Plataformas que diminuem distâncias | Platforms that shorten distances

Diminuir as distâncias entre os artistas, promover a circulação de informações e a troca de experiências profissionais. Com as facilidades tecnológicas cada vez mais a mão, os profissionais de dança, performance (e artes em geral) estão conseguindo conjugar os verbos aí da primeira frase com mais facilidade. Multiplicam-se na rede as plataformas virtuais que derrubam as fronteiras entre países e culturas para aproximar pessoas com trabalhos afins que poderiam nunca se cruzar…

É exatamente isso que propõem everybodys toolbox e o open-frames.net (OF). As duas plataformas, criadas na Europa, funcionam como bibliotecas ou arquivos virtuais, onde é possível acessar informações postadas pelos próprios artistas sobre seus trabalhos. É uma forma independente e direta de colocar os criadores em contato uns com os outros.

Além de dar ao artista a possibilidade de arquivar seus trabalhos, a everybodys toolbox – criado por Mette Ingvartsen e Alice Chauchat, com apoio do Danish Council – oferece ferramentas de ‘jogos’ e de criação de conteúdo para incentivar a troca de experiências e impressões entre os participantes. No Impersonation Game, por exemplo, um artista fala sobre seu trabalho, dando todos os detalhes do processo criativo. Depois, seu interlocutor – que deve ser um outro artista – reconta o que ouviu, como se fosse sua a criação. O objetivo é dar ao autor um olhar exterior sobre o trabalho em questão.

Outra interessante ferramenta disponível na plataforma é a de self interview, onde o artista elabora e responde suas perguntas sobre o processo criativo. O artista brasileiro Neto Machado – que conheceu Mette e o everybodys toolbox durante o projeto 6 months 1 location/ex.e.r.ce 08 –  experimentou e aprovou a ferramenta. “A autoentrevista é uma ferramenta muito útil para mim em diferentes fases da criação. Ela pode ser uma tentativa de organizar os pensamentos espalhados na cabeça e nas anotações, pode ser um registro de algo que já está claro e pode ser também uma forma de instigar novas possibilidades que ainda estão sem forma. Como sou eu mesmo que me entrevisto, posso encaminhar as questões na direção que mais me interessa no momento”, analisa Neto, que usou a plataforma para expor o processo criativo do trabalho Infiltration. Todas as 20 autoentrevistas publicadas estão disponíveis em formato PDF. Para acessar o arquivo, clique aqui.

Para Neto, o formato não engessado da plataforma, que traz possibilidades de acrescentar metodologias de discussão do trabalho com os outros artistas é o grande trunfo do everybodys toolbox. “Isso cria uma rede de compartilhamento importantíssima. É, sem dúvida, uma das coisas que faz essa plataforma ser tão importante, principalmente porque o que ela tenta é compartilhar processo e não produto. Quem lê pode usar as ferramentas para descobrir outras coisas, sem ter um modelo definido do que essa ferramenta deveria gerar”, elogia. “A plataforma traz nas suas proposições uma política que vem contra o pensamento do artista gênio solitário ou da ideia brilhante. Ela é uma tentativa de fortalecer o pensamento de que as ideias compartilhadas se fortalecem ao invés de se enfraquecer. Quando compartilho metodologias, compartilho algo que alguém pode fazer exatamente da forma como descrevi, mas que com certeza vai gerar diferentes possibilidades”, completa.

Promover a aproximação de artistas que podem estar desenvolvendo projetos afins também é o objetivo do open-frames. Aqui, a ideia é um pouco mais simples que a da everybodys toolbox: uma plataforma virtual – uma espécie de arquivo aberto – onde os artistas ligados à dança e performance postam seus projetos respeitando um determinado padrão. No open-frames não há jogos ou ferramentas de interação, o principal objetivo é o arquivamento de trabalhos.

“Buscamos inspiração em sistemas semianônimos como o myspace, facebook, blogcom etc, atrás de uma rede online específica para trabalhos de performance. Como resultado, hoje nós temos um arquivo que dá ênfase à facilidade de leitura dos conteúdos”, explica Heike Langsdorf, um dos criadores da plataforma.

Em tempos de diminuição das distâncias com ajuda da tecnologia, pipocam projetos inspirados em redes sociais, como o movimento.org, uma parceria do idança com a Red Sudamericana de Danza. No caso do OF, no entanto, o objetivo é estritamente a troca profissional, não há perfil dos membros. O open-frames é a evolução natural do projeto Frogs OS, uma rede de artistas profissionais que funcionou entre 2000 e 2008, com sede na Bélgica e que também era capitaneada por Langsdorf. Agora, os 36 trabalhos produzidos pelo Frogs OS estão disponíveis no open-frames. “A decisão de criar o open-frames foi uma forma de continuar o que dava certo no Frogs OS enquanto tira vantagem das possibilidades das redes virtuais”, completa Langsdorf, que trabalha em colaboração com Ula Sickle e Matthieu Collet.

O funcionamento da rede é simples: basta entrar em contato com os responsáveis pela administração do OF pelo email info@open-frames.net e eles enviarão um login de acesso para postar os trabalhos. É obrigatório publicar um texto descritivo (em inglês) do que ficará online, além de um vídeo ou até 15 imagens. Também há a opção de adicionar um pdf, tour data e de fazer links com outros sites. A pesquisa pode ser feita pelo título do projeto, nome do artista ou pela natureza do trabalho: arquitetura, dança, performance, instalação, novas mídias, fotografia etc.

Um dos projetos encontrados no OF é a performance Curator’s cut (foto 2), de 2007, postado pela balletanz.  O coletivo C&H divide o palco com vários extras como um cachorro, uma planta e um minishow de rock. Tudo em 25 minutos.  “A contínua entrada de trabalhos e a comunicação entre os artistas e os usuários parece ser o caminho para que o open-frames continue a funcionar conforme sua intenção original: como um arquivo aberto”, analisa Langsdorf.

Leia abaixo a entrevista completa que o idança fez, por email, com Heike Langsdorf:

Como o projeto Frogs OS se transformou no open-frames?

Frogs OS conscientemente evitou ser uma unidade estruturada, subsidiada ou patrocinada. Ele era uma rede temporária de pessoas e projetos que tinham como proposta um modo de trabalhar e produzir alternativo.  A ideia de iniciar uma rede para criar e apresentar trabalhos – normalmente muito diversos na forma, mas sempre mostrando um traço experimental comum – foi pensada como uma forma de dar visibilidade e credibilidade ao trabalho experimental. A decisão de criar o open-frames foi uma forma de de Frogs OS seguir com seus objetivos principais enquanto tira vantagem das possibilidades das redes virtuais.

Como nasceu a ideia de que o open-frames funcione como um “open archive”? A implementação do site foi fácil? Como foi?

Em seus sete anos de funcionamento, Frogs OS produziu inúmeros projetos de pesquisa e produções que foram continuamente documentados num blog, mas isso nunca foi publicado oficialmente. A sequência lógica parecia ser criar uma biblioteca, oferecendo a possibilidade de apresentar e publicar trabalhos. Transformando os outcomes do Frogs OS em arquivos online incentivaria uma crescente (mesmo que limitada) comunidade de usuários. Enquanto estávamos desenvolvendo e construindo o site, tomamos o cuidado de não criar mais um fórum online exclusivo o que, apesar de sua boa vontade, exige interação pessoal grande e se restringe a um círculo pequeno de pessoas. Ao contrário, nós buscamos inspiração em sistemas semianônimos como o myspace, facebook, blogcom etc, buscando por uma rede online específica para trabalhos de performance. Como resultado, hoje nós temos um arquivo que dá ênfase ao conteúdo e à legibilidade do conteúdo dos trabalhos. Open-frames não apenas apresenta trabalhos finalizados mas também está interessado em comunicar conceitos, estudos e pesquisas.

Open-frames é melhor em algum aspecto?

Ele não é necessariamente melhor que Frogs OS, mas é consequentemente mais aberto, já que não possui restrições físicas.

O fato de ser uma comunidade restrita às pessoas envolvidas com arte não dificulda o grande público de ter acesso aos trabalhos publicados?

Em comparação com outros arquivos, open-frames adotou um formato raramente encontrado na internet. A maior qualidade do open-frames é a limitação a um específico campo cultural, uma limitação que é difícil de manter sem a figura clássica do curador.

Desde 1º de janeiro open-frames já tem inúmeros participantes. O que eles têm dito sobre essa possibilidade de conexão entre artistas?

Os participantes parecem estar bastante interessados em conferir a possibilidade de se juntar a uma seleção de trabalhos e pessoas que eles desejam ser elas mesmas ‘autocuradoras’. Depois de um primeiro momento de entusiasmo e surpresa com o interesse das pessoas, o que nós vemos agora é uma interessante porém problemática questão entre entre qualidade x quantidade. A contínua entrada de trabalhos e a comunicação entre os artistas e os usuários parece ser o caminho para que o open-frames continue a funcionar conforme sua intenção original: como um arquivo aberto.

To shorten the distance between artists, promote the circulation of information and the exchange of professional experiences. With technological applications at hand, dance, performance (and arts in general) professionals are being able to use the verbs of first sentence more easily. Virtual platforms that bring down the borders between countries and cultures to join people with similar works who could never meet…

That´s exactly what everybodys toolbox and open-frames.net (OF) propose. Both platforms, created in Europe, work as virtual libraries or archives, where it is possible to get information posted by the artists themselves about their work. It is an independent and direct way to put creators in contact with each other.

Besides giving the artists the possibility to archive their work, everybody´s toolbox – created by Mette Ingvartsen and Alice Chauchat, with the support of the Danish Council – offers tools for ‘games’ and creation of content to encourage the exchange of experiences and impressions between the participants. In the Impersonation Game, for instance, an artist talks about his/her work, giving every detail of the creative process. Afterwards, the listener – who should be another artist – tells what he heard, as if it were his/her own creation. The goal is to give the author an outside look about a given work.

Another interesting tool available in the platform is the self interview, where the artist elaborates and answers questions about the creative process. Brazilian artist Neto Machado – who got to know Mette and everybodys toolbox during the 6 months 1 location/ex.e.r.ce 08 project – tested and approved the tool. “The self-interview is a very useful tool for me in different stages of creation. It can be an attempt to organize thoughts scattered in my mind and notes, it can be a record of something that is already clear and it can also be a way to instigate new possibilities that are still shapeless. Since I interview myself, I can conduct the questions in the direction that is most interesting at the time”, analyzes Neto, who used the platform to show the creative process of the project Infiltration. All 20 self-interviews that were published are available in PDF format. Click here to access the file.

For Neto, the non-plastered format of the platform, which allows the possibility to include the work’s debate methodology is the biggest asset of everybody’s toolbox. “This creates a very important sharing network. It´s, no doubt, one of the things that make this platform so important, especially because it attempts to share the process, not the product. Those who read it can use the tools to find other things, without having a pre-defined model this tool should generate”, he praises. “The platform brings, in its proposals, a policy that goes against the idea of the lonely genius or the brilliant idea. It´s an attempt to strengthen the idea that shared ideas strengthen each other, instead of weakening. When I share methodologies, I share something that someone can use in the exact same way I described, but it will certainly generate different possibilities”, he completes.

To promote the approximation of artists that may be developing similar projects is also the goal of open-frames. In this case, the idea is a little simpler than everybodys toolbox’s: a virtual platform – a kind of open archive – where dance and performance artists post their projects following a determined pattern. At open-frames there are no games or interaction tools, the main goal is archiving works.

“We seek inspiration in semi-anonymous systems like myspace, facebook, blogcom etc, looking for a specific online network for performance works. As a result, we have today an archive that emphasizes easiness to read the contents”, explains Heike Langsdorf, one of the creators of the platform.

In times of shrinking distances with the help of technology, many projects inspired in social networks are surfacing, like movimento.org, a partnership between idança and Red Sudamericana de Danza. In the case of OF, however, the aim is strictly professional exchange, there are no member profiles. Open-frames is a natural evolution from Frogs OS, a network of professional artists that worked between 2000 and 2008, based in Belgium and also headed by Langsdorf. Now, the 36 works produced by Frogs OS are available at open-frames. “The decision to create open-frames was a way to continue what was working in Frogs OS while taking advantage of the possibilities of virtual networks”, completes Langsdorf, who works in collaboration with Ula Sickle and Matthieu Collet.

The working of the network is simple: the artists only have to get in touch with the managers of OF at info@open-frames.net and they will send an access login to post works. It is mandatory to publish a descriptive text (in English) of the content that will be online, besides a video, or at least 15 images. There is also the possibility to post PDF files, tour data and links to other websites. The search can be done by the title of the project, name of the artist or the nature of the work: architecture, dance, performance, installation, mew media, photography etc.

One of the projects found at OF is the performance Curator’s cut (foto 2), from 2007, posted by balletanz. The collective C&H share the stage with many extras, like a dog, a plant and mini rock concert. All in 25 minutes. “The ongoing input of works and communication between artists and users seems to be the way for open-frames to keep working according to its original intention: as an open archive”, analyses Langsdorf.

Read the complete interview idança did with Heike Langsdorf, via e-mail.

How did the Frogs OS project become open-frames?

Frogs OS consciously avoided being a structured, subsidized or sponsored unity. It was a temporary network of people and projects proposing an alternative mode of working and producing. The idea to initiate a network for creating and presenting related works, often very diverse in form but always showing a clearly experimental approach, was intended as a way to develop a certain visibility and credibility for experimental work. The decision to create open-frames was a way to continue the underlying aims of Frogs OS while taking advantage of the networking possibilities of the Internet.

How this idea of open-frames as an “open archive” was born? Was the implementation of the site easy? How did it work?

In its 7 years of working, Frogs OS produced numerous research projects and productions that were continuously documented on a blog but that were never published in a serious way. A logical continuation of Frogs OS seemed to be to create a library, offering the possibility to present and publish works. Recycling the outcomes of Frogs OS into an online archive should ideally give rise to an expanding (though limited) community of users. While developing and constructing the site, we took care not to create another exclusive online-forum, which despite its goodwill demands highly personal interaction and therefore mostly remains restricted to a small circle of people, more or less known to each other. On the contrary we took inspiration from semi-anonymous online systems like myspace, facebook, blogcom etc, aiming for an online network specific to performance-based work. Something not existing yet in the way we imagined it. As a result we find today an archive that emphasizes the content and readability of the content of works. open-frames not only presents finished works but is also interested in the communication of concepts, studies as well as research, showing concrete outcomes.

What do you think is better now with open-frames?

open-frames is not necessarily better than Frogs OS but is consequently more open, since it is less restricted to a physically bound community.

Doesn’t the fact that the public of open-frames is restricted to people involved with arts prevent the wider public to know about the works published there?

In comparison with other archives, upload/download-providers and search-engines, open-frames adopted a format that is rarely found on the Internet. The biggest quality of open-frames is its limitation to a specific cultural field, a limitation, which is hard to maintain without a classical curatorship. Open-frames achieves this by alternatively working in a very personal way: There is a constant dialogue between the administrators of the site and the users in order to guarantee that the rules for registering, posting and uploading are respected and to ensure the readability of the posted material.

Since January 1st, open-frames already has many participants. What are they saying about this new possibility of connection between artists?

The participants seem to – be the most interested in / check out – the possibility of joining a selection of works and people they themselves decide to be part of and by this become self-curators. After the first enthusiasm and surprise about the amount of interested people, right now what we see emerging is an interesting & problematic issue about quality vs quantity. Ongoing ‘work’ on the site and continued ‘communication’ between us the providers and the site’s users, seems to be the way for open-frames to continue to function as it was originally intended to function: as an open as well as active archive.