Novo solo de Egon Seidler inspira-se em personagem de Arrabal

Hildegart Rodriguez Caballeira (1914-1933) foi uma ativista espanhola, que defendia o socialismo e a igualdade entre os gêneros. Aos 19 anos, quando começava a ganhar reconhecimento internacional, Hildegart foi morta, enquanto dormia, com quatro tiros disparados por sua mãe, Aurora.

Aurora, que foi diagnosticada esquizofrênica muito cedo, educou Hildegart como uma espécie de experimento. Imaginava a filha como um modelo de mulher do futuro, desde antes de sua concepção. Escolheu um rapaz unicamente com a função de reproduzir – numa época em que isso não era nada comum -, do qual se afastou completamente depois de engravidar. Aos três anos a menina já escrevia e, aos oito anos de idade, falava seis idiomas.

Hildegart, assim, concluiu os estudos em Direito aos 17 anos e foi uma integrante de destaque de dois emblemáticos partidos da esquerda espanhola, o Partido Obrero e depois o Partido Federal. Atendeu muito bem a todas as expectativas da mãe, cumprindo o importante papel político que lhe tinha sido designado. Aurora, no entanto, diante da possível separação daquela que chamava de sua “escultura de carne”, preferiu matar a filha a perdê-la.

Delírio, surrealismo e dança

Aurora e Hildegart, em pictograma de 1930.

Aurora e Hildegart, em pictograma de 1930.

A história de Hildegart foi a inspiração para a novela A virgem vermelha (La virgen roja – 1987), de Fernando Arrabal, que, por sua vez, inspirou o bailarino catarinense Egon Seidler no processo de criação de seu novo solo, que estreia na próxima terça (19), em Florianópolis e foi justamente a figura da mãe – Aurora, que também é o nome do espetáculo – que lhe chamou mais a atenção.

No livro – que guarda muito pouco do interesse em produzir uma novela biográfica ou histórica – o universo do sonho e do delírio tem uma importância fundamental. “A história é forte, densa e permeada de sonhos surreais – o que permitiu, na criação do espetáculo, a conexão com obras de Salvador Dalí. Dessa forma, os ambientes do solo são caracterizados pela exposição de elementos – objetos, adereços e corpo – não tradicionais”, explica Seidler, que contou durante o processo de criação com a cooperação dos núcleos criativos das companhias Ronda Grupo (de dança contemporânea) e Traço Cia. de Teatro.

O que chega à cena, segundo o bailarino, são alguns dos estados emocionais que essa personagem vive no livro. Sua expectativa, nesse momento de estrear o espetáculo, é de entender no contato com o público muito do que há de indizível no espetáculo. Ele explica “Como é um trabalho de dança, tem muita coisa que não toma forma na palavra. Toma forma mais na sensação, ou no estado… É o encontro com o público que vai dizer qual é o tom, ou qual é o caminho que isso vai seguir.

Aurora, de Egon Seidler
De 19 a 28 de julho, terça a quinta, às 19h30

De 19 a 21
Casa anexa à Igreja de Pedra
Rod. Antônio Luiz Moura Gonzaga, 1525, Rio Tavares, Florianópolis, SC

De 26 a 28
Museu Histórico de Santa Catarina
Praça XV – Centro, Florianópolis, SC

Entrada gratuita
(Os ingressos serão distribuídos uma hora antes e os espaços são sujeitos à lotação)