Sobre como dançar um mapa

De forma geral, redes são criadas para trocas de informação, para emancipação de um grupo e para uma associação democrática em torno de objetivos comuns. Dessa forma, a Red Sudamericana de Danza constituiu-se, em Santiago, em janeiro de 2001, com cerca de 100 profissionais principalmente do Chile, além da Argentina, Uruguai e Paraguai (naquele momento o Chile reunia melhores condições para a produção do evento, aquecidos que estavam com a presidência do Presidente Lagos).

A bailarina uruguaia Natacha Melo, no período que viveu na Europa, conheceu vários bailarinos sul americanos. Vinha com alguma regularidade ministrar workshops na América do Sul e observou a falta de conexão entre profissionais dentro do continente, assim como de dentro para fora.

A primeira ação no sentido de estabelecer uma conexão foi a realização do Encuentro Sudamericano de Danza Contemporânea, composto de oficinas de dança contemporânea, mostras de espetáculos e audiovisuais e debates sobre o desenvolvimento da dança. Durante 10 dias tentou-se vincular os interesses de diferentes áreas relacionadas ao desenvolvimento da dança com bailarinos, coreógrafos, educadores, produtores, programadores e gestores culturais.
Neste mesmo ano, Natacha Melo foi convidada a falar sobre a RSD na Mostra de Dança Independente, em Assunção. Uma teia começou a ser criada e contatos, pouco a pouco, tornaram-se mais sistemáticos.

O 2do Encuentro Sudamericano de Danza aconteceu, em 2002, em Montevidéu. Criadores e gestores culturais impulsionaram projetos de qualificação profissional nas diversas áreas desse campo artístico, além da análise de projetos propostos para a RSD por estes quatro países. As conferências versaram sobre o intercâmbio e a projeção cultural da América do Sul.

No Brasil, Natacha fez contato com o Festival Internacional da Nova Dança, o Rumos Itaú Cultural Dança, o Sesc São Paulo e o Panorama RioArte, e foi em 2004, no interior de São Paulo, durante o Festival de Danza de Araraquara que aconteceu o 3do Encontro da RSD e nesta ocasião o Brasil entrou para a RSD. Painéis sobre a situação da dança nestes cinco países, mesas de discussão, acordos e grupos de trabalho foram organizados.

Num breve resumo histórico, o primeiro momento da rede foi caracterizado por mapeamentos e agrupamentos de profissionais interessados em estabelecer associações para intercâmbios de informações e projetos na América do Sul. O segundo momento foi caracterizado pelo apoio da Hivos Instituto Humanista para a Cooperação com Países em Desenvolvimento, em 2005. A ONG procurou a RSD oferecendo patrocínio para a expansão da rede. O financiamento é específico para inclusão de países prioritários para esta organização como Bolívia, Peru, Cuba, Equador e países da América Central.

A primeira fase da expansão durou dois anos. Inicialmente, a partir dos próprios contatos da RSD e de pesquisa pela internet. Fez-se um levantamento de profissionais, institutos e eventos destes países. Após vários contatos, começou-se a produzir viagens para encontros com a classe em Cuba, Peru, Bolívia e Costa Rica. Em São José já havia um movimento organizado para a criação de uma rede de dança na América Central, lá estavam reunidos profissionais da Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e Costa Rica. A presença da RSD foi fundamental para mediar um encontro e acordos, já que a desconfiança predominava a relação entre essas pessoas e países. Pela primeira vez, esses profissionais se reuniam num projeto comum e nesses dois anos já houve quatro reuniões, sempre com mais de um representante de cada país e estão em curso projetos como a publicação de um livro sobre a história da dança na América Central, intercâmbio entre festivais e a criação de um site para RCD que estará hospedado no site da RSD.

O 4to Encuentro Regional de la Red Sudamericana de Danza, em Montevideo, em 2005, foi decisivo. Lá se percebeu o resultado do esforço para a expansão tanto da rede quanto dos núcleos de cada país. Encontraram-se representantes de 16 países. Um coletivo se firmou com pessoas de toda América do Sul, Central e Cuba e um primeiro contato com o México. Todos com compromisso de dedicar tempo para trabalhar para projetos regionais e seus intercâmbios. Nesta reunião, ficou evidente que vazios importantes foram preenchidos, contatos, convênios, informações, associações que começavam a se tornar sistemáticas. Este encontro marcou também a transição de uma coordenação geral para um grupo de gestão.

O Encuentro Regional 2006 se realizou conjuntamente com o III Festival Mundial de Solos y Duetos, organizado pelo Instituto de las Artes Escénicas y Musicales da Venezuela. Analisou-se o trabalho do último ano, os resultados dos grupos de trabalho e a dinâmica dos relacionamentos. Tratou-se de discutir a descentralização da rede e uma maior participação e distribuição de tarefas. A busca de encontrar um modo mais equilibrado de gestão levou à criação de um grupo de produção que se responsabilize principalmente pela produção dos Encontros Anuais e pela captação de recursos. Além desse, um grupo que proponha metodologia para trabalhos em rede, assessore e acompanhe os grupos de trabalho e os projetos acordados durante o Encontro e otimize a comunicação entre os grupos. Uma assessoria informal já vinha sendo feita, desde o início da rede, com a FLASCO, Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais de Buenos Aires, na pessoa do professor Hector Poggiese, especialista em gestão participativa.

Na prática, há três níveis de pertencimento à rede: – os usuários do site que usufruem, por exemplo, do banco de dados e dos textos disponíveis (mensalmente um país produz conteúdo para o site); – vinte membros de dezessete países que estão em comunicação mais permanente através dos grupos de trabalho e o grupo de gestão (atualmente com quatro membros, um da América Central, um de Cuba e dois da América do Sul) que dirige a agenda permanente, consulta os membros sobre decisões importantes e acompanha todos os projetos e grupos.

Apesar de processos próprios, os traços comuns entre os diversos países são: conjunturas políticas fraturadas que refletem na segmentação dos grupos; dança tradicional extremamente forte e a dificuldade de diálogo com grupos que realizam novas investigações em dança; ausência de universidades de dança ou a dificuldade de implantar, nas que existem, modos de desenvolver pesquisa teórica e/ou prática próprias da dança contemporânea, além da ausência de coletivos organizados de dança (hoje, estas características já não são reconhecidas em algumas regiões do Brasil). Há ainda diferenças, nestes países, nos níveis de gestão, produção e acesso à informação.

Mesmo depois de cinco anos, estamos aprendendo a pensar em rede e descobrindo modos de trabalhar de pontos geograficamente distantes e prioritariamente comuns.
Fechamos 2006 voltando a discutir os conceitos matrizes da RSD: – contribuir para a integração regional, através principalmente de encontros e circulação de seminários teóricos-práticos; – projetos que emancipem os grupos membros, através de transferência de informação, capacitação sobre como trabalhar em rede e em alguns casos, de doação de equipamentos tecnológicos para diminuir a irregularidade nas condições de comunicação dos diversos centros; – buscar o encontro de novas formas de organização e transformação social com novas formas de desenvolvimento artístico, através da criação de projetos específicos com e para os grupos que compõem a rede.

Convidamos todos a visitarem a sede da Red Sudamericana de Danza em www.movimiento.org