Ocupando importante espaço no lugar de investigação da videodança, Dança em Foco traz programação inovadora em sua 14ª edição

Além da tradicional mostra de videodanças, evento traz obras instalativas e interativas em exposição

Série de livros e publicações com ensaios inéditos de artistas e pesquisadores.

Série de livros e publicações com ensaios inéditos de artistas e pesquisadores. (Foto: Idança/Divulgação)

Há 14 anos produzindo pensamentos sobre o campo a ser explorado entre corpo e imagem na tela, o Dança em Foco em sua edição 2016 convoca também o espaço e o público para participarem ativamente desta relação. Pelo segundo ano consecutivo ocupando o Centro Oduvaldo Vianna Filho – Castelinho do Flamengo, no Rio, além das três salas de exibição da MIV – Mostra Internacional de Videodança, cinco trabalhos instalativos e um interativo também conquistam o Centro, que recebe convidados internacionais em oficinas e debates abertos ao público.

Com 90 videodanças oriundas de 35 países, este ano a MIV apresenta quase 300 horas de exibição. Resultado de convocatória realizada pelo festival entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, as obras foram selecionadas entre mais de 200 inscritos, que se somam às seleções especiais de quatro festivais parceiros e obras dos convidados deste ano. Além disso, a exibição conta com cinco programas enviados por Universidades e Faculdades nacionais e internacionais com trabalhos realizados por seus alunos, a Videodança em Curso.

A obra 'Mandala', uma das obras instalativas de Alexandre Veras.

‘Mandala’, uma das obras instalativas de Alexandre Veras que ocupam o Centro. (Foto: Idança/Divulgação)

As instalações ocupam mais espaço que no ano passado. Na retrospectiva do artista cearense Alexandre Veras, importante nome da cena da videodança em Fortaleza, quatro instalações do videasta são apresentadas ao público do festival. A obra interativa Kinect-Dance, de Marcus Moraes e Marlus Araújo (RJ), complementa o programa de ambientes imersivos do festival, que convocam o corpo do visitante a se mover junto com as imagens em exibição, o convidando a experimentar uma dimensão sensorial das obras.

O Dança em Foco promove ainda uma série de encontros abertos com artistas e profissionais da área, nacionais e internacionais, que vão conversar com o público sobre seus campos de investigação e pesquisa em videodança. A programação segue até o dia 5 de junho e está disponível aqui.

O Idança esteve presente na abertura do evento nesta terça-feira, 24, e traz uma entrevista exclusiva com Paulo Caldas, um dos criadores e diretor artístico do festival. Confira:

Idança: Quais os destaques da MIV deste ano?

Conversa com Alexandre Veras em uma das salas de exibição da MIV, na abertura do festival.

Conversa com Alexandre Veras em uma das salas de exibição da MIV, na abertura do festival. (Foto: Idança/Divulgação)

Paulo Caldas: Destacaria a criação de dois programas, sobretudo pela importância estético-política: o primeiro é o “Videodança em curso”, composto por obras de diversas instâncias formativas nacionais e internacionais; é um programa que evidencia o crescente espaço da videodança entre estudantes/artistas de dança; isso nos aponta para um futuro em que a videodança já estará mais assimilada como uma outra poética corporal possível. O segundo destaque é o programa Injuve, da recém-criada Rede Ibero-Americana de Videodança, uma nova plataforma que pode vir a potencializar muito os projetos dos países que a integram, ao articular um novo circuito de difusão, formação e produção.

Idança: Além das oficinas, uma programação também voltada para o universo do jovem acadêmico é o “Videodança em Curso”. Como o festival vê o crescimento do interesse na produção desta linguagem audiovisual? Qual o perfil dos universitários que vêm buscando esse espaço?

Paulo Caldas: Os cursos superiores em dança têm sido um espaço real de desenvolvimento da videodança no Brasil. A Faculdade Angel Vianna, por exemplo, mantém há muitos anos uma disciplina chamada Dança e Multimídia; nas universidades públicas, o número de cursos de dança se multiplicou na última década e muitos têm componentes curriculares que tematizam a interface dança/vídeo, inclusive com professores e/ou técnicos específicos. O dança em foco vem dando cada vez mais visibilidade a esta produção universitária, o que incentiva a produção dos alunos-realizadores. Para além dos programas universitários que já temos no festival anualmente, o “Videodança em curso” foi criado como novo espaço, pois trata-se de um programa que teve uma curadoria própria de cada instituição.

Idança: Como tem se dado a parceria com outros festivais dedicados a videodança?

Paulo Caldas: O dança em foco está em sua 14ª edição; ao longo dos anos vimos nos estabelecendo como uma referência no mundo como uma plataforma de exibição e formação. Somos muito “queridos” internacionalmente: nosso trabalho tem sido reconhecido e o interesse em estar conosco é muito grande. As parcerias estão mais consolidadas e é frequente trocarmos programações com outros festivais; assim, não apenas temos acesso a seleções de obras de vários países como — o mais importante — fazemos transitar internacionalmente uma seleção de obras nacionais avalizadas pelo festival.

Idança: Como o festival vem se posicionando para aumentar a visibilidade dessa produção na América Latina?

Paulo Caldas: Nosso associação com a América Latina só faz aumentar. Desde muito cedo, o dança em foco ajudou a criar o então chamado Circuito Mercosul de Videodança, em parceria com festivais da Argentina e Uruguai; produzimos juntos duas coletâneas em DVD muito importantes, com obras dos três países. Depois a experiência foi alargada, sobretudo com a criação do Fórum Latino-Americano de Videodança, envolvendo vários outros países; hoje, já estamos criando a Rede Ibero-Americano, que inclui festivais de 13 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Paraguai, Portugal e Uruguai, além da Alemanha — que realiza um festival latino-americano de videodança. Uma de suas primeiras ações foi compilar um programa com jovens criadores de cada país; o programa já foi apresentado em Cuba e na Espanha e agora está integrando nossa Mostra Internacional de Videodança.

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Performance com os bailarinos Brigitte Wittmer e João Mandarino na obra interativa ‘Kinect-Dance’. (Foto: Idança/Divulgação)

Idança: Esse ano uma introdução muito importante também foram as obras videográficas instalativas e interativas, como o trabalho ‘Kinect-Dance’, de Marcus Moraes e Marlus Araújo. Como este trabalho dialoga com as criações propostas apresentadas?

Paulo Caldas: Sempre insistimos que o dança em foco é um Festival Internacional de Vídeo & Dança. Este “&” para nós significa associação. Daí que nossa programação possa variar a cada ano e incluir outros modos de fazer dialogarem vídeo e dança, para além da chamada videodança (que, de fato, segue sendo o eixo principal do festival). Já tivemos obras instalativas, imersivas, interativas e espetáculos multimídia em outras ocasiões, mas estamos muito felizes em poder ter o Castelinho ocupado majoritariamente com estas outras produções nesta edição, sobretudo assinadas por Marcus Moraes (em coautoria com Marlus Araújo) e Alexandre Veras, que são nomes que frequentam o festival como professores e artistas há tantos anos e que têm feito um trabalho fundamental no desenvolvimento da videodança.

[Fotos: (1) Obra instalativa ‘Mar de longe, Mar de Perto’ de Alexandre Veras (2) Performance na obra interativa ‘Kinect-Dance’  © Idança/Divulgação]