Xenofobia, genocídios e exílio são pontos de partida em novo espetáculo de Marcelo Gabriel

Estreia nesta sexta, dia 19 de fevereiro, Danças do Abismo 2, de Marcelo Gabriel, no Sesc Pinheiros em São Paulo. O espetáculo parte de questões como o êxodo e migração massiva dos que escapam de guerras e genocídios no Oriente Médio, a ambivalência entre a generosidade da Alemanha a e a xenofobia nacionalista da Hungria. O processo de criação teve início há um ano, tomando como ponto de partida a pesquisa teórica feita pela jornalista e artista plástica Carmen Diniz.

O primeiro Danças do abismo é de 2006 e foi apresentado em Berlim, no festival In Transit. Naquele contexto, ele falava a partir de seu contato com as comunidades indígenas brasileiras. “O que media as duas partes é a minha interpretação de um xamã que traz o estigma de sua cultura. O que as diversas formas de exílio trazem em comum são a questão da assimilação das diferenças”, conta.

Contestar e reagir artisticamente à crueldade da realidade social é uma característica sempre presente no trabalho de Marcelo, que se pode identificar desde seu primeiro solo, Dança Burra, de 1987, que também deu nome à companhia, de uma pessoa só, que fundou no mesmo ano. Marcelo recebeu dois prêmios da Academia Paulista de Críticos de Arte (APCA), de concepção cênica, por O estábulo de luxo, de 1995, e de melhor interpretação por O nervo da flor de aço, de 1996. No primeiro fazia uma denúncia do descaso das autoridades em relação às pessoas soropositivas, no segundo, investigava os reflexos do Golpe de 1964 no Brasil contemporâneo.

No campo das artes, vem desde sempre transitando entre a dança, o teatro, a performance, as artes visuais, o vídeo, e normalmente é responsável por todos os elementos presentes em seus trabalhos, figurinos, música, iluminação. Além disso, já estudou, entre outras coisas, aikidô, gastronomia, acupuntura.

Perguntei se essa experiência de habitar tantos espaços diferentes e talvez a sensação de pertencer a vários lugares teriam alguma relação com as questões de território que aparecem neste trabalho. A resposta foi: “Perdi a percepção de limite entre corpo e universo. Danças que perderam o sentido físico revelam instâncias irrepresentáveis da barbárie, que vão além da simples teatralização e se afirmam enquanto sistemas de sobrevivência”.

Sobre seu processo de criação em Danças do Abismo 2, Marcelo conta: “Meu processo de criação é caótico, detesto ensaios e locais formais de construção de um espetáculo como uma sala de ensaio. Existem momentos em que escrevo textos e me baseio neles para criar uma dramaturgia física. No presente o ator se tornou mudo, qualquer subterfúgio de linguagem se torna alegoria, ilustração, perante um tema como este, simplesmente não consigo materializá-lo. É impossível ilustrar um tema assim em palavras, movimentos. Qualquer subterfúgio de linguagem se torna pueril. Optei por fazer um grande lamento que acontece em tempo real”.

Veja o trailer de Danças do Abismo 2:

Danças do Abismo 2
Dias 19 e 20 de fevereiro (sexta e sábado), às 20h30
Duração: 50 minutos
Classificação: 10 anos
Ingressos: R$25 (inteira), R$ 12,50 (meia) e R$ 7,50 (associados)

Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo – SP
Tel.: 11 3095 9400