São Paulo sede do 8º Instituto Hemisférico, por Beth Lopes

* Arthur Moreau, colaborador do idanca.net, cobriu o 8º INSTITUTO HEMISFÉRICO, um encontro bienal que acontece em diversas partes da América do Sul. Este ano o evento aconteceu em São Paulo e, além do relato, Arthur preparou uma série de quatro entrevistas com alguns dos participantes: Diana Taylor, Beth Lopes, Zeca LigiéroLúcio Agra.

Abaixo vocês podem conferir a segunda entrevista, com Beth Lopes:

Beth Lopes: Elizabeth Silva Lopes é pesquisadora e professora doutora do curso de Artes Cênicas, da Universidade de São Paulo. Também é coordenadora do curso de especialização Performance e Linguagens Contemporâneas, do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Foi a principal organizadora do 8o Instituto Hemisférico, em São Paulo. Concedeu-me a seguinte entrevista no dia 16 de janeiro.

1 – Beth, o 8o Instituto Hemisférico era par acontecer no ano passado, 2012, no México. Mas devido a eleição presidencial, eles preferiram não fazê-lo. Como foi esse processo?

        Beth Lopes: Não aconteceu no México por razões ligas à questões da política mexicana. Estava a três meses do Encuentro que iria acontecer em março de 2012, na cidade do México quando eles desistiram. A Diana Taylor [fundadora e diretora do Instituto Hemisférico], em dezembro [de 2011], me ligou e perguntou se eu estaria interessada em realizar o evento no Brasil do modo como ele havia sido planejado para o México. Ampliaríamos apenas a seleção dos convidados e as inscrições para o público brasileiro. Eu disse que tinha interesse, mas que precisava de parcerias. Nós já estávamos planejando fazer o Hemisférico aqui para 2016. Propus para o meu departamento, o de Artes Cênicas, da USP, para a direção da ECA e depois disso propus a parceria com o SESC-SP devido a necessidade de teatros grandes. A partir daí eu fiz muitos projetos para angariar fundos e intermediei as negociações com o SESC e o Instituto Hemisférico. Consegui apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão [da USP], da FAPESP [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], da CAPES [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], da própria Escola de Comunicação e Artes, do meu Departamento [de Artes Cênicas].

        Com o SESC-SP foi uma mediação muito difícil, creio que por conta dos outros inúmeros eventos que eles promovem. Trabalhei até o último mês sem saber se eu poderia contar mesmo com o SESC-SP. Foi bem desgastante.

2 – Vocês convidaram a SP Escola de Teatro?

        BL: Na verdade nós precisávamos de um espaço para o Trasnocheo, o cabaret, um momento noturno em que são apresentadas pequenas performances com um espaço descontraído para conversar, dançar, comer e beber. A estrutura desse Encontro é fixa. É composta de três partes: o momento voltado para a pesquisa que acontece de manhã; um momento de debates, mesas largas que participam um número maior de pessoas, durante a tarde; e a noite o Trasnocheo. Foi uma ideia dos produtores, do Ricardo [Muniz Fernandes] e da Carminha [Gongora], de convidar a SP Escola de Teatro.  Fomos visitá-la e gostamos muito. Tanto o Ivan [Cabral, Diretor Executivo] quanto a Lúcia [Camargo, Coordenadora da Extensão Cultural] nos receberam com muito calor, interesse e com muito carinho. Foi assim que  nós conseguimos o espaço para fazer o Trasnocheo, além de uma complementação de verba que nos possibilitou atender as necessidades técnicas.

        Considerando a importância que o Hemisférico tem para nós brasileiros, artistas, acadêmicos, ligados à política e à performance, achei que valeu à pena. Acho que foi um passo muito importante. O meu maior interesse é poder estabelecer um diálogo potente com os meus vizinhos latino-americanos por meio da pesquisa, e da performance e política, que considero um modo de estabelecer relações produtivas.

3 – Como foi o processo de curadoria do Hemisférico?

        BL: A curadoria do Hemisférico aqui no Brasil recebeu um pacote. Já tinha o processo de curadoria feito para o [Encontro que iria acontecer no] México. A curadoria internacional já estava praticamente pronta. O que nós fizemos foi ampliar a curadoria de [escolha e convite a artistas] brasileiros, de alguns espetáculos e performances nacionais. Para o México, já haviam performances e oficinas de brasileiros, ampliamos esse número em cerca de 20 %.

4 – Foi difícil escolher quais artistas brasileiros seriam convidados para o evento?

        BL: Sim, foi bastante difícil. Pois não temos um movimento grande nesse movimento nessa vertente que o Hemisférico faz, que é essa relação entre política e performance. Não temos isso no Brasil. Temos teatro e política. Performance muito menos. Agora talvez com um interesse um pouco maior, mas ainda muito ligada à ideia de performance-arte.

        Essa ideia que esta embutida no Hemisférico, que são os estudos da performance, é uma área que não dialogamos muito, não conhecemos muito. Eu acho que esse que é o grande saldo positivo: permitir que a gente trabalhe esse lugar de fronteira.

5 – Qual é o potencial histórico e pedagógico que o acontecimento do 8º Instituto Hemisférico aqui na cidade de São Paulo pode ter?

        BL: De certa forma eu já contemplei um pouco essa pergunta um pouco antes. Tudo isso que eu falei do que significa integrar todos os países da América, as divergentes visões sobre performance política. Acho que essa é a conquista, esse é o marco histórico e pedagógico

6 – O atual prefeito de são Paulo, o Fernando Haddad (PT), na solenidade da posse, afirmou que pretende uma política baseada que ele acredita que existe amor em São Paulo. Ele pretende fazer ações que convirjam para as pessoas conviverem melhor entre si. A senhora acha que isso tem a ver com a ideologia do Hemisférico?

        BL: Acho que sim. Acho que depende de como ele vai propor isso, que concretizações vão ser propostas para essa ideia de amor. Eu não sei que ideia de amor ele esta pensando.

7 – A princípio, a sra. entende que a performance política se distancia de uma característica mais espetacular?

        BL: Não necessariamente. Acho que isso não interessa. A performance pode ser altamente espetacular e até completamente afinada com a performance política.