O diretor Helton Perez capta imagem do elenco / Foto divulgação

A cultura bovina aproximando o país

Quando a Ginga Cia. de Dança deixou o Mato Grosso do Sul para participar do projeto Palco Giratório 2009, promovido pelo Sesc, não imaginava que aprenderia tanto sobre o Brasil. Em quase 25 anos de existência foi a primeira vez que o grupo saiu em turnê fora do estado e se deparou com públicos dos mais distintos, teatros em bom estado e outros nem tanto, e o mais importante: descobriu que algumas questões que intrigam os integrantes da companhia são nacionais, ao contrário do que eles imaginavam. Tudo isso está no documentário Ginga documenta: cultura bovina em trânsito, registro em vídeo dessa turnê.

Durante o ano de 2009, a Ginga percorreu 31 cidades em 11 estados, além do Distrito Federal, apresentando o espetáculo Cultura bovina?. A equipe do filme – composta por Luiza, Paula Bueno, Yan Chaparro e Helton Pérez – registrou as apresentações da companhia em Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, durante seis meses (com intervalos entre as viagens). “A ideia de acompanhar a turnê foi da Renata Leoni, uma das pessoas que acompanha a Cia desde sua criação e enxergou a possibilidade de registrar a história da Cia. Nós, a equipe, investimos na ideia. Era importante entender como o público entraria em contato com aquela dança, o que os bailarinos entendiam como sendo o papel deles ali”, explica Luiza, que fez parte da Ginga entre 2004 e 2007.

O projeto teve financiamento do Fundo de Investimentos Culturais (FIC), do governo de Mato Grosso do Sul, e foi finalizado no começo de 2010. A escolha dos estados obedeceu a um critério: Pernambuco e Rio Grande do Sul representavam os extremos do país, Rio de Janeiro, o centro. A aposta deu certo pois os depoimentos colhidos do público antes e depois das apresentações dão a dimensão da informação (ou falta de) país afora e também das diferenças culturais existentes entre norte e sul do Brasil.

“O espetáculo que participou da circulação traz um forte questionamento sobre as relações de poder no estado. Muita gente não sabe, mas são 2 milhões de habitantes para 22 milhões de cabeças de gado no Mato Grosso do Sul. Os artistas, muitas vezes, se sentem sufocados pela cultura agropecuária, ficam em silêncio pela diante da hegemonia de outros estados do país. Cultura bovina? é uma resposta a isso”, esclarece Luiza.

Além de trechos das apresentações e dos depoimentos de bailarinos e do público, o documentário acompanha os momentos livres, como as visitas à feira de Caruaru, em Pernambuco, e a uma vinícola, no Rio Grande do Sul. Os obstáculos também foram regustrados: em Arcoverde (PE), por exemplo, a apresentação teve que ser na quadra do Sesc pois o teatro estava em obras.

Luiza destaca, ainda, outro momento importante da turnê: as conversas abertas que aconteciam após todas as apresentações. “Eles começaram a falar mais sobre o que fazem, refletir. É um contato mais próximo com o público, saber o feedback de pronto”, observa.

Depois de meses longe de casa e de tantos quilômetros percorridos, a lição que fica é que, mesmo diante de um país tão diverso, muitos pensamentos e desejos acabam se cruzando e encontram eco em diferentes cantos do Brasil. Nas palavras do coreógrafo Chico Neller: “a gente não está tão isolado assim, não é tão diferente, dá pra dialogar”.

Agora, assista ao documentário na íntegra aqui:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=vcjF_GHnKJc[/youtube]