus próprios problemas interiores, buscam aumentar os níveis de experiência do intérprete ou da platéia.” O Desterro passo-a-passo firmou-se no cenário cultural como uma referência e deixou sua marca indelével na dança catarinense.

Seria a escrita da dança um mapeamento e codificação literários das regiões do corpo? O livro As metáforas do corpo em cena, de Sandra Meyer, é resultante da sua tese de doutorado e relaciona o método das ações físicas com estudos do corpo na contemporaneidade. Os processos cognitivos que envolvem a formação do ator e do bailarino são discutidos no âmbito das ciências, da filosofia e das artes, a partir do problema corpo-mente. “Ao colocar lado a lado os ensinamentos dos grandes mestres de teatro com novas possibilidades de uma teoria da ação, Sandra depura algumas questões  fundamentais  como a da metáfora, entendida na pesquisa à luz dos estudos  do próprio Mark Johnson e de seu parceiro George Lakoff. Para estes autores, a metáfora não é uma figura de linguagem, mas uma ação cognitiva capaz de criar deslocamentos em toda criatura que pensa e se move. Esta ampliação da “ação” para diferentes níveis de descrição do corpo (e não apenas o macroscópico) abre caminhos para estudos do teatro contemporâneo, em suas relações com a performance e o chamado teatro pós-dramático. Isso porque, nestes casos, a ação nem sempre é exposta, mas se dá a ver sutilmente, através de mudanças de estados corporais”, prefacia Christine Greiner.

Como o gesto daquilo que fica  em suspenso em cada ação busca um sentido? Anderson Gonçalves (1964-2010), bailarino, dançou em grupos como o Desterro (SC), Cia. Jazz Brasil (SP), Vacilou Dançou (RJ). Foi professor e coreógrafo de diversas escolas e grupos nacionais. Integrou o Cena 11 como intérprete e figurinista. À maneira de Clarice Lispector, ele interrompe a dança com silêncio espaçoso, e deixa o corpo num feixe de atenção intensa e muda. Ficamos à espreita de nada. Dancemos. Seu silêncio não é o vazio, é a plenitude.

Dual

Céu na boca / Foto: Lu Barcelos

A dualidade é um conceito definido pela geometria em que são chamadas de duais duas figuras que podem ser obtidas uma da outra. Refere-se à relação que une dois objetos quaisquer, de tal modo que um pode transformar-se no outro mediante operações oportunas. Camilo Chapela, Carolina Ribeiro, Fernando Martins, João Paulo Gross, Kaká Antunes, Marcos Buiati, Martha Cano e Valeska Gonçalves, elenco da Quasar Cia. de Dança (GO), rastejam, se arrastam, caminham, se abraçam, se afastam, se falam, se beijam: desenham acontecimentos de dança em busca da felicidade. Durante 70 minutos, seus gestos gotejam risos, alfinetam surpresas e sugerem sensações na plateia presente no espetáculo Céu na boca, dirigido por Henrique Rodovalho, e apresentado na noite de terça-feira no Múltipla Dança.

A musicalidade de Hendrik Lorenzen, Taylor Deupree, Marc Leclair, Goldie, Stacey Kent, Umebayashi Shigeru, Porter Ricks, Ray Conniff, dilatam o estado de espírito, nos colocando reféns dos desejos alheios manifestos num contato aparentemente absurdo, numa comunicação estranhada, num deslocamento horizontal. Impulsionam-nos a reconhecermos, numa atitude epicurista, que o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz.

A movimentação de um corpo intenso e presente é vestida por Cássio Brasil. Camuflagem desnudada em cena com o intuito de assumirmos como nossas as ações de tecer, em duo, em trio, trançar fios existenciais que nos afaste da dor e do medo. A ausência de cenário metaforiza o outro como o  céu, o ideal inatingível; e o corpo-próprio como a boca, a realidade palatável. Nessa atmosfera difusa, a iluminação faz nascer o corpo de outrem no tempo/espaço daquele que vê. Nas pausas contornadas pelo silêncio noto que não só o uso das  palavras, mas também o movimento, o gesto, o tocar  e o sorrir nos fazem singulares, neste desenho que é a  pluralidade humana.

Presença

Diz que um objeto está presente quando é visto ou é dado a qualquer forma de intuição ou de conhecimento imediato. O que é a presença na dança? Na tarde de quarta-feira, a coreógrafa Zilá Muniz (Florianópolis/SC) mediou o diálogo entre Ana Alonso (Florianópolis/SC) e Cristina Turdo (Argentina) sobre a improvisação em seu modo espetacular e sobre se a improvisação seria uma dança não planejada, um espaço para o risco, acaso e imprevisto; e quais seriam as consequências desta escolha no impacto com a plateia. Um público composto por dançarinas, coreógrafos, produtoras culturais, professoras e pesquisadoras universitárias participantes do Múltipla Dança, contribuíram para enriquecer o debate.

A mediadora Zilá Muniz inicia o debate ao fazer referência à composição instantânea como um processo presente na dança contemporânea, e ao destacar sua natureza experimental. Esclarece que não se trata de um trabalho sem rigor, mas pelo contrário, exige olhar crítico de quem dança, tão necessário para não se correr o risco de não aprofundar na pesquisa do movimento.

Ana Alonso indaga se é necessário buscar sempre o novo. Ela percebe a improvisação como comunicação. Defende a importância da presença na cena, mais que o movimento inovador. Afirma o corpo como presença: o aqui e o agora.

A improvisação é um grande tema na vida para Cristina Turdo. Para a professora, improvisação é sua vida. Um caminho de crescimento. Se a arte não é crescimento, não é arte. Apresenta a improvisação como paradoxal e revolucionária. Ao improvisar, busca o suporte, um lugar para voltar, uma âncora que assegure não nos perder na múltiplas possibilidades que esse processo propicia. Observa que sem a censura de um juízo de certo e errado, as crianças são as melhores improvisadoras.

Noto que há na improvisação uma interação de presença e ausência que merece ser investigada, tendemos a enfatizar a presença na dança, mas a ausência também requer atenção. Deveras, a improvisação proporciona uma experiência mais interativa com a dança que desvela algumas intuições acerca desse tema instigante.

Compreensão

Na noite de quinta-feira (27 de maio), ocorreu a conversa orientada sobre a nova pesquisa coreográfica do Grupo Cena 11 Cia. de Dança, intitulada: SIM > ações integradas de consentimento para ocupação e resistência, mediada pela professora Fabiana Dultra Britto (BA), e tendo como participantes o diretor e coreógrafo Alejandro Ahmed, o elenco  composto por Adilso Machado, Aline Blasius, Cláudia Shimura, Jussara Belchior, Karin Serafin, Leticia Lamela, Marcos Klann e Mariana Romagnani e a plateia do Múltipla Dança.

Uma tarefa foi solicitada: que formássemos três grupos para descrever a experiência de compreensão e o sentimento do SIM. Tal ação me pôs a pensar acerca da compreensão, que na concepção de Hannah Arendt é interminável, começa com o nascimento e termina com a morte, é a maneira especificamente humana de estar vivo. Como plateia “teste”, escolhi ficar no grupo para descrever a compreensão da coisa. Em três começamos a tarefa, descrevendo a nossa atitude frente à coisa: distanciamento de uma, aproximação de outra.

Mas, o que é descrever a compreensão de uma experiência vivida acerca de ocupação de espaço e resistência num ambiente cênico? Refleti acerca da necessidade de compreensão mediante a resignação para conferir sentido e produzir novidade no espírito e no coração humanos. Faltou-nos tempo para cruzar o abismo entre experiência e a compreensão dela. Nessa ausência, notamos a essência do interrogar-se. Uma atividade tão peculiar de descrever  uma experiência e o entendimento racional e afetivo no contexto da dança é pouco usual. No entanto, nesta situação aprendemos juntamente com Arendt que o resultado da compreensão é o significado que produzimos em nosso próprio processo de vida à medida que tentamos nos reconciliar com o que fazemos e com o que sofremos.

Na sexta-feira à tarde (28 de maio), ocorreu a reflexão sobre a economia da cultura, a implementação de ações integradas por meio da constituição de redes de parceria para a profissionalização do trabalho artístico. A proposta incluiu a disseminação de conhecimentos sobre a aplicação de métodos, índices, processos e ferramentas da economia na área da gestão cultural.  O diálogo iniciou com a palestra proferida por Ana Carla Fonseca Reis (SP), e foi mediado por Marcos Moraes (SP), que problematizou acerca dos saberes do corpo; Vanilton Lakka (MG) descreveu sua experiência e sua participação na Rede Sul-Americana, e Luciana Ribeiro (GO) enfatizou a necessidade de mapeamento da dança no país, bem como uma rediscussão no mundo do trabalho tendo como referência a dança enquanto categoria profissional.

No último dia do Múltipla Dança, a todos aqueles que se interessaram em  buscar uma compreensão da dança enquanto processo, foi oferecido o programa Ensaios Abertos: Trânsitos, teoria e prática, espaço de mostra de trabalhos com artistas e grupos de Santa Catarina, seguida de discussão sobre dramaturgia com professoras as convidadas Christine Greiner (SP) e Sandra Meyer (SC). Um dos trabalhos foi o Projeto Açúcar, Fel e Afeto, que apresentou Apenas Espécie (título provissório), dirigido por Diana Gilardenghi (Florianópolis), tendo como intérpretes-criadoras Michelle Pereira e  Nastaja Brehsan. A apresentação foi seguida de uma calorosa conversa, e a temática  acerca de identidade e dessemelhança  provocou múltiplas interpretações, tais como imagens reverberadas em espelhos desfocados.

Experimento portátil, uma ação sob encomenda / Foto: Gil Grossi

À noite, Letícia Sekito, da Companhia Flutuante (SP) apresentou no Jivago Lounge seu Experimento portátil, uma ação sob encomenda. A performance propôs uma reflexão sobre possíveis relações entre corpo feminino, fetichismo visual, olhar estrangeiro, comunicação e cultura. Imagens fetichistas femininas – a aeromoça, a garçonete, a dançarina havaiana – relacionam-se com a ideia do olhar estrangeiro, metáfora presente nos vídeos em cena. Com ironia e comicidade, propôs uma interação direta com o público, considerado como um voyeur/’cliente’. Ao voltar para casa após a performance de Letícia me sentia repleta de informações, de experiências, de encontros, trocas. Perguntei como a dança contemporânea contribui para nos sentirmos em casa neste mundo em que nascemos estranhos e permaneceremos estranhos em nossa inconfundível singularidade e retornei a Hannah Arendt, que inspira escrever sobre como uma experiência mais profunda com a dança demonstra que um coração compreensivo, e não a mera reflexão ou o mero sentimento, torna suportável para nós a convivência com outro.

Notações acerca do Múltipla, vi-me desafiada a fazer escolhas. Tal como faço quando acesso um site na Internet em busca de algo que procuro. Encerro aqui minha partitura de gestos textuais com a avaliação da curadora Jussara Xavier pontuando que a maior dificuldade da realização do evento é sempre relativa aos apoios e  patrocínios. Considera que o tempo é insuficiente para planejar melhor o encontro, pois sem saber com certeza o volume de recursos financeiros que serão disponibilizados fica difícil agendar principalmente as atrações internacionais. Percebe que a visibilidade e a repercussão na mídia impressa e televisiva foram excelentes. Comenta que os encontros interpessoais que ocorrem entre os participantes e geram outras possibilidades de realização nos deixam bastante contentes. Certifica que foi um momento de troca intenso e rico. Finaliza ao dizer “ficamos muito satisfeitas e estimuladas a continuar, repensar e ajustar os encontros e atividades as necessidades locais. Para nós, é vital descobrir o significado do Múltipla Dança para os artistas da dança de SC, então acho que seria mais bacana se você os entrevistasse para descobrir…” Bem, isso  me parece pauta para um outro texto.

Ida Mara Freire tem Especialização em Dança Cênica pela Universidade do Estado de Santa Catarina e  Pós-doutorado em Tópicos Especificos da Educação pela University of Nottingham. Atualmente ocupa o cargo de Professor Associado na Universidade Federal de Santa Catarina, Diretora, coreógrafa e dançarina do Potlach Grupo de Dança.

Leia também: Florianópolis de múltiplos encontros

Multiplicity

The fifth edition of Múltipla Dança: Seminário Internacional de Dança Contemporânea took place in Florianópolis, between March 25 and 29. About 900 people participated. Organizers Marta Cesar and Jassara Xavier once again made an effort to put forth a diversified program, highly anticipated by the dance public of the state of Santa Catarina.

Similar to the web, Múltipla Dança seemed to me like a source of countless information. But, the notions of speed, accuracy, multiplicity, consistency, lightness and visibility described by Ítalo Calvino helped me to draw a path that instigated these notes. In this case, the act of jotting down is different from knowledge as standard, something to be copied, imitated. It is writing, not memory; it is in production, we could say it is creation instead of representation.

The artists and dance works from Santa Catarina were the highlight of the seminar, according to Jussara Xavier. Anderson Gonçalves (1964-2010) was honored; the book As metáforas do corpo em cena (“The metaphors of the body on stage”), written by Sandra Meyer, was released and the documentary Ballet Desterro: Contemporaneidade na dança catarinense, (“Ballet Desterro: Contemporaneity in the dace of Santa Catarina”) directed by the curator, premiered; Cena 11 shared its creative process with the audience through activities on stage and a conversation the next day; groups from Florianopolis and Jaraguá do Sul talked with professors Cristine Greiner and Sandra Meyer in open rehearsals with debates about dramaturgy; there were activities in partnership with the project Entrando em Contato (“Getting in Contact”), developed by Ana Alonso in the city; Sarah Ferreira’s videodances were screened. Other highlights of the seminar were: Ana Carla Reis talking about the economy of culture; the presence of Quasar Cia. de Dança, one of the most important Brazilian companies; the performance of Companhia Flutuante at Jivago Lounge. The latter emphasized Múltipla Dança’s interest in occupying other spaces, reaching new audiences and not to lose sight of multiplicity, which has been the focus of the event since the beginning.

Dance happened once again in the multiple and diverse city: many dances as opposed to “one”. But, it is not about unlimited dispersion, but about numbers: when the dance being appreciated is one and, at the same time, multiple ones. But, regardless of the order and the unity dance has, be it based on sensitivity or intellect, confronted with a multiplicity of knowledge about dance presented in the proposals, the shows, workshops, debates and open rehearsals, the spectator felt challenged to search for the meaning of such experience with all of that sensitive material. In this apparently disconnected or raw state brings, it establishes an aesthetic experience of dance that makes an invitation: enjoy with understanding.

Snapshots

In the foreword of João Gilberto Noll’s book Mínimos, múltiplos, comuns, Wagner Carelli notes the author’s applied discipline in writing complete narratives of unusual size: each account was confined to up to 130 words. Noll opted for calling them “fictional instants”. For instance “How was the fluid feeling of every late afternoon called? The breath pouring down the stomach without a safe outcome, what was it? I was sitting at a café, absorbed in this instant. And that would make that disappearance of reminiscence even more distant than a spring needs to be“ This fragment pushes us to inquire how the gaze, the writing, the movement, reveal instant gestures whose intertwinement forges the video, the book and the dance.

Could our eyes interrogate the world and could the world present itself to us through them? Directed by Jussara Xavier, Ballet Desterro: contemporaneidade na dança catarinense captures in sound and images the pioneer path of a group that made innovating experiences by adopting creative procedures different from the norm and provoking the perception of the audience. She identifies the following aspects in the group’s work: the unprecedented use of different languages on stage, the choreographic experimentation, the diversity of motivations and the attempts to direct dance towards the infinite thing of the world. The director notes: “It is worth noting there was not regular dance criticism in Santa Catarina at the time; at the request of the artists themselves, Janga, then a member of the Brazilian Association of Art Critics, occasionally fulfilled this role. He wrote the show’s presentation for the program (1990): The most recent work of Ballet Desterro has […] in common a tuning with contemporaneity, a clear and rightful choice of the group since its beginning. […] Those who watch this piece will be able to see how well-deserved were the many awards the group received, even if they are not familiar with previous works of Desterro, such as Elo and Quatro Visões. Making good use of intelligence and sensibility, the art of Ballet Desterro enchants the audience with its ingenuity, energy and youth. Its dancers and choreographers refuse to make dance as mere entertainment, ornament or careless social pastime. By confronting the audience with their own internal problems, they seek to increase the level of the performer’s experience, or that of the audience.” Step by step, Desterro established itself as a reference in the cultural scene and left its indelible mark in the dance of Santa Catarina.

Would the writing of dance be a mapping and a literary codification of the regions of the body? The book As metáforas do corpo em cena, written by Sandra Meyer, is a result of her doctorate thesis and it relates the methods of physical actions with studies of the body in contemporaneity. The cognitive processes that surround the training of actors and dancers are discussed within the realm of science, philosophy and art, based on the mind-body problem. “By putting the teachings of the great masters of theater side by side with new possibilities for a theory of action, Sandra tackles some fundamental issues such as that of the metaphor, comprehended in light of the research of Mark Johnson and his partner George Lakoff. For them, the metaphor is not a figure of speech, but a cognitive action able to create shifts in every moving and thinking creature. This expansion of “action” towards different levels of descriptions of the body (an not only the macroscopic one) opens paths for studies of contemporary theater in its relationship with performance and the so-called post-dramatic theater. For, in these cases, the action is not always exposed, but reveals itself subtly, through changes in bodily states”, Christine Greiner writes in the foreword.

How does the gesture of that which is suspended in each action seek meaning? Dancer Anderson Gonçalves (1964-2010) performed in groups such as Desterro (SC), Cia. Jazz Brasil (SP), Vacilou Dançou (RJ). He was a teacher and a choreographer in many schools and national groups. He was part of Cena 11 as a performer and costume designer. Like Clarice Lispector, he interrupts dance with spacious silence and leaves the body in a bundle of intense and mute attention. We remain on the lookout for nothing. Let´s dance. His silence is not that of emptiness, but that of plenitude.

Dual

Duality is concept defined by geometry in which two figures are considered dual if they can be obtained from each other. It refers to the relationship that binds two given objects, in a way that one can become the other through convenient operations. Camilo Chapela, Carolina Ribeiro, Fernando Martins, João Paulo Gross, Kaká Antunes, Marcos Buiati, Martha Cano and Valeska Gonçalves, the cast of Quasar Cia. de Dança (GO),  crawl, creep, walk, hug, move away from each other, talk, kiss, draw dance happenings in search of happiness. During 70 minutes, their gestures drip laughs, poke surprises and suggest sensations for the audience of Céu na Boca, directed by Henrique Rodovalho and presented on Tuesday evening.

The musicality of Hendrik Lorenzen, Taylor Deupree, Marc Leclair, Goldie, Stacey Kent, Umebayashi Shigeru, Porter Ricks, Ray Conniff expands the mood, making us hostages of the desires of others, which is expressed in an apparently absurd contact, in a strange communication, a horizontal displacement. They push to recognize, in an Epicurean attitude, that the safe knowledge of desire leads to directing every choice and every refusal towards the health of the body and the serenity of the spirit, since that is purpose of a happy life.

The movement of an intense and present body is put on by Cássio Brasil. A naked camouflage on stage aiming to make us assume as ours the acts of weaving in duos and trios, braiding existential threads that keep us away from pain and fear. The lack of stage settings is a metaphor of the other as heaven, the unobtainable ideal; and the body-itself as the mouth, the palatable reality. In this diffuse atmosphere, the lighting gives birth to the body of another in the time/space of those who watch. In the pauses outlined by silence, I realize that not only the use of words, but also the movement, gestures, the touch and smiling make us unique in the drawing that is human plurality.

Presence

It is said that an object is present when it is seen or it is given to any form of intuition of immediate knowledge. What is presence in dance? On Wednesday afternoon, choreographer Zilá Muniz (Florianópolis/SC) mediated the debate between Ana Alonso (Florianópolis/SC) and Cristina  Turdo (Argentina),   about improvisation in its spectacular form. They talked about whether improvisation is an unplanned dance, a space for risk, chance and the unexpected; and about which would be the consequences of this choice in the impact upon the audience. An audience composed by dancers, choreographers, producers, Univerisity professors and researchers contributed to enrich the debate.

Zilá Muniz, the mediator, started the debate by referring to instant composition as a process in contemporary dance and highlighting its experimental nature. She clarifies that it is not about work without rigor, much to the contrary, it requires the dancer’s critical perspective, which is very necessary to avoid the risk of not deepening the movement research.

Ana Alonso asks whether it is necessary to be always in search of something new. She perceives improvisation as communication. She defends the importance of the presence on stage, more than the innovating movement. She considers the body to be presence: here and now.

Improvisation is the big subject of Cristina Turdo’s life. Improvisation is the professor’s life. A path for growth. If art is not growth, then it is not art. She presents improvisation as paradoxical and revolutionary. By improvising, she seeks support, a place to go back to, an anchor to make sure we don´t lose ourselves in the many possibilities this process allows. She notes that without having the censorship of a sense of right and wrong, children are the best improvisators.

I notice that there is an interaction between presence and absence in improvisation that deserves to be investigated, we tend to emphasize the presence in dance, but absence also requires attention. Indeed, improvisation provides a more interactive experience with dance that unfolds some intuitions about this instigating theme.

Understanding

In the evening of May 27th there was a debate about Cena 11 Cia. de Dança’s new choreographic research, called SIM > ações integradas de consentimento para ocupação e resistência (“YES > integrated actions of consent for occupation and resistance”). The talk was mediated by professor Fabiana Dultra Britto and had the participation of Alejandro Ahmed, the group’s director and choreographer, and the cast composed by Adilso Machado, Aline Blasius, Cláudia Shimura, Jussara Belchior, Karin Serafin, Leticia Lamela, Marcos Klann, Mariana Romagnani.

One task was required. We should create three groups to describe the experience of understanding and feeling of SIM. Such action made me think about understanding, which is endless, according to Hannah Arendt It begins with birth and ends with death, it is the specifically human way of being alive. As “test” audience, I chose to be in the group to describe the understanding of the research. The three of us started the task by describing our attitude towards it: detachment of one, approximation of the other.

But, what does it mean to describe the understanding of an experience about the occupation of space and resistance in a scenic environment? I reflected about the need to understand through resignation, to provide meaning and produce something new in the human heart and spirit. There wasn´t enough time for us to cross the abyss between experience and its understanding. In this absence, we realized the essence of inquiring oneself. An activity so peculiar as describing an experience and the rational and emotional understanding is unusual in the dance context. However, in this situation we learned with Arendt that the result of understanding is meaning, which we produce in our own life process as we try to reconcile with what we do and what we suffer.

On Friday evening, May 28th, there was a reflection about the economy of culture, the implementation of integrated actions though the establishment of partnership networks for the professionalization of the artistic work. The proposal included the dissemination of knowledge about the use of methods, indexes, processes and tools of economy in cultural management. The debate started with a lecture of Ana Carla Fonseca Reis and it mediated by Marcos Moraes, who discussed the issue of the knowledge of the body. Vanilton Lakka described his experience and participation in Red Sudamericana de Danza and Luciana Ribeiro emphasized the need for a mapping of dance in the country, as well as a re-discussion in the labor context with dance as a professional category as reference.

In the last day of Múltipla Dança, the Open Rehearsals were provided for all those who are interested in seeking an understanding of dance as process. Transits, theory and practice, a showcase of works with artists and groups from Santa Catarina, followed by a debate about dramaturgy with professors Cristine Greiner and Sandra Meyer.

In the evening, Letícia Sekito, from Companhia Flutuante, performed Experimento portátil, uma ação sob encomenda at the Jivago Lounge. The performance proposed a reflection about possible relationships between the female body, visual fetichism, a foreign perspective, communication and culture. Fetishist images of women – the stewardess, the waitress, the Hawaiian dancer – are related to the idea of the foreign perspective, a metaphor present in the videos. With irony and comicality, she proposed a direct interaction with the audience, which was regarded as voyeur/client. As I went home after Letícia’s performance, I felt teeming with information, experiences, encounters, exchanges and I questioned how contemporary dance makes us feel at home in this world, in which we are born strangers and remain strangers in our unmistakable singularity. I returned to Hannah Arendt, who inspired me to write about how a more profound experience with dance reveals that an understanding heart, and not a mere reflection or mere feeling, makes living with others bearable.

Notations about Múltipla Dança, I felt challenged to make choices. Like I do when I surf the internet in search of something, I end this score of textual gestures with the evaluation of curator Jussara Xavier, who pointed out the biggest difficulty of the event is always related to support and sponsorship. She considers the time is not enough to better plan the meeting, since it´s not possible to know the amount of resources that will be made available, it´s hard to book shows, specially international ones. She notices that the visibility and repercussion in print and television outlets were excellent. She said that interpersonal exchanges that take place among the participants create other possibilities, which makes us happy. She stresses that it was a rich and intense moment. She finishes by saying that “we were very satisfied and stimulated to continue, re-think and adapt the meetings and activities with local needs. For us, it is vital to find the meaning of Múltipla for the dance artists of Santa Catarina, so I think it would be nice if you interviewed them to find out…” Well that seems to be subject for another text.