Funarte / Foto divulgação

Tempo de mudanças

Entre muitas incertezas, o novo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte (Ceacen), Antônio Gilberto Porto Ferreira, sabe de uma coisa: que 2011 será um ano difícil. A Funarte sofreu um corte de quase 50% em seu orçamento e o novo diretor – que assumiu no dia 17 de março – ainda não sabe o quanto terá em mãos para gerenciar as políticas públicas para a dança, teatro e circo.

Antônio Gilberto – que ocupou esse mesmo cargo no período em que Antonio Grassi foi presidente da Funarte – encontrou o Ceacen ainda com pendências da gestão anterior, como o pagamento da última parcela do Prêmio Klauss Vianna, efetuada no início de abril. Também enfrenta uma certa desconfiança da classe com relação ao futuro do cargo de Coordenador de Dança, ocupado interinamente – conforme afirmou o diretor – por Fabiano Carneiro desde a saída de Leonel Brum, em agosto de 2010. “Ainda estou me situando… Um novo período é um novo desafio. Ainda estou no momento de tomar algumas providências necessárias do dia a dia, observar e pensar sobre tudo. Ainda não é o momento de mexer em nenhuma Coordenação. No caso da Dança, o cargo está interinamente ocupado pelo Fabiano, mas em breve vamos oficializar o nome do coordenador da área de Dança. Mas esse nome ainda não existe”, afirma Antônio Gilberto.

O idança conversou com o novo diretor sobre as políticas públicas da nova gestão para a dança. Na conversa, temas como o pagamento do Prêmio Klauss Vianna e sua próxima edição, o lançamento (ainda em maio) de editais de ocupação para os espaços federais, o lançamento de um edital de circulação nos moldes do Mambembão e a reabertura do Teatro Dulcina (prevista para junho/julho). Ideias ainda em fase embrionária. Veja o que disse o novo diretor sobre alguns temas cruciais para a dança brasileira:

PRÊMIO KLAUSS VIANNA

“Foi todo pago. Chegamos com um resto para pagar, mas foi liquidado. A Funarte era a instituição do MinC que menos devia, mas o Prêmio Klauss Vianna estava nesse meio, junto com alguns festivais (que não eram de dança) e com o prêmio de artes visuais. Para a edição deste ano, já estamos solicitando patrocínio da Petrobras. O Prêmio foi criado na nossa primeira gestão e sempre teve apoio da Petrobras, o que nos dá mais liberdade de ação num momento de corte de verbas. Vamos fazer Klauss Vianna, Carequinha (circo) e Myriam Muniz (teatro). Todos são editais nacionais, então, os prêmios continuarão sendo distribuídos proporcionalmente”

RECURSOS

“São pequenos, no geral, e ainda mais com o corte que tivemos. É o primeiro ano do governo, é normal que se aperte para sentir a máquina toda funcionando. Infelizmente, isso limita muito as ações. E a cultura, que normalmente já tem orçamento modesto, sente mais ainda. Ainda não fechamos orçamento de cada área”

FESTIVAIS

“Estamos pensando qual é a melhor maneira de apoiar o maior número de festivais possível, já que não temos recursos para apoiar todos. Mas eles são atividades muito importantes como mostra, intercâmbio, lugar de debate, de reunião da classe, é uma forma de atrair o público de maneira mais focada. Nosso problema são os recursos reduzidos… Ainda estamos pensando se o formato será por edital ou se vamos apoiar pela excelência e anos de realização, se é de cunho internacional ou não… Mas com o desejo de apoiar, com certeza”

CIRCULAÇÃO

“Já comentei com o Grassi e tenho certeza que ele vai querer dar continuidade a um projeto que existiu no Brasil na época do Inacen (Instituto Nacional de Artes Cênicas, que depois deu lugar à Funarte) chamado Mambembão (o projeto foi criado nos anos 70) . A ideia é haver Mambembão de várias linguagens, não só de dança. É um sonho nosso, mas é um projeto bem caro. Fazer um projeto de fomento à circulação num país do tamanho do nosso exige recursos para que ele seja bem feito. Não garanto para esse ano, mas para os futuros… Vamos nos esforçar ao máximo. O Brasil não conhece o Brasil. Se você pegar uma pessoa do Rio e perguntar o que ela conhece de teatro capixaba, ela pode responder que nunca viu nada. Isso é uma coisa muito importante que nós temos que trabalhar. Isso rende emprego para quem trabalha na produção, nos espaços que recebem, ajuda na formação de público. É um trabalho muito importante”

TEATROS FEDERAIS

“Vamos fazer uma ocupação nos espaços federais de Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro através de editais. Serão editais destinados a companhias ou a empresas produtoras que apresentem uma programação que não fique restrita a espetáculos, de agosto a dezembro. A programação deverá envolver oficinas, ciclos de palestras, workshops etc com o objetivo de ocupar também os espaços de dia. E o (Teatro) Cacilda Becker, que é a casa federal da dança no Rio de Janeiro, abrigará projetos apenas de dança. Diferente de 2010, a companhia ou produtora selecionada ficará responsável pelo semestre inteiro. O ocupante poderá convidar outras companhias e propor uma ação conjunta. O valor do prêmio ainda não foi decidido. Estamos falando do Cacilda, mas ainda temos o Teatro Dulcina, que vamos reabrir em junho/julho, e que também poderá receber pautas de dança. Ele será um teatro aberto a todas as linguagens”

Segundo Antonio Gilberto, em breve será convocada uma reunião da classe de dança com a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o presidente da Funarte, Antonio Grassi, em São Paulo. O mesmo acontecerá com a classe de circo, em Minas Gerais, e com os profissionais de teatro, no Rio de Janeiro.

Artistas cariocas se encontram com secretário de Cultura

Enquanto as políticas públicas federais vivem um momento de incerteza, no Rio de Janeiro, representantes do Movimento Dança Carioca se reuniram com o Secretário municipal de Cultura, Emílio Kalil, para apontar as principais necessidades da classe no município. Um dos principais pontos abordados pelos artistas foi atual situação do Centro Coreográfico (CCO), que precisa de reformas estruturais e de uma dotação orçamentária própria para dar continuidade a suas atividades. Segundo o secretário, está nos seus planos uma reaproximação do CCO da Secretaria.

Neste primeiro encontro, Kalil apresentou o Fada (Fundo de Apoio à Dança), que será lançado na terça-feira (10/05) junto com outros quatro editais de fomento à cultura. Segundo o secretário, o edital será a principal ação para a dança carioca em 2011. O lançamento oficial dos cinco editais será nesta terça-feira (10/05), às 12h, no Palácio da Cidade, em Botafogo.

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