Viladança comemora 10 anos com homenagem a Salvador. Leia a entrevista|Viladança celebrates 10 years with tribute to Salvador. Read the interview.

Para se ter uma idéia de qual é a fonte de inspiração de Habitat – Lat 13º S Long 38º 31′ 12” O basta olhar para o título do espetáculo com um pouco de atenção. Percebeu? As coordenadas geográficas são da cidade de Salvador, terra natal da companhia Viladança, e objeto de pesquisa escolhido por eles para o espetáculo que marca os 10 anos de estrada do grupo. Habitat estréia nesta quinta-feira (4/12), no Teatro Vila Velha, em Salvador.

Pelas referências geográficas do título é fácil perceber que espaço é um tema recorrente no trabalho da coreógrafa e diretora do Viladança, Cristina Castro. Diante disso, nada mais pertinente que a cidade que acolhe a companhia há 10 anos ganhe uma homenagem agora. “Acredito que o espaço e o tempo são fundamentais na dança. Tenho essa necessidade de revisitar o espaço em que vivo há muito tempo. E acho que agora é o momento de olhar para Salvador, seu cotidiano, seu histórico de invasões, de mistura de culturas. Salvador é especial, não é uma cidade planejada, tem uma arquitetura desorganizada, e tudo isso influencia nosso cotidiano. Em Habitat, eu não falo de história, eu observo movimentos”, explica Cristina.

Para criar o espetáculo, a coreógrafa saiu pelas ruas da capital baiana acompanhada do músico João Milet Meirelles e do artista visual Marcondes Dourado. Visitaram diversos pontos de Salvador – inclusive turísticos como Porto da Barra e Feira de São Joaquim – e captaram sons e imagens que chamavam a atenção pelo caminho. Observando ações do dia-a-dia, Cristina foi chegando aos movimentos que compõem Habitat. “Me instiga a ação mais do que forma. Minha criação também tem necessidade de interagir com outras linguagens, preciso dialogar com profissionais de outras áreas”, explica ela, que aproveita os sons captados nas ruas como elementos do novo trabalho.

João Milet Meirelles

Habitat / Foto: João Milet Meirelles

Mostrar Salvador por trás – e além – dos seus pontos turísticos e da visão estereotipada que muitas vezes é “vendida” também é um dos objetos de pesquisa do Viladança com Habitat. De uma forma irônica, o cenário do espetáculo reúne cartazes com grandes propagandas da cidade, no estilo do slogan “Bahia, terra da alegria”. Eles foram resultado de uma pesquisa feita na imprensa local. “Existe realmente uma visão muito estereotipada de Salvador e uma parte da minha pesquisa é descobrir o que existe por trás dos pontos turísticos, do pôr-do-sol… A contemporaneidade é trazer essas questões para a realidade. Toda cidade tem um lado de construção e desconstrução, uma instabilidade. E isso também acontece com os 10 anos da companhia”, compara a coreógrafa.

O esforço exaltado por Cristina na construção do dia-a-dia do Viladança tem dado frutos. Hoje, a companhia tem patrocínio para levar adiante o projeto de formação de público Da ponta da língua à ponta do pé, que leva o espetáculo homônimo a crianças e jovens em escolas públicas do interior da Bahia. Além do projeto itinerante, está sendo produzido um CD com as músicas do espetáculo. “É difícil viver de dança no Brasil, mas não é impossível. A dança ainda não é reconhecida como linguagem como deveria ser. Nesses 10 anos, temos que fazer uma reflexão grande e pensar como manter atividades de longo período sem nos tornarmos empregados. Não quero trabalhar com empregados e sim parceiros”, afirma Cristina. Está aí o esforço da desconstrução e da construção diárias.

Habitat – Lat 13º S Long 38º 31′ 12” O fica em cartaz no Teatro Vila Velha até domingo (7/12), sempre às 20h. O Teatro fica na Avenida Sete de Setembro s/nº, Passeio Público, Salvador. Telefone: (71) 3083-4600. Nos dias de espetáculo, o público também poderá conferir exposição com obras de artistas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) também explorando a cidade de Salvador como tema. A mostra, no foyer do teatro, inclui fotografias e instalações.

It is possible to get an idea of the source of inspiration for Habitat – Lat 13º S Long 38º 31′ 12” O by looking closely at the title of the show. Can you see it? That is the geographic coordinate for the city of Salvador, homeland of the Viladança company and research subject chosen for the show that marks 10 years of the group. Habitat premieres on Thursday (4/12), at the Vila Velha Theater, in Salvador.

Given the geographic reference in the title, it is easy to realize that space is a recurring theme in the work of Viladança’s director and choreographer Cristina Castro. Nothing could be more appropriate than paying a tribute to the city that has been housing the company for the last 10 years. “I believe that space and time are fundamental in dance. I have this need to revisit the space I have been living in for a long time. And I think now is the time to look at the city of Salvador, its daily life, its history of invasion, of culture mixture. Salvador is special, it is not a planned city, it has a disorganized architecture and all that have an influence in our daily life. In Habitat, I don´t talk about history, I observe movement”, explains Cristina.

To create the show, the choreographer was out in the streets of Salvador alongside João Milet Meirelles and visual artist Marcondes Dourado. They visited many places in Salvador – including tourist spots like Porto da Barra and Feira de São Joaquim – and recorded sounds and images that grabbed their attention along the way. Observing daily actions, Cristina got to the movements that compose Habitat. “Action instigates me more than form. My creation also has a need to interact with other languages, I need to dialogue with professional from other areas”, explains Cristina, who uses the sounds recorded on the streets as elements of the new piece.

João Milet Meirelles

Habitat / Foto: João Milet Meirelles

Showing Salvador behind – and beyond – its tourist spots and stereotyped image is also one of the goals of Viladança’s research in Habitat. Ironically, the stage setting of the show is filled with advertising billboards of the city, like the slogan “Bahia, land of hapinness”. They are the result of research in the local press. “There really is a very stereotyped image of Salvador and part of my research is to find out what´s behind the tourist spots, the sunset… Contemporaneity is bringing those issues into reality. Every city has a construction and a deconstruction side, instability. And that also happens with the 10 years of the company”, compares the choreographer.

The effort praised by Cristina in the construction of the day-by-day of Viladança has given results. Currently, the company has sponsorship to carry out the audience development project Da ponta da língua à ponta do pé, which takes the same named show to children and teenagers in public schools in the interior of the state of Bahia. Besides the itinerant project, a CD with the soundtrack of the show is being produced. “It´s hard to make a living out dance in Brazil, but it is not impossible. Dance is still not recognized as a language as it should be. In these10 years, we must make a big reflection and think how to keep long term activities without becoming employees. I don´t want to work with employees, but rather with partners”, states Cristina. There you have the daily effort for construction and deconstruction.

Habitat – Lat 13º S Long 38º 31′ 12” O will be presented in Vila Velha Theater until Sunday (7/12), always at 20h. The theater is located at Avenida Sete de Setembro s/nº, Passeio Público, Salvador. Phone: (71) 3083-4600. While the show is playing, the audience will also be able to see the exhibition of works by artists of Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) also exploring the city of Salvador as subject. The exhibition, in the foyer of the theater includes photographs and installations.