Umberto da Silva: um pioneiro na dança

Um pioneiro. É assim que o bailarino e coreógrafo Umberto da Silva, morto na última quinta-feira (27/03), em São Paulo, será lembrado pelos amigos. Carioca de nascimento, ele participou ativamente da transformação pela qual passou o Balé da Cidade de São Paulo, em 1974. Naquela época já eram visíveis suas inquietações com a questão da dança.

“Ele foi uma referência mais do que qualquer coisa. Umberto estava no Balé da Cidade de São Paulo num momento muito instigante. Havia um movimento no ar e ele foi um dos primeiros a colocá-lo em prática. Toda essa dança contemporânea que buscamos hoje, Umberto já elaborava há 20 anos. Era um bailarinos em todos os níveis”, afirma Gabriela Imparato, amiga do bailarino desde o fim dos anos 70. Atualmente, os dois se encontravam nos corredores da PUC-SP, onde Umberto era professor do curso de Comunicação das Artes do Corpo.

Umberto foi casado com a também bailarina e coreógrafa Ana Mondini e era pai de três filhos. Da Alemanha, onde mora, Ana disse ter conversado muito com o bailarino ultimamente. “Foi um privilégio tê-lo conhecido, convivido e ter tido filhos com ele. Apesar de todos os altos e baixos, foi um grande amor. Nos últimos tempos, tivemos conversas calmas e bonitas”, diz Ana.

Após uma longa temporada na Alemanha, Umberto havia retornado ao Brasil há cerca de cinco anos. Atualmente estava à frente da Galeria Olido, na capital paulista. “Nós nos conhecemos no fim dos anos 70, e agora estávamos começando a retomar contato após o retorno dele da Alemanha. Era um ótimo profissional, ótimo colega, além de excelente professor quando ainda era bailarino”, lembra Mônica Mion, atual diretora artística do Balé da Cidade.

“Umberto sempre foi muito inquieto com as suas questões, sempre lutou muito pelo que acreditava. Estava sempre propondo novas questões. Quando voltou da Alemanha, isso parecia ainda mais forte por conta da distância”, declara Ana Teixeira, diretora artística assistente do Balé da Cidade.

Além do Balé da Cidade de São Paulo, ele participou como bailarino do Balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Balé do Teatro Guairá (Curitiba) e foi fundador da Companhia de Dança de São Paulo. Seu último solo, Cara Pálida, estreou em fevereiro e dava seqüência a um trabalho de investigação do universo masculino ocidental.

Para a pesquisadora e crítica de dança Helena Katz, o mais representativo da carreira de Umberto foi seu trânsito por todas as tribos de dança. “A sua própria carreira é marcada por essa abrangência de tendências, sendo um indício claro desse traço de personalidade que o distinguia. Não à toa, seu velório e cremação foram um exemplo vivo dessa sua capacidade de fazer da dança o seu modo de vida”, declara Helena.

Nos últimos meses, Umberto estava envolvido com a organização da Virada Cultural, que acontecerá nos dias 26 e 27 de abril, em São Paulo. Seu corpo foi cremado no domingo (30/03), no Crematório da Vila Alpina. Ele morreu aos 56 anos, de infarto.

Isabella Motta é repórter do Idança