Ateliê de Coreógrafos Brasileiros fora da cena nacional em 2007

O Ateliê de Coreógrafos Brasileiros, realizado anualmente na Bahia, chegaria em sua 6ª edição em 2007. Abaixo, você lê na íntegra o comunicado oficial de Eliana Pedroso, idealizadora e produtora do evento.

“Vamos sentir saudade! Mas não por nossa vontade o Ateliê de Coreógrafos Brasileiros sai de cena. Mas, infelizmente, pela falta de visão das pessoas das quais, iniciativas como essas, dependem para continuar existindo. Deve ser mesmo uma característica baiana a necessidade de desfazer, desmanchar, de negar continuidade para que nada se consolide. Faz parte do nosso complexo de inferioridade a exacerbação da superioridade, e, como detentores da verdade, achamos que somos responsáveis por súbitas revoluções culturais quando saímos dos nossos casulos.
Então, com rapidez e fantasia, desconstruímos. Triste Bahia!

Após cinco edições consecutivas o Ateliê de Coreógrafos Brasileiros consolidou-se como uma importante iniciativa cultural não só na Bahia, mas em âmbito nacional. De 2002 a 2006, este evento da dança brasileira esteve respaldado por significativas contribuições no desenvolvimento de criadores e intérpretes, sobretudo, os da linguagem da dança contemporânea, destacando-se por características singulares e pelo alto nível de profissionalismo.

Como principio, o Ateliê investiu numa intensa vivência, intercâmbio e monitoramento, privilegiando o Processo, no ato de criar. Como concepção, não se esqueceu de propor resultados a serem compartilhados com o público, atendendo aos propósitos de estimular a produção na dança brasileira e popularizá-la pela oferta e pela democratização do acesso. O resultado foi significativo para os profissionais envolvidos, com retorno concreto aos investimentos financeiros de origem pública e privada.

Como demonstrativo, contabilizam-se 23 espetáculos inéditos, concebidos por coreógrafos brasileiros, 191 intérpretes, (selecionados entre 1162 bailarinos que concorreram às audições públicas ) e mais 350 profissionais, entre artistas e técnicos. Nas Atividades Paralelas, a participação de dezenas de palestrantes de diversas partes do País, que contribuíram com acaloradas discussões artísticas e de mercado. Também, como atividade de formato pioneiro, o Laboratório de Exercícios Críticos e o admirado Solos>40, que privilegiou artistas maiores de 40, 50, 60 anos.

No grande palco do Teatro Castro Alves, a ousadia criativa apoiada em corpos bem preparados e desafiadores projetos artísticos. No foyer, a subversão da ordem, de forma construtiva, do sempre comportado TCA, pelos 10.000 espectadores que compareceram a cada edição, compartilhando idéias e atitude. No palco alternativo, jovens artistas se apresentando com o mesmo entusiasmo dos que estavam no palco principal. No Ateliê de Artes Visuais, mais um cruzamento de linguagens e visões estéticas.

E para não esquecer, enormes filas, em torno do TCA, de pessoas que disputavam um lugar para ver a Dança Contemporânea na Bahia, com toda a sua beleza, reflexão, despudor, poesia e estranheza, características inerentes ao universo da arte em geral e da dança contemporânea em particular. Mas as pessoas voltavam, se multiplicavam e por fim somaram 48.000 espectadores que prestigiaram as cinco edições do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros.

Cientes de que as idéias se sobrepõem aos homens e de que fizemos história na Bahia e no Brasil, nos apoiamos nos conceitos do próprio Ateliê de agregar para somar, de fundamentar o desenvolvimento humano e cultural no princípio construtivo do fazer para existir. E por reconhecer o papel daqueles que produzem e realizam, agradecemos aos artistas, técnicos, imprensa, patrocinadores e amigos do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros que, como tudo que é produtivo e movimenta, parecem estar descartados nesses novos velhos tempos.”

Eliana Pedroso

EP Produções Culturais