Rumos Dança 2007 – Consumo e virtualidade no quarto dia
No domingo (4/3) à tarde, Massimo Canevacci falou sobre a relação entre corpo e metrópole. Segundo o professor, a cidade industrial era baseada na dialética. A identidade era compacta e unitária. Hoje tudo é mais fluido. “A mistura entre orgânico e inorgânico é característica da metrópole comunicacional contemporânea. O que acontece é uma crise da mimética individual e do consciente coletivo e ela é simétrica à crise de uma identidade única”, diz. Para ele, há uma multiplicidade de identidades, existindo assim os multi-indivíduos (indivíduos que desenvolvem uma multiplicidade de “eus”). Utilizando os conceitos de bodyscape (corpo paisagem) e location (lugar-espaço-zona-interstício), Canevacci apontou que a distinção entre corpo e metrópole está acabando, favorecida pela cultura digital.
Nesta segunda-feira, é a vez do Núcleo Artérias, de São Paulo, e o Movasse, de Belo Horizonte, apresentarem o resultado de suas pesquisas coreógráficas no Teatro Gazeta.
Ruído, espetáculo do grupo paulista, é uma investigação sobre questões relacionadas à expansão do consumismo, como ele se inscreve nos corpos e afetam as relações entre as pessoas. Cada dançarino criou um repertório de estados corporais relacionados a ícones de consumo. Também participam da cena um videomaker e um músico tocando ao vivo. “O que fazemos é associar esses repertórios afim de que o espectador tenha a possibilidade de fazer suas próprias associações”, diz Adriana Grechi, diretora do núcleo e responsável pela concepção e direção da obra. Slogans publicitários e textos também são usados na composição criando uma narrativa que se associa ao movimento. “A gente recria elementos que existem e isso é traduzido diferentemente em cada pessoa, criando outras camadas de significados”, completa Adriana.
Já o mineiro Movasse Núcleo de Pesquisa em Dança, idealizado por Carlos Arão (PB), Andréa Anhaia (PE), Ester França e Fábio Dornas (MG), se valeu do ambiente virtual para conceber Imagens Deslocadas. A pesquisa está retratada por vídeos, chamados por eles de videocartas. “O espetáculo tem esse caráter virtual até porque todo o aparato para produzi-los é virtual”, explica Carlos Arão. Os quatro bailarinos decidiram se comunicar desta forma, gerando um total de 32 videocartas. Todos os envolvidos no projeto, seja na interlocução ou na trilha sonora, receberam o material gravado podendo assim captar o diálogo midiático e construir a performance. “A sensação do que cada lugar nos provocava é que gerou uma única carta, que é esse espetáculo”, complementa Arão.
Quem quiser conferir todo o processo, que durou dois meses, pode acessar as videocartas no You Tube.