Wagner Schwartz abre o Projeto 7×7 que cobriu a Bienal SESC de Dança 2013

*Idealizado pela artista Sheila Ribeiro,  7×7 é um projeto de analises crítico-poéticas de trabalhos artísticos escritos por artistas. Desde 2009, o 7×7 olha para o que acontece em dança contemporânea dentro e fora de festivais. Nascido durante o Festival Contemporâneo de Dança (SP) até hoje, já cobriu o Festival Panorama (RJ), Olhares sobre o CorpoFID (MG), Panorama Sesi (SP), Bienal SESC de Dança 2013 (Santos), dialogando com os eventos de dança do Brasil e produzindo + de 100 críticas artísticas.

A equipe conta com os interlocutores: Arthur Moreau, Rodrigo Monteiro,  Bruno Freire, Laura Bruno e Caroline Moraes. O idança, parceiro do projeto desde seu início, publica mais uma série de 7 críticas do projeto.Para conhecer todas as criticas já produzidas, acesse o site.

7×7 – Cristian Duarte x Wagner Schwartz = A HISTÓRIA PRECISA DE BONS NARRADORES. BONS NARRADORES TÊM VIDA PRÓPRIA.

*por Wagner Schwartz em torno de Hot 100 – The Hot One Hundred Choreographers, de Cristian Duarte, na Bienal Sesc de Dança 2013.

Parece que ele está sozinho, como geralmente parecem as coisas vistas de longe. Mas é possível estrear uma forma para observá-lo; também de longe, entrar em seu movimento aos poucos; se aproximar com cuidado, como pedem as grandes obras de arte. Elas sempre trazem no seu corpo, no seu espaço imaterial, uma quantidade de relações com o tempo, com seu andamento autorizando a quem quer que seja atualizá-lo; duvidar de sua presença.

As danças que Cristian revisita pertencem a certos momentos históricos e a ele. Um dançarino nasceu – o mundo tornou a começar. Se na literatura, Guimarães Rosa reinventa o tempo através do nascimento de uma criança no sertão; aqui, sua paráfrase nos lança para o tempo recursivo da arte, que garante a sua permanência em estados absolutamente alterados. Solitários. Se Cristian atravessou seus autores em algum tempo e os incorporou, eu, agora, os atravesso no meu jeito de Cristian.

A dança, para ele, não pertence a um território único, a um espaço geográfico sitiado por experiências universais; quando pensa em dança, o que foi conhecido por muitos e o que é conhecido por alguns tem, na história, os mesmos lugares: seu corpo. O que faz sentido – sua relação afetiva com cada uma das entidades de Hot – aparece e transmuta o seu próprio jeito de ser entre elas.

A experiência de reativação do novo está em jogo naquilo que se reconhece, naquilo que não se reconhece, naquilo que se vê. A partir de um momento, não tão simples e nem tão objetivo, Cristian deixa de existir em cena e eu vou ganhando corpo dentro da história que se desenvolve já não mais no espaço da observação, mas num momento anterior. Hot me faz lembrar que a presença de quem for, aonde quer que seja, é fundamental para a continuação de um pensamento no tempo, de um desejo em se experienciar as coisas como foram, como são – sem perder intimidade com o espaço do outro – desmetaforizadas, sem função de mais valia, sem passaporte, com a mesma vontade imanente. Essa vontade só pode ser inédita. Aqueles que foram reconhecidos por sua independência e outras histórias de amor, pertencem a cada um.

*Wagner Schwartz trabalha com arte contemporânea, dança e literatura, entre São Paulo e Paris. Seus projetos problematizam as relações artísticas e seu percurso.