Qual dança e a quem isso importa? | ¿Cuál danza y a quién le importa?

A dança de nosso tempo foi sempre ao encontro de novos caminhos na criação e em busca de vocabulários novos. Essa dança, por onde faz sua procura? Que outros encontros procura produzir nesta busca estética? Para uma dança que se pergunte qual é o corpo da dança no mundo de hoje, quais são suas novas tensões e qual é o vocabulário que nos vem delas? Como é composto o núcleo que dispara uma atividade artística? São somente seus artistas? O que cerca o trabalho artístico para que ele seja como é? Qual é a ação sustentável da criação na dança no campo da arte? Qual é a margem da ação, com e sem políticas culturais, que enquadram à criação na dança?

Eu me pergunto quantas vezes pensamos em dança como: geração da identidade e da sustentação da cidadania pela produção artística da dança; uma experiência comunitária de integração para a afirmação da sociedade civil e do público nos espaços de participação democrática; sua ação na construção do ser latino-americano; arte que produz identidade cultural na construção de um mundo solidário; sua ação na construção de uma humanidade global; suas propostas que põem em jogo o “corpo” deste sujeito-ator fundamental para a geração de bem estar; qual é a dança que constrói esse “corpo”; qual é o corpo social da dança?; sua produção como ação econômica sustentável.

No discurso habitual que nós dedicamos à dança, a coreografar ou ensinar a dança em todos seus aspectos, o mais habitual é um discurso comum do protesto, da queixa pela falta absoluta da sustentação à atividade em qualquer um destes níveis, pela hostilidade do mundo do teatro e da música em geral, pelo desinteresse a incorporar-nos como arte do teatro, pela indiferença dos meios de comunicação de massa na difusão da dança e do setor privado em financiamento dos programas de dança… A pergunta é: o que nós estamos fazendo ao fazer a dança, ensinar dança, no discurso da dança? Em que extensão não somos ao menos co-responsáveis neste vazio em torno de nossa atividade?

O vazio está ao redor ou é interior também?

Acreditamos nós que podemos gerar, para além da arte da dança, contextos de possibilidade para a existência de nosso trabalho artístico?

Qual dança? E a quem isso importa?

Eu acredito que durante anos, os anos que eu venho fazendo a dança com outros, que a pergunta que nos chama é primeira, e da segunda eu tenho poucas notícias. Possivelmente porque eu comecei a fazer a dança no fim da ditadura com o grupo Danza Abierta, e aquele que parecia ser uma abertura a uma dança condizente com seu tempo foi uma inauguração e um ato final ao mesmo tempo. Me reencontro com esse espírito muitos anos mais tarde, ao fazer uma coreografia num distrito de Buenos Aires chamado La Cava: Extraños en casa.

A vinda da democracia na Argentina não foi acompanhada por uma explosão democrático-participativas das práticas, ao contrário foi seguida da instalação de uma cultura que congelou esse tipo de propostas. De militantes nos convertemos em cidadãos e de lá a consumidores.

Eu costumo chamar “a arte no coração da democracia” a palestra que faço onde mostro o trabalho de arte em contextos de pobreza, do projeto Criar Vale a Pena, da fundação que eu presido. Eu o faço porque acredito que a arte é o motor fundamental da cultura. Digo cultura em seu sentido específico: todo esse mundo da produção simbólica em torno do teatro, do cinema, das artes plástico, da música e da literatura.

Bom, essa cultura – e particularmente a dança dentro dela _ está paralizada. Rapidamente, pela hegemonia frenética do neoliberalismo selvagem instalado em nossos territórios, “democratizados” nos anos 80 e consagrados a esta religião nos 90. Mas também porque a dança segue concentrada em se perguntar “que dança?”, separadamente do “a quem isso importa?”, enquando isto acontece. Esta última pergunta contem a chave da conexão da dança com um mundo da arte e da cultura capazes de produzir as condições de seu próprio desenvolvimento.

Uma dança, a fim poder gerar seu próprio contexto de existência, deve poder comprometer-se mais globalmente com os processos sociais que em todos os sentidos constróem uma sociedade equitativa, eficaz e sustentável. Qual é o potencial da dança, da arte e da cultura então, na geração do “outro mundo possível”, slogan do Fórum Social Mundial que eu carrego contente? Por um momento vamos mover a pergunta sobre a pobreza dos recursos para a dança e vamos à pobreza como fenômeno global.

Sustentamos em Porto Alegre – e proponho que mantenhamos aqui – que a pobreza, às portas do terceiro milênio, deixou de ser necessária no mundo. Os recursos suficientes existem no mundo de modo que cada pessoa possa se desenvolver.

Eu proponho que o problema atual da humanidade é não ser capaz de gerar a construção cultural que torna possíveis as ações de bem estar para uma humanidade global. O problema da redistribuição da riqueza é um problema de justiça que excede os limites dos estados nacionais e que somente pode ser resolvido em um plano de convergências interculturais. A arte é a ferramenta fundamental da construção cultural e da comunicação entre indivíduos culturais, em especial a arte de novas tendências, que é o lugar privilegiado da geração do pensamento crítico, da transcendência do cotidiano e da ruptura com os determinismos. Esta arte de novas tendências mais do que uma construção é umaestrutura de fissuras e por essa razão é o primeiro lugar da realização de utopias e dos sonhos.

A proposta dos programas de arte e de organização social como os quepromove a Red Sudamericana de Danza implica em gerar institucionalidade em torno dos processos da produção artística, que assim se convertem em processos de organização social.

Esta nova institucionalidade garantirá a existência dos contextos de legitimidade e plausibilidade que por sua vez permitirão gerar ações transformadoras que logo terão impacto e altos níveis de realização nos campos diversos da construção social do sentido. Haverá “um sentido comum” em torno da transformação social. A partir disso, duas perguntas. A dança pode avançar nesse sentido? A dança pode ser um campo para a construção social do sentido?

Estou enquadrando o problema da ausência das políticas em favor do desenvolvimento cultural como um efeito natural do desconcerto mundial das culturas, resultado de uma concentração extraordinária de poder no chamado primeiro mundo. Sugiro, para interpretar a limitação que têm hoje os investimentosartísticos e culturais nos países centrais riquísimos como uma ação coerente com a instalação de uma modalidade feroz do capitalismo: o neoliberalismo. Os estados nacionais mais ricos do mundo foram deixando seu interesse na arte e isto parece razoável, já que a metade dos 10 maiores produtos internos brutos no mundo é de grandes empresas.

As empresas não pensam como nações, e nem necessitam mais destas últimas porque eram apenas barcos em que navegavam em seu plano para conquistar espaços econômicos no mundo. Agora estes cortes territoriais não são mais necessários e talvez os estados-nação estejam caminhando para envelhecer e deteriorar-se em um processo de fusão-divisão-invasão-segregação que promete ser extremamente sangrento. Há um livro de Gilles Lipovestky, El ocaso del deber, que explica o abandono dos deveres éticos no desenvolvimento econômico de capital financeiro internacional.

Naturalmente as sociedades em retrocesso como a nossa, ou à beira da extinção como todo o continente africano, não encontram sentido em trabalhar na construção da identidade através das atividades expressivas e artísticas _ simplesmente porque o genocídio, a guerra e a fome ocupam o centro da cena. Aquela é a moldura terrível, no meu entender, da falta das políticas de acesso à cultura e do reinado do discurso meramente economicista.

Não obstante, “eppur se muove”: a arte em contextos críticos existe. Qual pode ser, neste contexto, a maneira da inserção da dança?

Eu acredito que seria bom para nós conduzir a dança pela rota indireta de gerar com suas ações um fortalecimento de um capital social que instale uma sociedade que precisa da dança e uma dança que precisa da sociedade em que está inserida. Onde começamos? Transferindo da pergunta “que dança?” para a pergunta “a quem isso importa?”.

O lugar da dança como a arte cênica é diretamente ligado à posição estratégica que ocupa na construção do capital social. E o que é o capital social? E que importância tem na construção de uma sociedade equitativa e próspera? Sergio Slipczuk tem uma breve explicação que me pareceu muito clara sobre o que é capital social, num artigo que se chama “O efeito tango na sociedade Argentina”:

“Nos últimos anos cresceu o consenso nas atmosferas especializadas sobre a existência de quatro categorias de recursos disponíveis em uma sociedade:

a) o capital ambiental, formado pelos recursos naturais;

b) o capital construído, composto de todos os bens e atividades do intercâmbio desenvolvidos pela sociedade;

c) o capital humano, definido pelos graus do nutritição, saúde e instrução dos membros da sociedade;

d) o capital social, que focaliza as condições das relações entre os membros dasociedade.

O capital social, que tem sido levantado recentemente como a variável da análise, inclui as relações da integração ou da coesão social, a confiabilidade das curvas sociais, os valores e as condutas dos indivíduos com relação aos demais integrantes de sua própria sociedade.

O capital social pode ser medido, concretamente, pelos graus de confiança entre os atores sociais diferentes, pelas formas como as normas de coexistência social são respeitadas e pela capacidade dos atores sociais em estabelecerrelações de associação e solidariedade.

Depois das tendências utilitaristas impostas pela ortodoxia globalizadora, o capital social pode parecer um indicador romântico à primeira vista, pouco relacionado às necessidades de produtividade e competitividade próprias de nosso tempo.

Não obstante, os diversos estudos feitos em qualquer lugar no mundo confirmaram que a existência de um capital social consolidado (expressado como a capacidade do DAE (dispositivo automático de entrada) mútuo, a participação compartilhada em redes comuns e em operações comunitariás) têm um papel importante para suprir as falhas do mercado, melhorar a eficiência dos indivíduos e aumentar o desenvolvimento de toda a comunidade.”

Esta reflexão centra-se no assunto da associação e da solidariedade e com ela eu retornaria então os palco e à dança, a fim de fazer uma última pergunta: por que a dança é a mais cenicienta das artes? Eu não posso de fato dizer muito científico. Eu suspeito somente que à dança que não aconteceu – ou aconteceu pouco – o que aconteceu à pintura, música, poesia e teatro, quando “o novo homem ” construiu suas imagens no começo do século passado.

Mesmo nossa pioneira Isadora Duncan – que sabiamente não deixou escolas, nem danças, nem o mais mínimo passo, mas uma imagem de dissolução e leveza, quase uma indicação: “dissolvam-se, desapareçm das velhas formas, não elaboram nada até estarem certos de que encontraram um corpo novo” _ estava também amarrada aos cânones do academicismo clássico. Toda a dança moderna que ali nasce e vem até nossos dias, mesmo a aparentemente mais revolucionária, está apegada ao clássico e portanto dentro da molduraideológica da sociedade hierárquica. A dança moderna não produz nenhuma ruptura do paradigma e então está longe de todo o processo crítico do status quo imperante. Terá sido toda a dança um reprodutor estético da ordem estabelecida? Terá o elitismo sua fonte na chamada dança acadëmica?

Quando proponho um programa de oportunidades para os excluídos, secretamente sopro um programa para que a dança contemporânea tenha uma nova oportunidade de se pôr ao tom com o movimento de nosso tempo. Seria importante ousar especificar este encontro entre a dança de novas tendências e a dança nos contextos da exclusão social.

Talvez possamos trabalhar numa hipótese que amarrasse duasvariáveis de relação improvável: a nova dança cênica e os novos modelos da gestão social. A dança cênica podia recuperar seu caráter inovador, experimental, poderia mesmo recuperar o risco que implica pôr em jogo vocabuláriosnovos, se pudesse dialogar com as ações comunitárias. A dança poderia reecontrar-se com as tendências novas, as chamadas de “cutting-edge”, afirmando-se no diálogo com as outras artes e com a realidade fora de seu”micromundo” específico. A dança romperia num âmbito maior a sentença da exclusão e do isolamento sob a qual vive em nossos países. Mas a dança terá que dar antes de receber.

A dança se aboleta na cena porque ao dialogar com o social entra em pânico da desilusão (ou dissolução?). A dança como o produto estético, como evento poético, deve procurar o estalido da linguagem fora dos dispositivos coreográficos. Nós mulheres e homens da dança devemos submergir no mundo para poder produzir o ansiada estalido do universo poético e então ter criado. Talvez seja tudo simplesmente para isso, para se reencontrar outra vez com a possibilidade de criar.

Para ir para o mundo, a fim criar o mundo paralelo ao mundo, que é o que basicamente nós amamos.La danza de nuestro tiempo ha ido siempre al encuentro de nuevos caminos en la creación y de nuevos vocabularios. Esa danza, ¿por dónde busca?.¿Qué otros encuentros busca producir en esa búsqueda estética?Una danza que se pregunte cuál es el cuerpo de la danza en el mundo de hoy, ¿cuáles son sus nuevas tensiones y cuál es el vocabulario que proviene de ellas?¿Cómo está compuesto el núcleo que dispara una actividad artística?¿Son sólo sus artistas?. ¿Qué es lo que rodea la obra artística para que esta sea tal?¿Cuál es la acción sustentable de la creación en danza en el campo del arte?.¿Cuál es el margen de acción, con y sin políticas culturales que encuadran la creación en danza?.

Me pregunto cuántas veces pensamos en la danza en términos de generación de identidad y sostenimiento de ciudadanía a través de la producción artística en danza; una experiencia comunitaria de integración para la afirmación de la sociedad civil y los espacios públicos de participación democrática; su acción en la construcción del ser latinoamericano; arte que produce identidad cultural en la construcción de un mundo solidario; su acción en la construcción de una humanidad global; sus propuestas que ponen en juego “el cuerpo”de ese sujeto-actor fundamental para la generación de bienestar; ¿Cuál es la danza que construye ese “cuerpo”?, ¿cuál es el cuerpo social de la danza?; su producción como acción económica sustentable.

En el discurso habitual de nosotros que nos dedicamos a bailar, coreografiar o enseñar danza en todos sus aspectos, lo más habitual es encontrar un común discurso de protesta, de queja por la falta absoluta de apoyo a la actividad en cualquiera de estos niveles, por la hostilidad del mundo del teatro y de la música en general, por el desinterés por incorporarnos como arte teatral, por la indiferencia de los medios de comunicación en la difusión de la danza y del sector privado en la inversión de capitales dirigidos al financiamiento de programaciones de danza… La pregunta es ¿qué hacemos nosotros haciendo danza, enseñando danza, hablando de danza?.

¿En qué medida no somos al menos co-responsables de este vacío alrededor de la actividad?.

¿Es alrededor o es vacío adentro también?.

¿Creemos que podemos nosotros generar además de arte de danza, contextos de posibilidad para la existencia de nuestra obra artística?.

¿Cuál danza?; y ¿a quién le importa?

Creo que durante años, los años que vengo haciendo danza con otros, la pregunta que convoca es la primera, y de la segunda tengo pocas noticias. Posiblemente porque empecé a hacer danza sobre el final de la dictadura con Danza Abierta, y eso que parecía una apertura a una danza comprometida con su tiempo fue una inauguración y final en el mismo acto. Me reencuentro con ese espíritu muchos años después haciendo una coreografía en la villa del Gran Buenos Aires llamada La Cava: Extraños en casa.

El advenimiento de la democracia en la Argentina no fue acompañado de un estallido de prácticas democrático-participativas sino que más bien estuvo seguido de la instalación de una cultura que congeló este tipo de propuestas. De militantes pasamos a ciudadanos y de allí a consumidores.

Estoy llamando “el arte en el corazón de la democracia” a la charla en la que presentaré el trabajo de arte en contextos de pobreza, de Crear Vale la Pena, la fundación que presido. Lo hago en el entendimiento de que creo que el arte es el motor fundamental de la cultura. Estoy hablando de cultura en su sentido específico: todo ese mundo de producción simbólica alrededor del teatro, el cine, la plástica, la música y la literatura.

Bueno, esa cultura -y particularmente la danza dentro de ella- está paralizada. Por lo pronto por la hegemonía frenética del neoliberalismo salvaje instalado en nuestros territorios, “democratizados” en los ochenta y consagrados a esta religión en los 90. Pero también porque la danza sigue concentrada en preguntarse “¿qué danza?”, separadamente de “¿a quién le importa?”, mientras esto sucede. Esta última pregunta contiene la clave de la conexión de la danza con un mundo de arte y cultura capaces de producir las condiciones de su propio desarrollo.

Una danza, para poder generar su propio contexto de existencia, debe ser capaz de comprometerse más globalmente con los procesos sociales que en todas direcciones construyan una sociedad equitativa, vigente y sustentable. ¿Cuál es el potencial de la danza, del arte y de la cultura entonces, en la generación de “otro mundo posible”, consigna del Foro Social Mundial de Porto Alegre? Desplacemos por un momento la pregunta por la pobreza de recursos para la danza y vayamos a la pobreza como fenómeno global.

Sostuvimos en Porto Alegre – y propongo que sostengamos aquí – que la pobreza en las puertas del tercer milenio ha dejado de ser necesaria en el mundo. Existen en el mundo los recursos suficientes para que cada persona pueda desarrollarse como tal.

Propongo que el problema actual de la humanidad es el de no poder generar la construcción cultural que haga posible la realización de acciones de bienestar para una humanidad global. El problema de la redistribución de la riqueza es un problema de justicia que excede los límites de los estados nacionales y que sólo puede resolverse en un plano de convergencias interculturales. El arte es la herramienta fundamental de la construcción cultural y de la comunicación entre culturales singulares, en particular el arte de nuevas tendencias, que es el lugar privilegiado de generación de pensamiento crítico, de trascendencia de lo cotidiano y de ruptura de los determinismos. Esta arte de nuevas tendencias más que una construcción es una estructura de fisuras y que por eso es el primer lugar de realización de las utopías y de los sueños.

La propuesta de programas de arte y organización social como los que promueve la Red Sudamericana de Danza implica generar institucionalidad alrededor de la articulación de procesos de producción artística que así devienen procesos de organización social.

Esta nueva institucionalidad garantizará la existencia de los contextos de plausibilidad y legitimidad que a su vez permitirán generar acciones transformadoras que luego tengan impacto y altos niveles de realización en los diversos campos de la construcción social de sentido.Habrá un “sentido común” alrededor de la transformación social. Desde estas ideas, ¿puede avanzar la danza en esta dirección?, ¿puede ser la danza un campo para la construcción social de sentido?.

He encuadrado el problema de la ausencia de políticas a favor del desarrollo cultural como un efecto natural del desguase mundial de las culturas, en oportunidad de una extraordinaria concentración del poder en el llamado primer mundo.

Sugiero interpretar la restricción que tienen hoy las inversiones artísticas y culturales en los riquísimos países centrales como una acción coherente con la instalación de una modalidad feroz del capitalismo: el llamado neoliberalismo.

Los estados nacionales más ricos del mundo se han dejado de interesar por el arte y es razonable, pues la mitad de los 10 primeros productos brutos en el mundo son empresas.

Las empresas no piensan como naciones, y han dejado de necesitar a estas últimas pues eran apenas los paquebotes en los que navegaban en plan de conquista de espacios económicos en el mundo. Ahora estos cortes territoriales no son más necesarios y los estados-nación quizás vayan a envejecer y deteriorarse en un proceso de fusión-división-invasión-segregación que promete ser extremadamente sangriento.

Hay un libro de Gilles Lipovestky, El ocaso del deber, que explica el abandono de los deberes éticos en el desarrollo económico del capital financiero internacional.

Por supuesto que las sociedades en retroceso como las nuestras, o las en vías de extinción como todo el continente africano, no encuentran sentido a trabajar en la construcción de identidad a través del aliento de actividades expresivas.-artísticas: eso es porque sencillamente los genocidios, la guerra y el hambre ocupan el centro de la escena. Ese es el terrible marco, a mi entender, de la falta de políticas de acceso a la cultura y del reinado del discurso meramente economicista.

Sin embargo, “eppur si muove”: el arte en contextos críticos existe.¿Cuál puede ser, en este marco, el camino de inserción de la danza?

Creo que sería bueno abocarnos a la promoción de la danza por la vía indirecta de generar con ella acciones que contribuyan a fortalecer un capital social que instale una sociedad que necesite de la danza y una danza que necesite de la sociedad en la que está inserta. ¿Por dónde empezar? Por trasladarnos de la pregunta “¿qué danza?” a la pregunta “¿a quién le importa?”.

El lugar de la danza como arte teatral estará directamente vinculado a la posición estratégica que ocupe en la construcción de capital social. Y ¿qué es el capital social?; y ¿qué importancia tiene en la construcción de una sociedad equitativa y próspera?. Me pareció muy clara la breve exposición de Sergio Slipczuk sobre qué es Capital Social, que está en un artículo que él llamó “El efecto Tango en la Sociedad Argentina”:

“En los últimos años ha crecido el consenso en los ambientes especializados sobre la existencia de cuatro categorías de recursos disponibles en una sociedad:

a) El capital medioambiental, integrado por los recursos naturales;

b) El capital construido, compuesto por todos los bienes y actividades de intercambio desarrollados por la sociedad;

c) El capital humano, definido por los grados de nutrición, salud y educación de los integrantes de la sociedad;

d) El capital social, que enfoca las condiciones de las relaciones entre los integrantes de la sociedad.

El capital social, que se ha incorporado recientemente como variable de análisis, incluye las relaciones de integración o cohesión social, la confiabilidad de los lazos sociales, los valores y conductas de los individuos en relación con los restantes integrantes de su propia sociedad.

El capital social puede medirse, concretamente, por los grados de confianza entre los distintos actores sociales, por la forma en que se respetan las normas de convivencia social y por la capacidad de los actores sociales de establecer relaciones de asociación y solidaridad.

Siguiendo las tendencias utilitaristas impuestas por la ortodoxia globalizadora, el capital social podría parecer a primera vista un indicador romántico, poco relacionado con las necesidades de productividad y competitividad propias de nuestra época.

Sin embargo, diversos estudios realizados en todo el mundo confirmaron que la existencia de un capital social consolidado (expresado como la capacidad de ayuda mutua, la participación en redes solidarias y en acciones conjuntas para sostener causas comunitarias) tienen un rol importantísimo para superar las fallas del mercado, mejorar la eficiencia de los individuos y aumentar el desarrollo conjunto de toda la comunidad.

El capital social alimenta la capacidad de resolver problemas sociales sobre la base de la confianza y la construcción conjunta de alternativas viables, evitando mecanismos de segregación o maltrato de los más débiles, minimizando el uso de la violencia para resolver conflictos y reduciendo la destrucción de espacios o bienes comunitarios.

Debe señalarse la estrecha relación que existe entre la percepción de confianza y la motivación hacia la participación comunitaria, y también entre la percepción de integración y la disposición a la asociatividad y la solidaridad.

Es decir que la percepción de confianza es un insumo previo para la participación, y la percepción de integración es un insumo necesario para instrumentar la solidaridad o la cooperación en beneficio mutuo. Pero también la confianza se realimenta como resultado de la participación y la cohesión se multiplica como efecto de la asociación y la solidaridad.”

Esta reflexión nos centra en el tema de asociación y solidaridad y con ella volvería entonces al terreno del escenario y de la danza, para hacer una última pregunta: ¿por qué la danza es la cenicienta de las artes? No puedo en verdad decir nada muy científico. Sólo sospecho que a la danza no le ocurrió – o le ocurrió poco – lo que le ocurrió a la pintura, la música, la poesía y el teatro, cuando el “nuevo hombre” construyó sus imágenes a principios de siglo.

Aún nuestra pionera Duncan, que sabiamente no nos dejó escuela, ni danzas, ni el más mínimo paso, sino una imagen de disolución y liviandad, casi una indicación: “disuelvan, desaparezcan de las viejas formas, no elaboren ninguna hasta estar seguros de que han encontrado un nuevo cuerpo”, estaba atrapada en los cánones del academicismo clásico. Toda la danza moderna que allí nace hasta nuestros días, aún la aparentemente más revolucionaria, está atrapada dentro del mundo clásico y entonces dentro del marco ideológico de la sociedad jerárquica. La danza moderna no produce ninguna ruptura de paradigma y entonces está lejos de cualquier proceso crítico del statu quo imperante. ¿Habrá sido en última instancia toda la danza una estética reproductora del orden establecido?; ¿tendrá el elitismo su fuente en la llamada danza académica?.

Cuando propongo impulsar un programa de oportunidades para excluidos, secretamente aliento un programa de oportunidades para que la danza contemporánea tenga una nueva oportunidad de ponerse a tono con el movimiento de nuestro tiempo. Sería importante atreverse a explicitar este encuentro entre la danza de nuevas tendencias y la danza en contextos de exclusión social.

Quizás podamos trabajar sobre una hipótesis que vincule dos variables de relación improbable: la nueva danza de escena y los nuevos modelos de gestión social. La danza de escena podría recuperar su carácter innovativo, experimental, podría incluso recuperar el riesgo que implica poner en juego nuevos vocabularios, si pudiera entrar en diálogo con acciones comunitarias. La danza podría también reencontrase con las nuevas tendencias, el llamado “cutting edge”, afirmándose en diálogo con las otras artes y con la realidad por fuera de su específico “micromundo”. La danza rompería en un conjunto mayor la condena de exclusión y aislamiento a la que está sometida en nuestros países. Pero la danza deberá entregar antes de tomar.

La danza se abroquela en el escenario porque en diálogo con lo social entra en pánico de desilusión (¿o disolución?). La danza como producto estético, como acontecimiento poético, debe buscar el estallido del lenguaje por fuera de los dispositivos coreográficos. Las mujeres y los hombres de la danza debemos sumergirnos en el mundo para poder producir el anhelado estallido del universo poético y entonces haber creado. Quizás sea simplemente todo para eso, para reencontrarse con la posibilidad de crear.

Ir hacia el mundo, para crear el mundo paralelo al mundo, que es lo que básicamente amamos.