Documentário traz a história de Misty Copeland, primeira bailarina negra a ocupar a mais alta posição do American Ballet

Lançado ano passado, filme ressalta a história das mulheres negras nas principais companhias de balé do mundo

Em 75 anos desde a sua fundação, o American Ballet Theatre (ABT) anunciou ano passado que Misty Copeland (1982) se tornava a primeira negra a ser primeira bailarina da companhia. Ela, que pouco tempo antes tinha sido a primeira bailarina afrodescendente a estrelar O Lago dos Cisnes na história do Metropolitan Opera House, em A Ballerina’s Tale tem sua trajetória retratada após uma lesão que quase pôs fim em sua carreira em 2013, após protagonizar O pássaro de fogo, de Stravinski.

Original de Kansas City (Missouri), Copeland teve uma iniciação tardia no balé, com 13 anos de idade. Constantemente desafiando a questão racial embutida em seu biotipo, o documentário traz Misty não só como uma bailarina, mas como um fenômeno cultural com traços de uma verdadeira e influente estrela do pop.

Com direção de Nelson George, a produção foi exibida ano passado no Festival do Rio. Confira o traileir:

“Onde estão as bailarinas negras?”

A realidade das bailarinas negras que ocupam uma alta posição em renomadas companhias de elite é, até hoje, uma questão. Na época do anúncio a imprensa que Misty havia se tornado a primeira bailarina da ABT, em entrevista ao canal norte-americano MSNBC, Copeland se posicionou sobre a questão da mulher negra nas artes:

“Eu acredito ser muito importante a existência dessas discussões, pois por mais que as pessoas digam, especialmente no meio artístico, que ‘As artes não veem cor’, isso não é a realidade. Não é a minha realidade e nem a realidade de tantos outros bailarinos. Acho que é importante para nós falarmos sobre o fato de que talvez as pessoas não tenham consciência e digam ‘Porque devemos falar tanto sobre você ser uma bailarina afro-americana’ ao invés de dizer ‘Você é uma incrível bailarina’? E eu acho que isso diminui minhas experiências e minhas conquistas, porque eu estaria traçando outro caminho se não fosse uma mulher negra.”

Durante a entrevista, a primeira bailarina também menciona como foi importante a influência de Raven Wilkinson (1935), a primeira bailarina negra dos Estados Unidos a participar de uma grande companhia, quebrando a barreira social imposta pela cor ao assinar contrato em 1955 com a extinta Ballet Russe de Montecarlo. Sua história também pode ser vista no documentário Ballets Russes, de 2005.

No Brasil, a primeira bailarina negra a dançar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi Mercedes Baptista (1921 – 2014), que passou a integrar a companhia em 1948. Considerada a principal precursora da dança afro-brasileira, sua história, bem como a da evolução da dança negra no Brasil é contada no livro Mercedes Baptista, A Criação da Identidade Negra na Dança, de Paulo Melgaço da Silva Júnior.

Foto: Misty Copeland © Oskar Landi / Associated Press