Quem sabe não abusa | The one that knows and does not abuse it

A mais recente publicação de dança no Brasil vem de ventos do sul e numa edição cuidadosa. Organizado por Jussara Xavier, Sandra Meyer e Vera Torres, em Florianópolis, o livro “Tubo de Ensaio – Experiências em dança e arte contemporânea” (Edição do Autor, 2006) traz um DVD encartado e registra a memória do projeto homônimo ao mesmo tempo que abre a reflexão para assuntos como formação, política e processos de criação cênicos. São ensaios, depoimentos, entrevistas, imagens, notas técnicas e homenagens em 120 páginas de numa respeitável diagramação de Fernando Rosa.

Embora tenha aumentado o número de publicações sobre dança, não seria nada arriscado dizer que elas ainda são poucas face ao que se pode produzir num país como o nosso. Por isso, publicar uma obra já tem o mérito (e, simultaneamente, a responsabilidade) de colaborar com a divulgação de conhecimento e informação e com a memória das artes. “Tubo de Ensaio – Experiências em dança e arte contemporânea” cumpre os critérios acima, ainda que em alguns momentos de forma timida. Como uma proveta de experimentação, o livro abre espaço para manifestação de vozes dissonantes em diferentes modos de falar, reconhecendo o valor dos profissionais que participaram de sua programação.

Ao longo de 22 edições, entre 2001 e 2005, o projeto Tubo de Ensaio promoveu apresentações, discussões e oficinas no Espaço 1, do Centro de Artes da Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina (UDESC). Uma sala de aula que se transformava de acordo com as intenções de uso. O formato de associar obra-debate-formação do Tubo de Ensaio ressoa o modelo adotado em outras cidades, o que parece revelar uma característica recorrente dentro da ação cultural recente. Acolhedor, o guarda-chuva do empreendimento abrigou trabalhos nos mais diversos estágios de pesquisa. Abrir espaço para possibilitar o exercício de pensar o corpo torna patente uma preocupação legítima de suas organizadoras.

Dividido em três grandes partes, a importância desse volume pode ser medida pela contribuição que exerce para o aumento de material didático que possa ser útil nos mais diversos tipos de formação (incluindo as informais), em disciplinas de cursos universitários, escolas de dança e teatro, grupos de estudos etc. Para citar alguns rápidos exemplos: os escritos do diretor Jefferson Bittencourt, que elaboram um testemunho honesto e sensível a respeito de um fazer artístico que envolva complexas relações entre música e representação; e o esclarecedor depoimento dado pelo coreógrafo Alejandro Ahmed para o jornalista Gabriel Collaço, sobre o espetáculo SkinnerBox. Ambos são leituras relevantes para interessados em processo de criação.

Já Ivo Godois discorre sobre iluminação através de notas técnicas sobre projetores e refletores, traz esclarecimentos a respeito da profissão, além de estudos de caso para a cena e para a dança. O artigo de Christine Greiner sobre arte na universidade também não pode deixar de ser lido, pelo traçado que a autora faz da relação entre esses dois sistemas, ao longo da história.

Na discussão sobre política cultural, aprofundar a análise das relações entre o ambiente catarinense e o Tubo de Ensaio enriqueceria muito o debate a respeito da compatibilidade das leis e ações governamentais, com as necessidades dos profissionais da área. Caberia perguntar: o projeto utilizou incentivos das leis? Quais as dificuldades envolvidas nesse apoio? Quais os benefícios? Quais os pontos ineficientes e os eficientes? No que essas formas de conduzir a política colaboram eficazmente na produção cultural brasileira?

Para o futuro, o “Tubo de Ensaio Ano 6” realizará quatro edições em 2007 e apresentará uma novidade: um edital para concessão de três bolsas de pesquisa no valor R$ 10.000,00 destinadas a apoiar processos investigativos de artistas e grupos catarinenses. Além disso, haverá o acompanhamento de um pesquisador e quatro oficinas de dança abertas à comunidade. Aqui a política se apresenta como uma iniciativa independente que vem a alinhavar um rasgo que o governo deixa descoberto, por não executar uma ação específica para o Estado e para o Município. Processos investigativos precisam de subsídios justamente por se tratarem de processos, e não de produtos, onde o risco definitivamente não é perfumaria. A atual versão do projeto foi aprovada pela Lei de Incentivo a Cultura de Santa Catarina e está em fase de captação.

Para uma re-edição ou futuras edições do livro seria recomendável refletir em como aproveitar a mídia do DVD na direção de tomá-la como um documento histórico e memorial de grande porte, que suporta uma razoável quantidade de informação tornada acessível em banco de dados. O pout-pourri de pequenos trechos, fragmentos de vários encontros, nos dá uma noção de conjunto mas sub-aproveita a potencialidade de armazenamento e as soluções criativas que esse meio permite em termos de visualização de dados.

Por fim, um último aspecto que valeria a pena destacar esta nos pontos de conexão da coletânea. Seria o caso de propor uma costura com entrelaçamentos mais sofisticados, imbuindo-a de um pensamento crítico e político acentuados que poderiam tornar uma publicação como esta ainda mais valiosa. Fôlego! O ensaio não pode parar!

O livro é doado para instituições, universidades, bibliotecas e centros culturais. Para pessoas físicas o preço de venda é R$ 15,00 mais as despesas de postagem. Os pedidos podem ser realizados através dos emails sandrameyer@globo.com ou jussarajxavier@hotmail.com.

The most recent dance publication in Brazil comes from south winds and in a careful edition. Organized by Jussara Xavier, Sandra Meyer and Vera Torres, in Florianópolis, the book “Test tube – Experiences in dance and contemporary art” (Author’s edition, 2006) brings an inserted DVD and registers the memory of the homonymous project while opens the reflection on subjects such as education, politics and creation process. There are essays, statements, interviews, images, technical notes and homages in 120 pages of a respectable design by Fernando Rosa.

Although the number of publications about dance has increased, it would not be risky to say that there are still few in regard of what a country like ours can produce. That said, to launch a printed work already has the merit (and, simultaneously, the responsibility) of collaborating with the spread of knowledge and information and the memory of arts. “Test tube – Experiences in dance and contemporary art” fulfills the criteria above, even if in a timid way in some moments. As a test tube of experimentation, the book opens space for manifestation of dissonant voices in different ways of speak, recognizing the value of the professionals that participated of its programming.

During 22 editions, between 2001 and 2005, the project Test Tube promoted presentations, discussions and workshops in Space 1, in the Arts Center at University for the Development of Santa Catarina (UDESC). A classroom that was transformed according to the intentions of use. The format of associating work-debate-formation that Test Tube implemented resonates a model adopted in other cities, what seems to reveal a recurring characteristic inside the recent cultural action. Welcoming, this umbrella sheltered works in diverse phases of research. The opening of a space to exercise the thinking about the body makes visible the organizers’ legitimate concerns.

Divided in three big parts, the importance of this book can be measured by its contribution to the increase of educational stuff that can be helpful in diverse kinds of education (including informal), in disciplines of university courses, dance and theater schools, study groups etc. To point out some quick examples: the writings of the director Jefferson Bittencourt, that elaborate a sensible and honest testimony about a artistic making that involves complex relations between music and representation; and the enlightening statement by choreographer Alejandro Ahmed to journalist Gabriel Collaço about the performance SkinnerBox. Both prominent readings for those interested in creation process.

Ivo Godois share some light through technical notes about projectors and reflectors, bringing explanations about the profession, apart from case studies about the scene and the dance. Christine Greiner’s article about art in the university also cannot be forgotten because of the guidelines that the author offers on the relation between those two systems, during the history.

In the argument about cultural politics, to deep the analysis of the relations between the Santa Catarina scene and Test Tube itself would enrich a lot the debate on the laws and governmental actions compatibility with the needs of the area professionals. In that sense, would make sense to ask: did the project use incentive laws? Which were the difficulties involved in that support? Which are the benefits? Which are the inefficient points and the efficient ones? Do those forms of politcy efficiently collaborate to Brazilian cultural production?

For the future, “Test Tube VI” will have four editions in 2007 and will present a novelty: a call for three research grants of aprox. U$ 4.500,00 each aimed to support investigative process of artists and groups from Santa Catarina. It will also include the follow up of a researcher and four dance workshops to the community. Here the policy presents itself as an independent initiative that comes to fill a gap that the government leaves uncovered for not developing a specific action for the State and for the Town. Investigative processes need subsidies mainly because it is a matter of processes, not products. Here the risk definitely is not perfumery. The present version of the project was approved by the Incentive Cultural Law of Santa Catarina and is in fundraising phase.

For a re-edition or future editions of the book would be a good recomendation to reflect on how to take advantage of the DVD media in order to aproach it like a historical document and large-scale memorial, that bears a reasonable quantity of information accessible in database. The pout-pourri of small parts and fragments of several meetings can give a notion the whole, but undertake advantage of the storage and creative solutions potential that this environment offers.

Finally, a last aspect that would be worth to highlight are the connection points of the collection. It would be good to propose a tie up with more sophisticated links, mixing in an accentuated criticand politician thought, that would make it into a publication even more valuable. Breath! The reseahsal cannot stop!

The book is donated for institutions, universities, libraries and cultural centers. For individuals, the selling price is U$ 6,50 plus taxes of posting. Requests can be done through sandrameyer@globo.com or jussarajxavier@hotmail.com.