Ohno, um filósofo que dança / Para sempre | Ohno, a philosopher who dances / Forever

Dia 27 de outubro, o coreógrafo japonês Kazuo Ohno completa 103 anos. Em homenagem à data e à importância do trabalho de Ohno – ele é  um dos precursores do butoh – o idança traz dois textos publicados originalmente na revista Obscena, nossa parceira. O primeiro deles, escrito por John Barret, traz uma interessante biografia de Ohno. E o segundo, de Tiago Manaia, fala da influência do coreógrafo no trabalho da banda Antony & the Johnsons. Confira os dois abaixo. Ao final da leitura, clique aqui e aproveite para assistir a um trecho de The dead sea, de 1985, publicado pelo idança em abril de 2008.

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Detentor de um estilo de movimento raro, gracioso e também enganadoramente simples, Kazuo Ohno, mais do que dançar, simboliza uma filosofia sobre os limites do corpo. Retrato de um homem que apelidaram de árvore.

Texto de John Barret

Kazuo Ohno, o artista japonês de butoh, está a poucos meses de celebrar o centésimo terceiro aniversário, a 27 de outubro. Enquanto cidadão e artista, Ohno tem sido contemporâneo dos eventos que de forma mais incisiva marcaram a história recente do Japão: o terramoto em Kanto (1923), a Guerra do Pacífico (1937-45), as bombas atómicas largadas em Hiroshima e Nagasaki, a ocupação americana (1945-51), os altos e baixos que sucederam o milagre económico dos anos 60.

Até 2004, ano em que se retirou dos palcos, cada aparecimento seu conduzia o corpo humano até aos seus limites. Hoje, e apesar do nevoeiro do Alzheimer, Ohno continua um verdadeiro filho-do-teatro. Talvez o seu último desejo seja morrer em palco, rodeado dos fantasmas dos seus tão queridos amigos, da sua mãe e La Argentina.

Nascido a 27 de outubro de 1906 em Hokkaido, a ilha do Japão mais a norte do arquipélago, Ohno é filho mais velho de um pescador e de uma mãe a quem era particularmente apegado. Embora dotada de grande sensibilidade artística, a sua mãe teve pouco tempo para desenvolver os seus talentos, dedicando a sua vida a cuidar de 10 crianças. Embora tenha sido, profissionalmente, professor de educação física de profissão, Ohno iniciou as suas aulas de dança ao deslocar-se para Tokyo, no início dos anos 30.

Baptizado em 1931, tornou-se um membro activo da igreja Anabaptista e foi um cristão devoto desde então. Depois de ser mobilizado, em 1938, passou os sete anos seguintes em diferentes frentes de guerra, onde, como capitão no comando de mantimentos, entrou em contacto com a inumanidade e carnificina dos homens quase diariamente. No rescaldo da capitulação japonesa no fim da Guerra do Pacífico, foi internado pelas forças australianas na Nova Guiné. Sobre o seu repatriamento em 1946 resumiu o seu posto como professor de ginástica na Escola Feminina Anabaptista Soshin, em Yokohama, lá permanecendo lá até à sua reforma em 1980.

Paralelamente à sua carreira de professor, Ohno criou uma série de performances que produziram um efeito sísmico no mundo da dança japonês. Durante os anos 60 foi um participante activo no próspero movimento do butoh, colaborando regularmente com Tatsumi Hijikata, outra figura de particular peso na vanguarda japonesa. Foi por esta altura que começou também a dar “workshops abertos” no estúdio de ensaio que construiu com as suas próprias mãos no subúrbio Yokohama de Kamihoshikawa. Em alguns aspectos, Ohno era mais um filósofo do que um professor de dança, e os seus workshops convocavam pessoas com distintos modos de vida. Não era incomum que os alunos se colocassem mais perguntas ao abandonarem a aula do que antes de terem colocado um pé no estúdio.

Curiosamente para um bailarino, a carreira de palco de Ohno apenas levantou voo no fim dos anos 40, altura em que estava já nos seus jovens quarentas – idade em que, nos círculos da dança ocidental, os bailarinos contemplam a reforma. No Japão não é invulgar um artista de dança tradicional continuar a actuar até aos 80. O seu primeiro recital a solo público em Tokyo, em 1949, lançou uma carreira que continuou sem cessar até aos tardios anos 60.

O que se seguiu foi um hiato de 10 anos, vagueando pelo deserto das sortes, período durante o qual passou por uma profunda transformação tanto na sua abordagem à dança como na vida. O seu regresso deu-se em 1977 com a performance Admirando La Argentina, que aliava história privada e episódios fantasmagóricos, numa estrutura inesquecível de grande dor, argúcia e júbilo. Até então Ohno não tinha sido alvo de reconhecimento universal mas, em 1980, quando a apresenta a uma enorme e receptiva audiência no Festival Internacional de Nancy, o mundo é alertado para o estouvado génio de Kazuo Ohno. Foi a primeira de uma série de criações dedicadas àqueles por quem que se sentia em dívida. Como o título sugere, esta peça é uma homenagem a Antonia Mercê y Luque (1890-1936), mais conhecida como La Argentina, provavelmente a bailarina espanhola mais celebrada do século XX, e que Ohno viu actuar em Tokyo, em 1929. Ao mesmo tempo que, e em certa medida, Admirando La Argentina pode ser considerado como um poderoso retrato da sua musa pessoal, é também altamente confessional, e assinala a sua regeneração espiritual depois de quase uma década de deserto.

Detentor de um estilo de movimento raro, gracioso e também enganadoramente simples, Kazuo Ohno perseguia implacavelmente a verdade e expiação nas suas improvisações de palco e nas conversas com os seus alunos dos workshops. As suas performances são famosas pela espontaneidade, humor e qualidades sombrias e, por vezes, até pela frieza da sua intensidade. Ele não exige um espaço vasto, nem propõe a criação de um universo, ele fá-lo simplesmente por permanecer imóvel, nunca parecendo pertencer a um espaço ou tempo particulares. O tempo e espaço ganham vida pela pura força da sua presença. Alguns bailarinos, tal como Ohno, tornam-se tenazes com o medo e a escravidão, a fragilidade, o amor e a falha. Em todas as suas performances, Ohno procura provocar um volte-face emocional no modo como o seu público responde à vida, à morte e aos que os rodeiam. Um princípio central do seu trabalho é a ideia que a dança deve conduzir, de igual modo, o bailarino e o espectador a questionarem-se acerca do modo como conduzem as suas vidas, individual ou colectivamente.

Uma dança humana

Em nenhum outro lugar a filosofia de vida de Ohno se torna mais aparente do que em  A minha Mãe (1981). Aí, ele abre um túnel sob a noção convencional da dança enquanto exercício coreográfico. Existindo algures no interior de um universo imaginário, a brilhante atmosfera desta peça, repleta de momentos de nostalgia e melancolia, oferece a Ohno uma plataforma para desnudar a sua alma, uma alma atormentada por várias camadas de culpa. A sua mãe retorna à vida enquanto ele graceja no palco com uma pequena mesa de servir. Todas as suas criações são desenhadas a partir da sua experiência pessoal. A sua vida é o tema da sua dança. Subjacente a um profundo sentido de perda, o que permeia esta peça é o facto da tragédia não ser estranha à sua vida: a sua mãe testemunhou o perecer de dois dos seus filhos antes destes poderem chegar à idade adulta: a irmã mais nova de Ohno morreu na rua atropelada por um carro, e o seu irmão bebé morreu nos seus braços. A perda é de novo o tema de uma outra performance memorável, O Mar Morto (1985), desta vez a do seu pai.

Dentro da aparente loucura e excentricidade teatral de Ohno jaz uma enorme humanidade. Contrariamente a muitos artistas contemporâneos, Ohno dificilmente se preocupa com o drama do indivíduo isolado. Na sua perspectiva, nascemos todos neste e deste universo, e, como tal, há inexoráveis limites entre um e outro. Ele acredita fervorosamente que os laços mútuos entre a individualidade do ser humano e o mundo animal são invencíveis. Ohno é o artista da simbiose. E, igualmente, em forte contraste com muitos dos seus contemporâneos, sejam bailarinos de butoh ou outros, Ohno alegremente conduz os membros do público em direcção à redescoberta da sua comum humanidade. A sua última preocupação é que o espectador se erga no final de uma performance sentindo-se verdadeiramente grato por estar vivo.

Ele não é embaraçosamente emocional nem faz troça do sentimentalismo. A sua abordagem é directa, a sua arte arguta; não estranha às nossas atribulações quotidianas, Ohno não tenta dissimular as suas fragilidades. Em qualquer dos casos, acentua as nossas insuficiências. Os figurinos de Ohno em palco são cortados das mesmas roupas que as da sua mãe. E Midori Ohno e La Argentina são figuras positivas, personagens afirmativas, cuja missão na vida foi dar e partilhar.

Para apreciarmos totalmente os trabalhos de corpo de Ohno, devemos considerá-los no amplo contexto da sua evolução como ser humano, de modo a que, no seu trabalho, esteja tudo interconectado. Não há fronteiras entre o palco e o seu dia-a-dia. Kazuo Ohno não comuta entre a sua casa e o teatro. Intensificando as asas no palco, Ohno invariavelmente carrega consigo a bagagem do dia-a-dia, as frentes de guerra em que combateu, as suas tragédias e alegrias pessoais. Nada muda e no entanto nada se mantém tal como fora. A sua maquilhagem branca não esconde uma face marcada pela idade, os seus figurinos não camuflam um corpo menos vigoroso ou menos jovem.

Adaptado do texto publicado na revista Ballettanz XX, a quem se agradece a cedência. Tradução do inglês: Virgínia Mata.

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Texto de Tiago Manaia

capa 'The crying light' / Foto divulgação

capa 'The crying light' / Foto divulgação

No outro dia usei a expressão “comeback” para me referir ao japonês Kazuo Ohno, e chamaram-me a atenção. Disseram-me: “Tal expressão não se pode utilizar no seu caso pois ele nunca chegou a partir”. Usei-a porque no início do ano, os quatro cantos do mundo foram invadidos com imagens do coreógrafo.

Antony Hegarty, líder da banda Antony & the Johnsons, escolheu uma imagem de Kazuo Ohno para a capa do álbum The Crying Light. A sua escolha explicou-a como uma procura de um longo caminho artístico e espiritual. Com Kazuo Ohno, dizia à revista Les Inrockuptibles, aprendeu a encarar as etapas de vida como uma eterna primeira vez. Antony defendia-se assim da expectativa dos que aguardavam o seu regresso depois do êxito que encontrou com o álbum I Am a Bird Now. Ohno foi o seu ídolo de adolescência.

A imagem utilizada no disco de Antony & the Johnsons de 1977, ainda Ohno dançava. As imagens que são utilizadas nestas páginas são recentes, foram tiradas em novembro de 2008 pelo fotógrafo e designer de moda francês Jacques Le Corre. Nelas, Ohno está acamado, “dans son lit de mort” como diz a expressão francesa.

Le Corre tentava há já alguns anos fotografar o coreógrafo. Em 2008 enquanto viajava pelo Japão, entrou em contacto com a família de Ohno e foi-lhe dada autorização para avançar com o projecto de imortalizar pessoas que admira. Não pensava encontrar o coreógrafo no estado em que encontrou.

Tinha imaginado uma maquilhagem especial para as fotografias, tinha flores e uma coroa para lhe pôr nos cabelos. No jardim da casa de Ohno encontrou depois pequenos azulejos feitos pelos netos, fotografou-os para os sobrepor mais tarde sobre as imagens (é o efeito que se vê por cima do rosto de Ohno, na primeira foto) .

Jacques Le Corre tornou-se célebre por desenhar chapéus, por isso pensou naturalmente em fazer um chapéu com alguns dos elementos que levava para a sessão fotográfica. Abdicou desta ideia, devido ao estado débil de Ohno, utilizando somente a coroa . Agora constata que dessa coroa ressai algo de mortuário, mas naquele momento diz ter sentido outra coisa, “era a vida que continuava” – dizia-nos ao telefone de Paris – “a morte que se misturava com a vida, e a tornava irreal ”.

Kazuo Ohno esteve consciente durante toda a sessão fotográfica.

O coreógrafo viveu o auge da sua carreira tardiamente, entre os 70 e os 90 anos de idade. Diz-se que gostaria de poder morrer em palco.

O termo “comeback” não se aplica realmente a Ohno. “Para sempre”, sim.

On October 27, Japaneses choreographer Kazuo Ohno celebrates his 103th birthday. In tribute to the date and the importance of Ohno`s work – he is one of the founders of buto – idança brings two texts originally published in Obscena magazine, our partner. The first one, written by John Barret, brings an interesting biography and the second, by Tiago Manaia, deals with the choreographer`s influence in the work of the band Antony & the Johnsons. Check out both perspectives.

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Owner of a rare, graceful and also misleadingly simple movement style, Kazuo Ohno symbolizes, beyond dance, a philosophy about the limits of the body. A portrait of a man nicknamed ‘Tree’.

Text by John Barret

Kazuo Ohno, Japanese butoh artist, is a few months away from celebrating his one hundredth and third birthday, on October 27th. As a citizen and artist, Ohno was contemporary to the events that most deeply marked Japan’s recent history: the Kanto earthquake (1923), the Pacific War (1937-45), the atomic bombs dropped on Hiroshima and Nagasaki , the American occupation (1945-51), the highs and lows that followed the economic miracle of the 1960´s.

Until 2004, the year he retired from the stages, each of his appearances pushed the limits of the human body. Today, despite the Alzheimer haze, Ohno is still a true son of the theater. Maybe his last wish is to die on stage, surrounded by the ghosts of his dear friends, his mother and La Argentina. Born on October 27, 1906, in Hokkaido, the most northern island in Japan, Ohno is the oldest son of a fisherman and a mother he was particularly attached to. Despite having great artistic sensibility, his mother had little time to develop her talents, dedicating herself to the upbringing of ten children. Although professionally he was a physical education teacher, Ohno started his dance classes when he moved to Tokyo, in the beginning of the 1930’s. He was baptized in 1931 and became an active member of the Anabaptist church and has been a devout Christian ever since. After being drafted in 1938, he spent the next seven years in different war fronts, where he served as Captain in charge of provisions and was faced with inhumanity and carnage on a daily basis. In the aftermath of the Japanese surrender in the end of the Pacific War, he was held by Australian forces in New Guinea. Upon his repatriation in 1946, he resumed his position as gymnastics teacher in the Soshin Anabaptist Feminine School, in Yokohama, remaining there until his retirement in 1980.

Parallel to his teaching career , Ohno created a series of performances that had a seismic effect on the Japanese dance world. During the 1960`s he was an active part of the prosperous Butoh movement, collaborating regularly with Tatsumi Hijikata, another proeminent figure in the Japanese avant-guard. At this point, he also started to teach “open workshops” in the rehearsal studio he built with his own hands in the Yokohama suburb in Kamihoshikawa. In some aspects, Ohno was more of a philosopher than a dance teacher and his workshops summoned people from different backgrounds. It wasn’t unsual for students to have more questions after leaving the classes than they did before they set foot in the studio.

Curiously for a dancer, Ohno`s stage career only took off in the end of the 1940`s, when he was already in the beginning of his 40`s – an age in which dancers usually start thinking about reterement in Western dance circles. In Japan it’s not vulgar for a traditional dance artist to keep performing until his 80`s. His first public solo recital in Tokyo, in 1949, launched a career that continued without interruption until the late 1960`s.

A ten year hiatus followed, as he wandered through the desert of luck, a period in which he went through deep transformation, in his approach both to life and dance. His comeback took place in 1977 with a performance entitled Admiring la Argentina, which combined private history and phantasmagoric episodes in an unforgetable structure of great pain, cleverness and joy. Until then, Ohno had not been a target of universal ackowlegmet, but in 1980, when he performed it for a huge and welcoming audience in the Nancy International Festival, the world became aware Ohno`s reckless genius. It was the first of a series of creations dedicated to those he felt he was in debt with. As the title suggests, this piece is a tribute to Antonia Mercê y Luque (1890-1936), better known as La Argentina, probably the most celebrated Spanish dancer of the 20th century and who Ohno saw dancing in 1929. At the same time, and to some extent , Admiring La Argentina can be considered a powerful portrait of his personal muse, it is also highly confessional and marks his spiritual regeneration after a decade of solitude.

Owner of rare, gracious and also misleadingly simple movement style, Kazuo Ohno relentlessly pursued truth and atonement in his stage improvisations and his conversations with students during the workshops. His perfomances are famous for their spontaneity, humor and dark qualities and, sometimes, even for the coldness of their intensity. He doesn’t demand a vast space, neither does he propose the creation of a universe, he does it by simply remaining still, never seeming to belong to a specific space or time. Time and space become alive with the sheer strength of his presence. Some dancers, such as Ohno, become tenacious with fear and slavery, frailty, love and flaws. In all his performances, Ohno seeks to provoke an emotional U-turn in the way the audience respond to life, death and those around them. A central principle in his work is the idea that dance should conduct, in the same way, the dancer and spectator to question themselves about the way they conduct their life, individually and collectivelly.

A human dance

In no other piece is Ohno’s life philosophy more apparent than in My Mother (1981). He opens a tunnel under the conventional idea of dance as choreographic exercise. Existing somewhere in the interior of an imaginary universe, the brilliant atmosphere of this play, full of moments of nostalgia and melancholy, offers Ohno a platform to bare his soul, a soul tortured by many layers of guilt. His mother comes back to life as he graces the stage with a small serving table. All his creations are designed upon his personal experience. His life is the subject of his dance. Underlying a deep feeling of loss, what permeated this piece is the fact that he was no stranger to tragedy: his mother witnessed the death of two of her children before they reached adult age, Ohno`s younger sister died on the street run over by a car and his baby brother died in his arms. Loss is again the subject of another memorable piece, The Dead Sea (1985), about his father.

Within Ohno`s seeming madness and theatrical eccentricity lies a great humanity. Contrary to many contemporary artists, Ohno hardly worries about the drama of the isolated individual. From his perspective, we are born in and from this universe and, as such, there are unrelenting limits between one and the other. He passionately believes that mutual bonds between the individuality of the human being and the animal world are invincible. Ohno is an artist of symbiosis. Likewise, in a strong contrast with many of his contemporaries, either butoh dancers and others, Ohno happily conducts the members of the audience towards a rediscovery of their common humanity. His utmost preoccupation is that the spectator leaves the performance feeling actually happy to be alive.

He is not embarrassingly emotional nor does mock sentimentalism. His approach is straightfoward, his art is clever; no stranger to every day tribulations, Ohno doesn`t try to mask his vulnerabilities. In any case, he highlights his flaws. Ohno`s stage costumes are made of the same fabric as his mother`s clothes. And Midori Ohno and La Argentina are positive figures, affimative characters, whose mission in life was to give and share.

In order to fully appreciate Ohno`s body work, we must consider them within the ample context of his evolution as a human being, in a way that everything is interconnected in his work. There are no borders between the stage and everyday life. Kazuo Ohno does not commute between his home and the stage. Intensifying his wings on stage, Ohno invariably carries the luggage of everyday life, the war fronts he fought, his personal tragedies and joys. Nothing changes and, however, nothing stays the same. His white make-up doesn’t mask a face marked by the years and his costumes don’t hide a less vigourous or less youthful body.

This article was adapted from the text published at Ballettanz XX, who we thank.

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Text by Tiago Manaia

The other day I used the expression “comeback” to refer to Japanese choreograpger Kazuo Ohno and someone reproached me. They said: “Such expression does not apply in his case, because he never actually left”. I used it because in the beginning of the year, the four corners of the world were invaded by images of the choreographer.

Antony Hegarty, leader of the band Antony and the Johnsons chose an image of Kazuo Ohno for the cover of the album The Crying Light. His choice was explained as a search for a long artistic and spiritual path. With Kazuo Ohno, he told the magazine Les Inrockuptibles, he learned how to face life`s stages as an eternal first time. Antony thus defended himself from the expectation that surrounded his return after the success he found with the album I am a bird now. Ohno was his teenage idol.

The image used in the Antony & the Johnsons is from 1977, when Ohno still danced. The images used in this page are recent, they were taken in November 2008 by French fashion photographer and designer Jacques Le Corre. In them, Ohno is in bed, “dans son lit de mort”, as they say in French.

Le Corre had tried for years to photograph the choreographer. In 2008 while travelling through Japan, he got in touch with Ohno`s family and was authorized to advance in the project of immortalizing the people he admires. He didn’t think he would find the choreographer in the state he did.

He had imagined a special make-up for the photos, he had flowers and a crown to place on his hair. In the garden of Ohno`s house he found small tiles made by his grandchildren and photographed them to later superimpose the images (that’s the effect that can be seen in Ohno`s face in the first picture).

Jacques Le Corre became famous for designing hats, that`s why he naturally tought about making a hat with some of the elements que brought to the photo shoot. He gave up on this idea, due to Ohno`s fragile state and used only the crown. Now he realizes the crown would denote something of a mortuary, but at that moment he said he felt something else, “it was life that went on” – he told us over the phone from Paris – “death that was mixed with life and made it unreal”.

Kazuo Ohno was conscious during the whole shoot.

The choreographer lived the highlight of his career later in life, between his 70`s and 90`s. He said he would like be able to die on stage.

The term “comeback” doesn’t apply to Ohno. “Forever” does.