Solos de Dança no SESC respira novos ares | Solos de Dança no SESC breathes new airs

Depois de optar por um retorno a antigas parcerias em 2009 – quando completou 10 anos – o Solos de Dança no SESC deste ano, que começa nesta quinta-feira (4/03), no Rio de Janeiro, aposta na pluralidade e, principalmente, em novos ares. Para compor a programação ao lado de profissionais experientes, a curadora Marcia Rubin foi buscar novíssimos artistas, recém-saídos (ou ainda não) da universidade. Em comum, o fato de todos estarem participando pela primeira vez da mostra.

No programa da primeira semana – com apresentações de quinta-feira a domingo – estão Heder Magalhães, com Nesse time eu vou jogar; Mariusa Bregoli (coreografada por Fernando Nunes), com Na lata; Cláudia Horta (com coreografia dela e de Lucas Rodrigues), com Esboços para Schiele; e Clébio Oliveira, com Zona abissal. A segunda semana terá as apresentações de Fernando Lee, com Diário (na foto); Francine Barros, com Fabulações; Karina Mendes (coreografada por Daniel Calvet), com Corpo revelado; e Alexandre Bado, com Um pouco de possível, senão eu sufoco. Clique aqui para ver a galeria de fotos.

Entrando no clima de encontro de gerações do Solos, o idança propôs a dois dos artistas convidados que se entrevistassem. A brincadeira rendeu, e fez com que Fernando Lee e Heder Magalhães, que não se conhecem pessoalmente, descobrissem um pouco mais sobre o trabalho um do outro. Fernando atuou em grandes companhias de São Paulo até 1985. Depois investiu na carreira solo, morou fora do Brasil, e hoje faz parte do Núcleo OMSTRAB. Já Heder se formou ator e está completando a graduação em Licenciatura em Dança na Faculdade Angel Vianna. Criou sua primeira coreografia em 2007, em parceria com Isabel Ponce, e é a primeira vez que trabalha coreografando sozinho.

Cada um fez cinco perguntas ao outro, dando uma ideia das curiosidades e questões que as gerações mais novas da dança têm com relação aos profissionais mais experientes e vice-versa. De um lado, Heder quis se aprofundar mais sobre a carreira de Fernando, levantando questões sobre o trabalho no Núcleo OMSTRAB. Já Fernando fez perguntas mais abrangentes, curioso sobre o que inspira o processo de criação do jovem artista. As entrevistas seguem abaixo. Divirta-se!

Heder Magalhães – Pelo que pude perceber, o seu trabalho, junto com a Cia. OMSTRAB, se faz na integração entre música, dança e teatro. Como é o processo de criação de um espetáculo da companhia?


Fernando Lee – Na verdade, cada espetáculo teve um processo de criação bem diferente, apesar de integrarmos essas linguagens em todas as montagens. Atualmente temos 8 espetáculos + 1 em fase de finalização no repertório, que duram em média 60 minutos, com aproximadamente 10 a 15 quadros / coreografias / músicas diferentes cada. Em alguns, como é o caso do primeiro que deu o nome ao grupo, Omstrab (1995), acontece no universo de um canteiro de obras, onde trabalhadores de construção civil se relacionam com brincadeiras e materiais deste ambiente, como baldes, serrotes, estruturas metálicas etc, que originam as músicas e as cenas. Em outros, como no Calçada Plugada (2005), nos inspiramos no monitoramento urbano, nas câmeras espalhadas pelas cidades, gerando reações nos cidadãos que vão do constrangimento ao exibicionismo, dentro da contradição segurança X privacidade.


HM – Como foi trabalhar a partir da literatura de Monteiro Lobato? Ainda teremos a oportunidade de ver esse espetáculo aqui no Rio de Janeiro?

FL – Certamente será um grande prazer quando nos apresentarmos com Montestória no Rio, pois grande parte do espetáculo foi inspirada no ambiente cultural do Vale do Paraíba, região de origem de Lobato, que geograficamente faz a ligação entre os dois estados. Por enquanto, temos agendados para os próximos dois meses apresentações através do Circuito Cultural, projeto da Secretaria de Estado da Cultura, apenas no estado de São Paulo. Alguns contos de Monteiro Lobato, não apenas os infanto-juvenis, inspiraram as músicas e cenas do espetáculo. Foi uma maravilhosa oportunidade de conhecer um pouco mais do universo de Lobato. Essa experiência também foi abrilhantada com oficinas de Mestres Festeiros de Comunidades de Cultura Popular de Minas Gerais, litoral de São Paulo e principalmente do Vale do Paraíba.


HM – Como é manter uma companhia ativa há 15 anos? O que viabiliza financeiramente a produção da companhia? Vocês possuem algum tipo de patrocínio?

FL – Não contamos com nenhum patrocínio. Passamos por diversas fases nesses 15 anos desde a estreia, na Bienal de Lion, vendendo espetáculos para instituições como o SESC e secretarias nos primeiros anos ou sobrevivendo apenas da motivação de algumas turnês internacionais em outros, quando pudemos conhecer Estados Unidos, Japão e América Central. Apenas no ano de 1997 tivemos a aprovação do Projeto Festa pela Secretaria de Estado da Cultura. Felizmente, esta situação se reverteu quando em 2006 Montestória

HM – O trabalho que você irá apresentar nesta edição do Solos de Dança no SESC é um fragmento de um projeto da companhia. Você acha que isso pode interferir na leitura do trabalho? foi aprovado pelo Edital Klauss Vianna – Funarte, Petrobras. Depois se seguiram três Editais do Fomento à Dança da Prefeitura de São Paulo, o que até janeiro deste ano nos permitiu manter uma sede, onde ensaiamos, produzimos, mantemos nosso acervo e tornamos vivos através de inúmeras circulações, 6 espetáculos do repertório do OMSTRAB.

FL – Acho que são leituras diferentes, dentro do mesmo tema, espero que complementares. Estou muito feliz pelo convite do SESC e vejo o solo Diário como uma oportunidade de lançar e exercitar músicas e coreografias ainda inéditas da nossa nova produção Diários de Viagem. Este solo é uma célula ainda em transformação, com elementos de referência para blocos de improviso dentro da temática da nova pesquisa, sempre incorporando em sua dinâmica a relação com a música ao vivo. Junto comigo virão músicos do OMSTRAB Trio. Alguns destes elementos poderão, depois, ser transformados em novas formas coreográficas para o grupo e as músicas executadas em novos arranjos.


HM – Tive a oportunidade de assistir alguns vídeos de apresentações da OMSTRAB pela internet. Existe algum espetáculo criado exclusivamente para palco ou para outros espaços, como por exemplo a rua? Ou cada trabalho pode ser adaptado para vários espaços?

FL – Eu acho bastante difícil estabelecer uma forma cênica cristalizada em virtude do mercado para a circulação dos espetáculos, não apenas aqui no Brasil, mas também no exterior. Geralmente faço adaptações para espaços diferentes, mas a maioria dos espetáculos foi criada para o teatro. O primeiro trabalho amadureceu principalmente ao longo de projetos em espaços alternativos, como o Arte nas Ruas, que como o nome diz, acontecia em praças e outros espaços da cidade, mas tomou sua forma cênica atual no teatro. Mesmo esbarrando em dificuldades técnicas, nossos espetáculos são com música ao vivo e a maioria tem percussão corporal e sapateado – a necessidade de alcançar uma versatilidade cênica me atrai bastante e gera agradáveis surpresas como no caso da remontagem do espetáculo Fábrica, originalmente criado para a Área de Convivência do SESC Pompéia, SP, que na adaptação para o teatro ganhou novos quadros e beleza no projeto de luz, impensados na montagem original.

E agora, leia a minientrevista de Fernando a Heder:

FL – Gestual cotidiano e à dança: como as atividades do dia-a-dia interferem e inspiram sua criação coreográfica?

HM – Comecei dançando e depois fui fazer teatro. Sempre aproveitei meu gestual da dança nas aulas de teatro e vice-versa. Minha inspiração vem do meu universo, até do que vejo na mídia, TV, cinema etc. Agora estou começando a conseguir organizar isso. Gosto de trabalhar com músicas que têm letra e aproveitá-las, reforçando o que elas dizem ou renegando. Esse espetáculo tem isso.

FL – Gostos coreográficos e musicais: o que você assiste de dança, o que ouve, o que te inspira? Quem são seus ‘ídolos’ na dança (no Brasil e no exterior)?

HM – A dança-teatro me interessa. Fiz aulas com a Ruth Amarante, que dançou com a Pina Bausch, quando ela esteve aqui no Rio. Achei muito interessante. Também gosto muito do trabalho do Philippe Decouflé. Quanto ao que gosto de ouvir, sou muito eclético, não tenho gosto muito definido. Meus pais sempre ouviram muito rádio, então meu gosto vai de música popular nordestina a rock pop americano. Nesse espetáculo, por exemplo, a trilha é da dupla Caju e Castanha.

FL – Preparação corporal: que técnicas corporais são praticadas como sua preparação para o trabalho coreográfico?

HM – Coreografo há muito pouco tempo, ainda não tenho uma forma de preparação específica. Para Nesse time eu vou jogar intensifiquei a preparação física com flexões, abdominais e alongamento. Também faço aulas de balé e dança contemporânea na faculdade.

FL – Como está funcionando a política cultural para a dança no Rio de Janeiro hoje?

HM – Infelizmente essa política ainda é muito precária. Como estou começando, ainda não inscrevi nenhum edital.

FL – O que está te interessando/motivando no atual trabalho?

HM – Sempre tive muita preocupação com a reação do público. Para mim é importante que, mesmo não conhecendo de dança contemporânea, o público desfrute do que está vendo. Quando criamos em conjunto eu e Isabela, chegamos a apresentar a coreografia a um público infantil e ficamos muito felizes ao ver que eles gostaram.

O Solos de Dança no SESC começa nesta quinta-feira (4/03), no Espaço SESC (Rua Domingos Ferreira 160, Copacabana). De quinta-feira a sábado, às 21h, domingo, às 19h30. De 4 a 7 de março e de 11 a 14 de março. Informações: (21) 2547-0156.

Leia também: Mostra de Processos Rumos Dança começa no sábado

After opting for a return to old partnerships in 2009 – when it completed 10 years – this year, Solos de Dança no SESC bets on plurality and especially new airs. To compose the programming with experienced professionals, curator Marcia Rubin went looking for brand new professionals, fresh out of college (or not even out yet). What they have in common is the fact that they are all participating in the event for the first time.

The first week’s program – with presentations from Thursday to Sunday – will bring Heder Magalhães, with Nesse time eu vou jogar; Mariusa Bregoli (choreographed by Fernando Nunes), with Na lata; Cláudia Horta (in hers and  Lucas Rodrigues’ choreography), with Esboços para Schiele; and Clébio Oliveira, with Zona abissal. The second week will have presentations of Fernando Lee, with Diário; Francine Barros, with Fabulações; Karina Mendes (choreographed by Daniel Calvet), with Corpo revelado; and Alexandre Bado, with Um pouco de possível, senão eu sufoco. Click here to see a foto gallery.

Getting into Solos’ generation encounter meeting, idança proposed one artist interviewed another. The game worked out and made Fernando Lee and Heder Magalhâes, who didn´t know each other personally, find out a little more about the other’s work. Fernando acted in large companies from São Paulo until 1985. Afterwards, he invested in his solo career, he lived abroad and is now part of Núcleo OMSTRAB. Heder graduated as an actor and is now finishing his dance studies at Faculdade Angel Vianna. He created his first choreography in 2007, in partnership with Isabel Ponce and this is the first time he works alone in a choreography.

Each one made five questions to the other, giving an idea of the questions the new generations have regarding more experienced professionals and vice-versa. On one side, Heder went deep into Fernando’s career, asking questions about the work of Núcleo OMSTRAB. Fernando made broader questions, curious about the young artist’s creative process. Read the interviews below. Have fun!

Heder Magalhães – From what I could see, your work along with Cia. OMSTRAB is done through integration between music, dance and theatre. How does the creative process of the company’s shows work?

Fernando Lee – Actually, each show had a very different creative process, even though we integrated these languages in every piece. We currently have 8 shows plus one being finalized. They last an average of 60 minutes, with approximately 10 to 15 different scenes / choreographies / songs each. Some of them, such as the first one that lent its name to the group Omstrab (1995), take place in the universe of a construction site, with buckets, saws, metallic structures, etc, inspiring the music and the scenes. In others, like Calçada Plugada (2005), we were inspired by urban monitoring, in the cameras scattered around the cities, generating reactions in citizens that range from embarrassment to exhibitionism, within the security X privacy contradiction.

HM – What was it like working based in Monteiro Lobato’s literature? Will we have the opportunity of watching this show here in Rio de Janeiro?

FL – It will certainly be a great pleasure to present Montestória in Rio, because a large part of it was inspired in the cultural environment of the Paraíba valley, Lobato’s region of origin that geographically links both states. For now, we have scheduled for the next two months presentations through Circuito Cultural, a project of the State’s Culture Office, only in São Paulo. Some of Monteiro Lobato’s short-stories, not only the children’s one, inspired the music and scenes of the show. It was a wonderful opportunity to get to know a little more about Lobato’s universe. This experience was also enriched by workshops with masters from popular culture communities in Minas Gerais, the coast of São Paulo and especially the Paraíba valley.

HM – What is it like keeping the company active for 15 years? What makes the company’s production financially viable? Do you have any kind of sponsorship?

FL – We don´t have any sponsorship. We went through different phases in the last 15 years since our premiere in Bienal de Lion. In the first years we sold shows for institutions like SESC and culture offices or only lived out of the motivation of some international tours in others, when we were able to visit the United States, Japan and Central America. Only in 1997 we had the Festa project approved by the State’s Culture Office. Fortunately this situation changed in 2006 when Montestória was approved the Klauss Vianna – Funarte program. After that, there were three City of São Paulo Foment for Dance Program, which allowed us to keep a headquarters where we rehearse, produce, keep our archives and give life to through countless events, 6 shows of the OMSTRAB repertory.

HM – The work you will present in this edition of Solos de Dança no SESC is a fragment of one of the company’s projects. Do you think this can interfere in the work’s interpretation?

FL – I think there are different interpretations within the same subject that are complementary, I hope. I´m very happy with SESC’s invitation and I see the solo DiárioDiários de Viagem. This solo is a still transforming cell, with reference elements for improvisation blocks within the subject matter of the new research, always incorporating in its dynamics the relationship with live music. Musicians from the OMSTRAB trio will come along with me. Some of these elements may later be transformed into new choreographic forms for the group and the songs played in new arrangements. as an opportunity to launch and exercise unreleased songs and choreographies of our new production,

HM – I had the opportunity to watch some videos of OMSTRAB presentations on the internet. Is there any show created exclusively for the stage or other spaces, like the street, for instance? Or can each work be adapted to various spaces?

FL – I think it´s very hard to establish a crystallized scenic shape because of the market for show circulation, not only in Brazil but also abroad. I usually make adaptations for different spaces, but most of the shows were created for the theatre. The first work matured mainly through projects in alternative spaces, like Arte nas Ruas, which took place in squares and other spaces in the city, but it took its current scenic shape in the theatre. Even facing technical difficulties, our shows have live music and most of them have body percussion and tap-dancing – the need to reach some scenic versatility attracts me a lot and generates pleasant surprises like what happened with the show Fábrica, that was originally created for SESC Pompéia living area and got new scenes and beauty in the lighting design, unthought-of in the original staging.

And now, read the mini-interview Ferdando did with Heder:

FL – Daily gestures and dance: how do daily activities interfere and inspire your choreographic creation?

HM – I started dancing and later went on to theater. I always used my dance gestures in theatre classes and vice-versa. My inspiration comes from my universe, from what I watch in the media, on TV, movies etc. Now I´m starting to be able to organize everything. I like to work with songs that have lyrics and take advantage of them, reinforcing what they say or contradicting it. This show has a lot of that.

FL – Choreographic and musical tastes: what kind of dance do you watch, what do you listen to? Who are your ‘idols’ in dance (in Brazil and abroad)?

HM – I´m really interested in dance-theater. I had classes with Ruth Amarante, who danced with Pina Bausch, when she came to Rio. I thought it was really interesting. I also like Philippe Decouflé’s work. About what I like to hear, I´m very eclectic, I don´t have a very defined taste. My parents always listened to radio a lot, so my music taste ranges from Brazilian Northeastern popular music to American pop rock. In this show, for instance, the soundtrack is from the duo Caju e Castanha.

FL – Body preparation: what body techniques are practiced when you prepared for the choreographic work?

HM – I´ve been choreographing for a short time, I still don´t have a specific form of preparation. For Nesse time eu vou jogar I intensified the physical preparation with push-ups, crunches and stretching. I also take ballet and contemporary dance classes in college.

FL – How is cultural policy for dance working in Rio de Janeiro nowadays?

HM – Unfortunately this policy is still very precarious. Since I´m only getting started I haven´t applied for any grant program yet.

FL – What has been interesting/motivating you in your current work?

HM – I have always worried about the reaction of the audience. For me, it´s very important that the audience enjoys what they see, even if they don´t know much about contemporary dance. When I and Isabela created together, we even performed the choreography for children and we were very happy to see they liked it.

Solos de Dança no SESC started this Thursday (4/03), at Espaço SESC (Rua Domingos Ferreira 160, Copacabana). From Thursday to Saturday, at 21h; Sunday, at 19h30. From March 4 to 7 and from March 11 to 14. Information: (21) 2547-0156.