2007: Balanço positivo para a dança no Brasil

Paulo Paixão

O ano de 2007 deixou sinais do desenvolvimento da dança independente no Brasil. Além de ter dado continuidade ao encontro de grupos estatais para discutir estratégias de sobrevivência no contexto atual, foi também um ano marcado pelo encontro de historiadores da dança no nosso país. Mesmo correndo o risco de omitir nomes e eventos, destaco os pontos altos dos acontecimentos da dança no Brasil nesses últimos 12 meses.

O investimento feito pela Funarte durante a gestão do Coordenador de Dança Marcos Morais teve reflexos na produção independente de dança em escala nacional. Os prêmios Klaus Vianna, Auxílio à Montagem, Consolidação de Grupos e Companhias, lançados em 2006, e o Caravana Funarte de Circulação 2006/2007 permitiram que mais de 30 projetos fossem desenvolvidos e circulassem por diferentes estados. Com o auxílio de pouco mais de R$ 3 milhões concedidos pelo prêmio Klaus Vianna (por sinal, menos da metade do que foi investido em teatro), os profissionais da dança independente mostraram que quando as condições melhoram, excelência é que não falta.

Ainda em âmbito nacional, outra ação que dinamizou a cena da dança em 2007 foi a terceira edição do Programa Rumos Itaú Cultural Dança. Trata-se da única mostra exclusivamente nacional que dá suporte para a produção de obras experimentais. Em 2007, o Rumos Dança aumentou consideravelmente o número de projetos apoiados – 25 contra os 14 da segunda edição. Foram destinados R$ 26 mil para solos e duos e R$ 34.800 para grupos, o que fez do programa gerido por Sonia Sobral um painel muitíssimo interessante de uma produção que se revelou jovem, promissora e bem diversificada. Além disso, o programa foi ocasião para a reafirmação de alguns nomes já bastante conhecidos da criação em nossa área. O Rumos movimentou São Paulo no início de março e reverberou por todo ano em várias capitais. O lançamento do livro Cartografia, que documentou as ações do programa esteve sempre acompanhado da apresentação de pelo menos duas das obras produzidas. Os 25 espetáculos produzidos continuarão a ser apresentados em seus estados de origem (10 ao todo).

Com base nos dados encontrados em sites[i] de 13 Estados e suas respectivas capitais, os que investiram na dança em 2007 foram:

– A Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, através do edital da Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio a Produção Artística e Cultural), criado pela lei 7328-04 de 04/101994 que distribui em 2007 R$ 1.879.000 em três áreas: 1- música, 2- dança, circo e teatro, 3- áudio visual e fotografia.

– A Secretaria de Cultura do Governo do Paraná no ano de 2007 dividiu R$ 75 mil entre três grupos para custear a circulação de seus espetáculos pelo interior do Estado.

– O Governo do Estado de São Paulo através do PAC (Plano de Ação Cultural) investiu R$ 600 mil em 15 grupos para pesquisa em dança e produção de espetáculos inéditos e mais R$ 300 mil para 10 grupos circularem seus espetáculos. Já a Prefeitura, através da Lei de Fomento, investiu R$ 2 milhões em atividades ligadas à área e contemplou 14 grupos.

– A Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, através do Fundo Estadual de Cultura, em 2007, concedeu R$ 50 mil para o SeráQuê? Cultural realizar o fórum Por Que dança?; R$ 15 mil para a Associação Cultural Dança Minas que investiu no Encontro Dança Minas; R$ 50 mil para o espetáculo Novos Pensamentos da Cia. de dança Dudude hermann.

– A Fundação Cultural da Bahia premiou quatro espetáculos em 2007, sendo que dois deles receberam R$ 30 mil e os outros dois, R$ 50 mil.

– O Fundo de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco concedeu R$ 29.961,77 para o projeto Zdenek Hampl Dança e Pensamento.

– O Governo do Estado do Ceará em 2007 disponibilizou R$ 20 mil para pesquisa teórica ou de linguagem, R$ 100 mil para montagem de espetáculos e R$ 60 mil pra circulação de espetáculos.

– O Instituto de Artes do Pará, através do seu Programa de Bolsas de Pesquisa em Arte, também investiu na dança, mas não foram encontrados os dados sobre o número de projetos selecionados nem quanto recebeu cada um deles.

Algumas empresas tiveram editais específicos para dança, seja para ocupação de espaços, como foi o caso da Caixa Econômica; Patrocínio a Companhias – Petrobras e para eventos como foi o caso da OI, entre outras.

O impacto de tal investimento foi tamanho que em São Paulo houve ocasiões, não poucas, em que tínhamos cinco espetáculos em cartaz na mesma semana! Porém não se trata apenas de quantidade de obras, mas também da qualidade artística implicada nelas. O ano de 2007 foi palco de obras memoráveis, para citar apenas algumas delas: Bull Dancing – Marcelo Evelin (PI), Antropofagia 2 ou Co-existência – Cia. Nova Dança 4 e Steve Paxton (SP), Desespero Para Felicidade ou Se Eu Não Gostar Nada É Para Sempre – Márcio Medeiros (CE), Maria de Lurdes em Tríade – Dudude Herrmann (MG), Falso Espetáculo – Elisa Ohtake (SP), Encarnado – Lia Rodrigues (RJ), Pequenas Frestas de Ficção Sobre Realidades Insistentes – Alejandro Ahmed (SC), Still – Sob o Estado das Coisas – Gustavo Ciríaco (RJ), Amarelo – Elisabete Finger (PR), Monocromos – João Saldanha (RJ), Liquado – Michelle Moura (PR) e Fabian Gandini (Argentina), Prop.Posicao # 1– Adriana Banana (MG), Um Corpo Que Não Agüenta Mais – Marta Soares (SP), Vapor – Helena Bastos e Raul Rachou (SP), Deslimites – Clara Trigo (BA), O Poste a Mulher e o Bambu – Dimenti (BA), Mania de Ser Profundo ou Por Que Eu Parei de Jogar Futebol? – João Fernando (RS), In-Organic – Marcela Levi (RJ), Spiro – Roberto Ramos (SP), entre muitos outros.

Os coletivos e núcleos de criação começam a dar provas de que a associação de artistas, com a finalidade de viabilizar projetos, é uma alternativa que pode ajudar a enfrentar as dificuldades de formação, produção e circulação existentes na área. Exemplos destacáveis: Coletivo Couve-flor (PR) e o Núcleo de Criação do Dirceu (PI), Dimenti (BA) e Híbridos (MG). Outros tantos fazem parte desta lista.

Graduações novas de dança estão surgindo. Belém saiu na frente, Recife está em fase de elaboração do projeto. Outras graduações estão repensando suas pedagogias como é o caso da Faculdade de Artes do Paraná. O I Encontro de Pesquisa Sobre Memória da Dança Brasileira teve lugar em Minas Gerais reunindo pela primeira vez pesquisadores da historia da dança brasileira. Lamentamos aqui a não realização do projeto Dança e Filosofia organizado por Tereza Rocha e Roberto Pereira, no Rio de Janeiro.

A internet vem se afirmando como um espaço de reflexão e articulação de nossas práticas e o Idança é um dos exemplos. Além dele, há o Movimento Dança Recife editado por Marcelo Cena, em Recife. A Cia. 2 do Balé da Cidade de São Paulo, dirigida por Mônica Mion e Ana Teixeira, vem sendo um excelente laboratório de experimentação que tenta encontrar modos de criação investigativos, dentro de um grupo institucional. A Cia. de Dança Palácio das Artes, atualmente dirigida por Cristina Machado, também deu passos nessa direção. O Balé do Teatro Castro Alves, então dirigido por Lílian Pereira, manteve uma dinâmica grande de interação com seu público.

E pra concluir esse artigo, sem a pretensão de listar todos os acontecimentos da dança em 2007, quero chamar atenção para a importância das mostras internacionais que fazem parte do calendário de artistas, produtores e curadores de vários paises e que hoje constituem o Circuito de Festivais de Dança. São elas: Bienal de Dança do Ceará, Festival de Dança do Recife, Fórum Internacional de Dança em Belo Horizonte e o Panorama Festival de Dança no Rio de Janeiro.

Pode parecer que a produção de dança não seja expressiva para quem não a acompanha de perto. Com exceção de três ou quatro grupos privilegiados os demais operários da dança não contam com a cobertura da mídia televisiva. Apesar da pouca visibilidade, a criação contemporânea de dança tem participado do circuito internacional de dança. E não falo do Grupo Corpo Cia. de Dança, nem da Cia. de Dança Deborah Colker, dois dos mais conhecidos no Brasil atualmente. Falo de inúmeros artistas que fazem da investigação da linguagem da dança sua meta e põem em cena experimentos radicais em termos performáticos. Não ter visibilidade não significa não existir!


[i] A pesquisa foi realizada esse ano e encontrou alguns sites desatualizados, sem informações sobre investimentos da gestão passada. Outros apresentavam o nome do projeto beneficiado sem a especificação da área a qual o mesmo pertencia, dificultando sua identificação.