1000 casas / Fotos divulgação

Núcleo do Dirceu em mil casas

Desde os tempos em que era o diretor geral do Teatro Municipal João Paulo II (TMJP2), no bairro do Dirceu, periferia de Teresina, o coreógrafo Marcelo Evelin tinha um desejo: atrair público para a arte contemporânea. Por incompatibilidades políticas, Evelin não está mais à frente daquele espaço (leia mais sobre isso aqui) – que, coincidência ou não, viu ‘murchar’ suas atividades – mas a ideia de se aproximar do grande público persiste. Persiste e vem ganhando corpo dentro do Núcleo do Dirceu, coletivo de artistas nascido justamente no TMJP2.

“Na época do teatro, fiquei me perguntando o que aquelas pessoas gostariam de ver/experienciar em suas casas, pensando na ideia de transformar o lugar de apresentação em uma extensão da casa dessas pessoas”, lembra Evelin.

Dessa observação surgiu o projeto 1000 casas, que vem sendo colocado em prática aos poucos pelo Núcleo como uma das ações dentro do patrocínio de manutenção de dois anos concedido pela Petrobras. A ideia é levar performances para dentro das casas dos moradores do bairro do Dirceu, essas ‘apresentações’ são registradas pelos artistas. A primeira etapa consistiu no mapeamento do bairro, que tem cerca de 250 mil moradores, muitos sub-bairros , vilas e ajuntamentos. “Depois de entender o dia a dia do bairro, estamos tentando entender o que seria ‘performatividade’ neste lugar específico, o que é criar esse contexto de artista-espectador no lugar do espectador (a própria casa dele) e não no lugar do artista (o teatro)”, explica o coreógrafo.

Até agora foram visitadas 75 casas. Entrar na casa das pessoas levando arte não é tarefa fácil e os artistas se encontram diariamente no galpão-sede do Núcleo para conversar, estudar e trocar impressões sobre como realizar o trabalho sem alterar a rotina dos moradores. “Tem gente que só visita casas que tenham idosos, outro só casas sem muro, outro só vai a casas com animais de estimação, tem de tudo! Mas inicialmente estudamos o mapa do bairro e decidimos começar a visitação em espiral, partindo do galpão até o máximo das bordas, de maneira que todas as pequenas comunidades sejam visitadas”, diz Evelin. Eles também estão aprendendo a editar vídeos, fotos, e como relatar as visitas não de forma jornalística, e sim, performática. Alguns dos resultados já estão disponíveis no site do Núcleo e dão uma boa ideia da proposta do 1000 casas.

Evelin faz questão de frisar que o objetivo é testar novos espaços de apresentação e não ‘se inspirar’ no cotidiano das pessoas para um futuro trabalho. A performance é aqui e agora. “Escolhemos entrar nas casas para encontrar o espectador, potencializar um individuo como espectador ali no seu território. Seria como trazer o lugar da performatividade para o lugar do privado, do pessoal, do particular e vice-versa. Para propor um lugar de encontro outro entre o artista e o espectador”, esclarece.

“É claro que já recebemos muitos ‘nãos’ e isso é completamente coerente, há muita gente que pensa que está sendo abordada por marginais, tem gente que pensa que tem que pagar, e por aí vai… Sempre há muita negociação. Mas uma vez que a porta é aberta, somos muito bem recebidos”, diz ele. “Espero o dia em que as pessoas comecem a ligar o mandar email com seus endereços para serem visitados”.

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