Nova Dança 4 e Quasar: estreias do fim de semana

Duas companhias com anos de estrada estreiam novos trabalhos neste fim de semana. Em São Paulo, a Cia. Nova Dança 4, de Cristiane Paoli-Quito e Tica Lemos lança O beijo (foto 2), e em Goiânia, a Quasar mostra Céu na boca (foto 1), um ano depois de comemorar 20 anos de carreira com Por instantes de felicidade.

Contemplado pela 5a edição do Programa Municipal de Fomento à Dança da cidade de São Paulo, O beijo é a segunda etapa do projeto Influência (2007), uma série de estudos sobre a relação entre literatura e dança. A trilogia começou com Influência – primeiros estudos, resultado de estudos em cima dos filmes de Alfred Hitchcock e do trabalho corporal realizado com Steve Paxton, Lisa Nelson, Nancy Stark Smith e Mike Vargas. Em O beijo, os autores escolhidos para dar partida à investigação foram François Truffaut, Edgar Alan Poe, Samuel Becket e Nelson Rodrigues.

“Depois do primeiros estudos, me deu vontade de continuar o estudo, aprofundar a relação entre dramaturgia e dança. Tínhamos mergulhado muito já no trabalho corporal. Como podíamos, como grupo de improvisação, montar uma narrativa em tempo real baseada no aprendizado com esses autores?”, explica Cristiane.

Para manter essa relação tão próxima com a literatura proposta pelo projeto Influência, a Cia. Nova Dança 4 vem trabalhando com a consultoria do dramaturgo Rubens Rewald. Para O beijo, ele atuou como consultor, fazendo provocações, ajudando a desvendar os diferentes estilos literários e dando noções de caminhos a seguir na leitura das obras.

Em cena, sete bailarinos traçam uma narrativa que muda a cada noite, já que o trabalho da companhia se baseia na técnica da improvisação. O climão noir típico das histórias de suspense aparece na luz criada por Marisa Bentivegna. “Cada intérprete se aprofunda em dois personagens, criando códigos de comportamento para eles, mas todos podem fazer todos. A luz, que tem um peso grande no espetáculo, também acaba sendo um trabalho de improvisação de uma certa forma”, diz a coreógrafa.

Já o coreógrafo Henrique Rodovalho, da Quasar, foi buscar inspiração nas estrelas para o novo espetáculo da companhia, Céu na boca. As leis da física e os movimentos do universo o ajudaram a desenvolver os movimentos, segundo ele, mais intensos do que o habitual. “Queria sair um pouco do apelo plástico e criar coreografias mais intensas. Em Céu na boca, eu buscava uma narrativa menos linear, mais diluída, sensorial, menos acadêmica. São situações palpáveis, mas sem uma linearidade aparente”, define Rodovalho.

O beijo / Foto: Carol Mendonça

O beijo / Foto: Carol Mendonça

A nova obra é um desdobramento de Por instantes de felicidade, que estreou em abril de 2008 como parte das comemorações pelos 20 anos da Quasar (leia mais aqui). Mas ao contrário do espetáculo anterior – que falava da busca incessante pela felicidade -, Céu na boca é menos otimista ao mostrar que a realidade é povoada de sonhos, mas que na maior parte das vezes as coisas não saem como se espera.  O tal céu do título representa o paraíso, e a boca, a realidade.

A dicotomia sonho-realidade também está na trilha sonora escolhida por Rodovalho: o espetáculo alterna sons eletrônicos, contemporâneos, que simbolizam o mundo de desejos, com a realidade kitsch das canções de Ray Conniff. “É um trabalho que abusa dos extremos. Acho que o público vai levar um susto primeiro, mas depois se acostuma”, acredita Rodovalho. “Eu estava num momento bastante emotivo quando criei Céu na boca e isso se refletiu. E quero que a plateia se preocupe em ‘sentir’ o trabalho”.

O beijo fica em cartaz até 14 de junho no Espaço Nono Andar da Unidade Provisória SESC Avenida Paulista (Avenida Paulista 119. Telefone: 11 3179-3700). De sexta-feira a domingo, sempre às 19h. Céu na boca será apresentado hoje, sábado e domingo (15 a 17/05), no Teatro Goiânia (Avenida Anhanguera s/nº, Centro. Telefone: 62 3201-4684). Sexta-feira e sábado, às 21h, domingo, às 20h.