Ontem encontrei Helena

Ontem encontrei Helena

poderia ter sido Sinara, Rita, Isabella, Tânia, Paula, Marta, Jussara, Lissandra, Jaqueline, Sara, Isabel, Olga, Líria, Sarita, Alice, Lucimar, Fernanda, Cristina, Gilsamara, Iolanda, La Bomba, Carla, Lenine, Rosângela, Denise, Lenira, Konstanze, Patrícia, Nirlyn, Ellen, Lila, inclusive, isto poderia até ter acontecido apenas com uma mulher com pano na cabeça, ou ainda, Leda, Kátia, Edileuza, Dulce, Sílvia, Norma, Lia, Lúcia, Irani, Elis, Aline, e seguiria, tranquilamente…

mas foi com Helena.

Desde o início de 2011, Helena, como professora da Escola de Dança da UFBA, vem desenvolvendo um trabalho junto à Escola de Dança da FUNCEB.

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Historicamente sabemos que não só ENTRE essas duas instituições de formação, bem como ENTRE variados ambientes de Dança em nossa cidade há espaços vagos, fruto de um distanciamento isolante. Um campo da Dança que muito vivencia suas forças concentradas em cada nucleação e pouco em termos do estabelecimento de um malha expandida.

Todavia, existem ações a produzir ocupações desses espaços

VÁ! __________________________________________ GO!

Redanças [concebido por Lúcia Matos e coordenado em parceria com Fátima Suarez], Paredes em Movimento [do BTCA, concebido por sua bailarina Cristina Castro, junto ao Cine-teatro Solar Boa Vista], Tabuleiro da Dança [concepção e curadoria de Matias Santiago, Anderson Rodrigo e Jorge Silva], Experiências Compartilhadas [Col. Construções Compartilhadas], políticas de ocupação de espaços culturais como desenvolvido por Chicco Assis (Cine-teatro Solar Boa Vista) e Kátia Costa (Espaço Xisto Bahia), a mostra local em festivais como Interação e Conectividade [Grupo Dimenti, curadoria de Ellen Mello e Jorge Alencar], FIAC [inicialmente coordenado por Nehle Frank, Felipe Assis e Ricardo Libório], Viva Dança [concepção e curadoria da diretora e coreógrafa do Núcleo Viladança, Cristina Castro], bem como o Suburdança [realizado pelo Grupo Suburdança], articulando diversos grupos e mestres ENTRE mobilização, dança, arte e ação social.

devem haver mais!

ENTRE-tanto, essas ações, nos seus valores e potências, apresentam contornos de restrições relacionados ou a serem pontuais (no tempo) e/ou autocentradas (encerradas num centro de concepção e realização) e/ou auto-fixadas (fixas num único lugar próprio).

Nesse agora da história de isolamento e conexão, Helena dizia que há um problema que não é apenas do campo da Dança, nem só de Salvador. A pergunta é: “Como fazer com que a Universidade Pública cumpra o seu compromisso público?” –  disse ela. Ao longo do tempo, ela complementa, sempre houve um fosso entre a universidade e a sociedade. De um lado os teóricos e do outro os práticos, o que, na dança, inclusive, gera certos rancores entre universidade e sociedade.

A questão se sublinha quando falamos da Universidade Pública e seu papel de produtora de conhecimento a partir de e para a sociedade, sobretudo numa nação democrática; algo que o Brasil só começa a viver de maneira mais consistente nesse início de século.

Essa ação da professora Helena, em parceria com a também professora Gilsamara, é nomeada de ACC (Atividade Curricular em Comunidade). No tripé da Universidade Pública, Ensino/Pesquisa/Extensão, o ACC figura, em geral, nessa última ponta, que tem como missão, não só a divulgação e distribuição do conhecimento numa via direta com a comunidade, mas a implicação nos problemas da comunidade, alicerçando-os com possíveis soluções pautadas nesses conhecimentos produzidos pela Universidade.

SIM, …

Todavia essa ação que é democratizante, porque cria acesso ao patrimônio intelectual da Universidade, ao mesmo tempo, desafia os acadêmicos a cruzarem suas fronteiras não somente geográficas (seus portões), mas também suas fronteiras cognitivas e epistemológicas (seus óculos de ver o mundo e sua maneira de produzir esses óculos). Afinal, o pensamento hegemônico ocidental, do qual a Universidade é um núcleo representativo, produziu, como aponta Boaventura dos Santos, uma cartografia tal, com linhas capazes de discriminar o que está “deste lado” e o que está “do outro lado”. De maneira que tudo que se refere ao “outro lado” simplesmente é invisibilizado e desconsiderado, a partir dessa linha abissal.

A(o) final [?], há também um patrimônio intelectual do “outro lado” da linha.

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Composta por alunos de diversos cursos da UFBA (Dança, Psicologia, Economia, Fisioterapia…), a conversa do início das atividades nesse semestre foi marcada pela valorização do não-saber e da troca. Como não-saber tem saber dentro, o que está em questão é que para a efetivação da aproximação com trocas, há de se disponibilizar, como disse Helena, “um pouco sem enxergar direito ainda, sem saber identificar o que deve já estar bem na nossa cara”.

Sem enxergar bem na nossa cara ——————————————–

————————————————Sem enxergar nossa cara —–

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—————————————- Enxergar sem nossa cara ————-

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———————— Bem! Sem enxergar ———————————–

——————————————————————————- Sem

enxergar “Bem” —————————————————————–

——————————————————————-Sem nossa cara.

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Ô,Ô                     Ô|Ô             Ô,Ô          Ô|Ô             Ô|Ô              O|O                      O,O

Ô,Ô                        Ô|Ô                                        Ô,Ô                            Ô|Ô

Ô|Ô

Será que, não somente Universidade/Comunidade, mas também as  demais nucleações, estabelecidas no campo da Dança em Salvador, com suas geografias e seus óculos particulares, não tem mantido, ENTRE si, a lógica “deste lado”/“do outro lado”, reproduzindo práticas de auto-empoderamento apoiadas na invisibilização do outro?

Talvez sim.

Quando?

Talvez não.

QuANDO?

Entremos aí.

A foto acima refere-se a um percurso criativo do Núcleo Vagapara, que se iniciou com o vídeo-dança Mulheres de Magritte e teve como última configuração uma expografia interativa chamada Isto é apenas uma mulher com pano na cabeça.

Eduardo Rosa, além de colunista desse sítio, é, em Dança, educador [Escola de Dança da Funceb] e artista [integrante-fundador do Col. Construções Compartilhadas]. Especialista e Mestre em Dança pelo PPGD-UFBA.