{"id":10130,"date":"2009-04-02T12:52:47","date_gmt":"2009-04-02T15:52:47","guid":{"rendered":"http:\/\/beta.idanca.net\/?p=10130"},"modified":"2009-05-18T20:35:59","modified_gmt":"2009-05-18T23:35:59","slug":"dancar-afetos-com-a-cidade-pina-bausch-tanztheater-wuppertal-e-istambul","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/idanca.net\/dancar-afetos-com-a-cidade-pina-bausch-tanztheater-wuppertal-e-istambul\/","title":{"rendered":"Dan\u00e7ar afetos com a cidade: Pina Bausch, Tanztheater Wuppertal e Istambul | Dancing affects with the city: Pina Bausch, Tanztheater Wuppertal and Istanbul"},"content":{"rendered":"
Pre\u00e2mbulo: curiosamente ao iniciar a vers\u00e3o em portugu\u00eas deste artigo deparei-me com impossibilidades sem\u00e2nticas, como a tradu\u00e7\u00e3o de Dancing city affects, <\/em>o subt\u00edtulo da vers\u00e3o em ingl\u00eas desse texto. Fiquei algum tempo cogitando sobre a significa\u00e7\u00e3o que o t\u00edtulo conferiria ao trabalho pois, a meu ver, dan\u00e7ando afetos da<\/strong> cidade<\/em> estabeleceria uma contradi\u00e7\u00e3o em meu argumento. Dan\u00e7ar afetos com<\/strong> a cidade pareceu-me a melhor aproxima\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que implica um pas de deux<\/em>, um movimento conjunto de dois corpos que se encontram e alteram simultaneamente suas espacialidades e temporalidades. Mais do que isso, dan\u00e7ar com<\/strong> implica o estabelecimento de sentidos que apenas existem no momento desse encontro.<\/span><\/p>\n Para compreender a maneira pela qual o m\u00e9todo coreogr\u00e1fico de Pina Bausch contribui para o processo de desterritorializa\u00e7\u00e3o da cidade \u00e9 necess\u00e1rio inicialmente perguntar-nos: afinal o que \u00e9 a cidade?<\/span><\/p>\n Ora, a tend\u00eancia em responder a essa quest\u00e3o que tradicionalmente apontava para o entendimento da cidade como espa\u00e7o ocupado, geogr\u00e1fica e arquiteturalmente, gradualmente desfez-se ao longo do s\u00e9culo XX e em seu lugar entraram em cena teorias que enfatizam a no\u00e7\u00e3o de corpos em movimento como importante camada da malha urbana, como percebe-se nos escritos de Lewis Mumford (Mumford 1996), Michel de Certeau (Certeau 1988), Richard Sennet (Sennett 1994) e Henri Lefebvre. Lefebvre, por exemplo, argumenta que o espa\u00e7o n\u00e3o \u00e9 uma limita\u00e7\u00e3o f\u00edsica, mas sim algo produzido historicamente a partir de como as pessoas agregam significa\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s de suas atividades cotidianas. Para ele, h\u00e1 um espa\u00e7o que preexiste ao fen\u00f4meno natural, h\u00e1 tamb\u00e9m o espa\u00e7o absoluto, o espa\u00e7o abstrato e o espa\u00e7o ainda por vir, todos por\u00e9m interconectados e sobrepostos (Lefebvre, Kofman et al. 1996).<\/span><\/p>\n Com a sedimenta\u00e7\u00e3o da no\u00e7\u00e3o de que cidades s\u00e3o mais do que seu conjunto arquitet\u00f4nico, s\u00e3o espa\u00e7os praticados<\/em>, o projeto da cidade que se define pelo movimento de seus habitantes vem sendo explorado em pesquisas sobre o cotidiano em diversas \u00e1reas como arquitetura, geografia e ci\u00eancias pol\u00edticas, e encontra desdobramentos em todas as linguagens art\u00edsticas.<\/span><\/p>\n Desde o modernismo, coletivos como Os Situacionistas Internacionais, os Futuristas e o Fluxus, dentre outros conjuntos de artistas, alguns j\u00e1 citados no Corpocidade<\/a>, como Fl\u00e1vio de Carvalho, em suas caminhadas desbravadoras de posturas moralmente aceitas pela sociedade paulistana nos anos 30, Arthur Barrio e sua vers\u00e3o da derivee<\/em>outro<\/strong>. <\/em> reivindicava a dimens\u00e3o pol\u00edtica das rela\u00e7\u00f5es entre todo e qualquer indiv\u00edduo com o espa\u00e7o da cidade, que seria um local de contamina\u00e7\u00e3o comportamental e, portanto, onde os \u00e2mbitos pol\u00edticos, \u00e9ticos e est\u00e9ticos se encontravam exploraram a cidade como seu material principal de trabalho. Nessas obras, o encontro modelado pelo artista com o espa\u00e7o p\u00fablico e, por conseq\u00fc\u00eancia, com o outro<\/strong> reivindicava a dimens\u00e3o pol\u00edtica das rela\u00e7\u00f5es entre todo e qualquer indiv\u00edduo com o espa\u00e7o da cidade, que seria um local de contamina\u00e7\u00e3o comportamental e, portanto, onde os \u00e2mbitos pol\u00edticos, \u00e9ticos e est\u00e9ticos se encontravam <\/span><\/p>\n Pina Bausch, core\u00f3grafa alem\u00e3 que se distingue pela funda\u00e7\u00e3o da vertente da dan\u00e7a contempor\u00e2nea conhecida como dan\u00e7a teatro, vem explorando afetos entre o corpo e a cidade em uma s\u00e9rie de trabalhos criada em diversos continentes ao redor do mundo. Depois de Nur Du<\/em><\/strong>, inspirada em suas visitas ao oeste norte-americano e atrav\u00e9s de parcerias com institui\u00e7\u00f5es culturais locais, sua companhia, o TanzTheater Wuppertal, estabeleceu resid\u00eancias em Hong Kong, onde criaram o Der Fenster Putzer<\/em><\/strong>, no Brasil com \u00c1gua<\/strong>, <\/em>em Lisboa com Masurca Fogo<\/em><\/strong>. Roma, Palermo, Budapeste foram algumas das cidades com as quais a companhia dan\u00e7ou. Nef\u00e9s<\/strong>, <\/em>a pe\u00e7a dedicada a Istambul estreou em 2003, coproduzida pelo festival Internacional de Teatro de Istambul e a funda\u00e7\u00e3o de cultura e artes local.<\/span><\/p>\n Este texto n\u00e3o pretende ser uma cr\u00edtica tradicional ao trabalho de Pina Bausch, mas sim, empresta as pr\u00e1ticas desta artista, e atrav\u00e9s de Nef\u00e9s<\/em><\/strong> elabora algumas pondera\u00e7\u00f5es sobre a interse\u00e7\u00e3o entre a cidade e a dan\u00e7a e as potencialidades discursivas contidas neste encontro.<\/span><\/p>\n As composi\u00e7\u00f5es de Bausch extrapolam a representa\u00e7\u00e3o de cidades visitadas por sua companhia e defendem a ideia de que o corpo \u00e9 <\/strong>(e enfatizo aqui o verbo ser) simultaneamente v\u00e1rias cidades. O corpo c\u00eanico resulta da e tamb\u00e9m promove a desterritorializa\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o urbano contempor\u00e2neo.<\/span><\/p>\n Quando se pensa sobre dan\u00e7a e a cidade,<\/em> vemos hoje duas tend\u00eancias principais: uma primeira que trata da dan\u00e7a na <\/strong>cidade, ou seja, o espa\u00e7o urbano como extens\u00e3o do palco (e que eu chamo de falso site-specific<\/em>). Nesse caso, o que \u00e9 modificado atrav\u00e9s da a\u00e7\u00e3o do bailarino \u00e9 a forma de habitar um dado espa\u00e7o, durante a dura\u00e7\u00e3o do espet\u00e1culo. O lugar \u00e9 suporte e\/ou cen\u00e1rio da a\u00e7\u00e3o. O que a performance move \u00e9 um padr\u00e3o de movimentos corporais. O corpo move o espa\u00e7o.<\/span><\/p>\n A outra vertente seria a tend\u00eancia que eu chamo de Coletora<\/em>: cataloga. Nessas obras o criador se inspira e recolhe elementos da cidade, movimentos habituais, para a cria\u00e7\u00e3o de combina\u00e7\u00f5es coreogr\u00e1ficas destinadas ao palco – transportando os movimentos que ocorrem no caos e cotidiano urbano pra dentro do cubo branco\/teatro. Nesse caso o que se move \u00e9 o espa\u00e7o, transportado em pr\u00e1ticas espaciais atrav\u00e9s do corpo do bailarino para um outro\u00a0 limite f\u00edsico. O espa\u00e7o \u00e9 movido no corpo.<\/span><\/p>\n A s\u00e9rie das cidades de Pina Bausch poderia facilmente ser enquadrada dentro dessa \u00faltima categoria, exceto por uma particularidade que chamou minha aten\u00e7\u00e3o enquanto espectadora: Pina n\u00e3o move padr\u00f5es recolhidos para o palco apenas<\/strong>: mais do que representar alegorias de uma cidade que visitou, ela elabora uma cole\u00e7\u00e3o de impress\u00f5es que por si inventam um lugar que s\u00f3 existe atrav\u00e9s do corpo do performer<\/em>.<\/span><\/p>\n Em Nef\u00e9s,<\/em><\/strong> Bausch ordena uma alternativa para a solidifica\u00e7\u00e3o de uma cidade a partir de afetos e coleciona movimentos que nem sempre ocorreram ou referem-se diretamente \u00e0quela cidade. A core\u00f3grafa declara que esta s\u00e9rie vem de seu desejo em descobrir a ess\u00eancia dos lugares e, em decorr\u00eancia disso, o p\u00fablico percebe ao longo do espet\u00e1culo que a ess\u00eancia n\u00e3o est\u00e1 nos<\/strong> lugares, mas nos visitantes e na forma como estes aterrissam os espa\u00e7os<\/strong> em seus corpos.<\/span><\/p>\n Mas o que significa afinal considerar uma cidade a partir de afetos? Elizabeth Grosz define afetos como n\u00e3o resultando da consci\u00eancia mas sim como sendo tor\u00e7\u00f5es do pr\u00f3prio corpo (Grosz 1995). A identidade da cidade \u00e9 dobrada em corpo e a percep\u00e7\u00e3o espacial dobrada em afeto. Em Nef\u00e9s<\/em><\/strong> vemos a ideia de que afetos criam-se a partir do movimento e das trocas ad infinitum<\/em> com o espa\u00e7o de passagem. Alfred North Whitehead e seu conceito de preens\u00f5es negativas<\/em> nos auxilia a compreender como o espa\u00e7o se comp\u00f5e no corpo atrav\u00e9s de uma colagem de lugares que est\u00e3o para al\u00e9m do que o corpo percebe sensorialmente de onde se encontra. Preens\u00f5es negativas, segundo Whitehead, s\u00e3o aquilo que apreendemos do mundo, mas que dirigem nossa aten\u00e7\u00e3o a outra coisa, o que se percebe, mas se exclui da constitui\u00e7\u00e3o espa\u00e7o-temporal moment\u00e2nea (Whitehead 1960). Para ele, o encontro com um objeto (objeto aqui podendo significar o outro, a cidade, ou qualquer entidade que informe perceptualmente o corpo no espa\u00e7o) pode tornar-se um evento. Um movimento de transforma\u00e7\u00e3o \u00e9 um evento. No pensamento de Whitehead “h\u00e1 a nega\u00e7\u00e3o de uma diferen\u00e7a ontol\u00f3gica entre o que chamamos de objetos mentais e atos subjetivos. Quando ele concorda com William James na rejei\u00e7\u00e3o de uma dualidade entre pensamento e coisas” (Shaviro) nos permite compreender a cidade como algo que extrapola os par\u00e2metros de fisicalidade para ser aquilo que \u00e9 sentido (significado) espacialmente. O sentido, ou o que Whitehead chama de Nexo, \u00e9 um estar junto moment\u00e2neo que se dissolve na fra\u00e7\u00e3o seguinte que se atualiza. A cidade s\u00f3 ganha Nexo<\/strong> quando \u00e9 significada no corpo e vice-versa.<\/span><\/p>\n \u00c9 essa a Istambul de Pina Bausch, aquela do encontro vol\u00e1til entre os bailarinos coletores e a superf\u00edcie arquitet\u00f4nica, entre os gestos capturados nos espa\u00e7os coletivos e aqueles das mem\u00f3rias individuais. A rela\u00e7\u00e3o com a cidade n\u00e3o \u00e9 primordialmente perceptual, ela \u00e9 inventada em um cont\u00ednuo de encontros, potencialmente de eventos.<\/span><\/p>\n Ambiente e corpo como duas entidades insepar\u00e1veis \u00e9 tamb\u00e9m uma das principais ideias nas teorias da dupla de arquitetos e fil\u00f3sofos Arakawa e Madalaine Gins (Gins 2002). Segundo eles, a cidade n\u00e3o hospeda o corpo. Radicalmente, segundo sua teoria, a cidade n\u00e3o existe. Na verdade ela existe apenas no que chamam de momentos de aterrissagem. Retomando nossa pergunta inicial, “o que \u00e9 a cidade?”: para eles a cidade n\u00e3o \u00e9, ela se realiza e adquire nexo no estar no outro, no togetherness <\/em>de Whitehead. Interessantemente e muito alinhado ao processo compositivo de Bausch, para eles n\u00e3o h\u00e1 nenhuma hierarquia entre os espa\u00e7os de aterrissagem perceptuais e os imagin\u00e1rios. Eles explicam: “o mundo exterior est\u00e1 sempre ali para provir aquilo que possamos nos sentir obrigados a lembrar e assim liberta a mem\u00f3ria de acompanhar o espa\u00e7o imediato que nos rodeia.\u00a0 A mem\u00f3ria se qualifica a expandir-se pois n\u00e3o necessita lembrar-se do que est\u00e1 logo ali, podendo a qualquer instante revisitar o presente” (Gins 2002). Assim o corpo pode aterrissar em outros espa\u00e7os, lugares que s\u00e3o recolecionados e evocados a partir de um dado encontro f\u00edsico, mas que s\u00e3o igualmente determinantes na nossa percep\u00e7\u00e3o e configura\u00e7\u00e3o espacial.<\/span><\/p>\n Quando descrevo que as cidades de Pina Bausch s\u00e3o cidades elaboradas primordialmente a partir de afetos, n\u00e3o me refiro ao afeto emocional, mas ao que Deleuze descreve como pr\u00e9-perceptivo. Afetos s\u00e3o essas “sinestesias virtuais ancoradas e funcionalmente limitadas pelo que est\u00e1 atualizado”, mas que extrapolam o que as incorpora (Massumi 2002). Nef\u00e9s<\/em><\/strong> \u00e9 um exemplo de como o corpo inventa a cidade atrav\u00e9s de uma sucess\u00e3o de espa\u00e7os de aterrissagem e de como afetos desencadeiam a percep\u00e7\u00e3o espacial (e n\u00e3o o contr\u00e1rio). No palco v\u00ea-se eventos onde o corpo do bailarino sobrep\u00f5e espa\u00e7os de aterrissagem e desterritorializa a presen\u00e7a. Um corpo que se atualiza em Istambul transforma-se em Istambul, mesmo que no teatro.<\/span><\/p>\n O ser-corpo, este organismo que se personifica (Arakawa & Gins), atribui \u00e0 cidade uma caracter\u00edstica peculiar. Percebe, experiencia e apropria-se do espa\u00e7o, apreende, seleciona e atentivamente desenha sobre a superf\u00edcie da cidade uma outra camada espa\u00e7o-temporal: em velocidade, rotas, percursos, ocupa\u00e7\u00f5es. S\u00e3o dois corpos em movimento, um mais vol\u00e1til que o outro. Conforme descrito por de Certeau (Certeau 1988), a cidade se cria a partir do encontro, a partir da inven\u00e7\u00e3o de um \u00fanico e ef\u00eamero ponto de vista que a transforma espacialmente (93).<\/span><\/p>\n Bausch declara n\u00e3o estar interessada em como as pessoas se movimentam, mas no que as move. Ela investiga o que move um corpo e como um corpo pode mover conceitualmente o que a plateia carrega como pr\u00e9 conceitos sobre aquela cidade.<\/span><\/p>\n Para aqueles que est\u00e3o inquietos, devo dizer que evito aqui a descri\u00e7\u00e3o de cenas, buscar significa\u00e7\u00e3o ou ainda tratar Nef\u00e9s<\/em><\/strong> como met\u00e1foras espaciais. Esta obra \u00e9 a meu ver uma cole\u00e7\u00e3o de presen\u00e7as, <\/strong>seguindo um pouco o que Hans-Ulrich Gumbrecht descreve como efeitos de presen\u00e7as (Gumbrecht 2004), cuja significa\u00e7\u00e3o \u00e9 sen\u00e3o indescrit\u00edvel, ao menos \u00e9 desinteressante. Presen\u00e7a \u00e9 o que faz com que o espa\u00e7o torne-se el\u00e1stico e transcenda seus limites materiais de acordo com as tend\u00eancias e vetores de intencionalidades.<\/span><\/p>\n Bausch demole a no\u00e7\u00e3o de que cidade e corpo humano configuram duas arquiteturas aut\u00f4nomas e que se relacionam, que fazem fronteira, mas que n\u00e3o se sobrep\u00f5em,\u00a0 e\u00a0 entrega o conceito da cidade ao movimento do corpo.<\/span><\/p>\n Nef\u00e9s<\/em><\/strong> <\/em>n\u00e3o \u00e9 site-specific<\/em> (Kwon 2002), pois, apesar de referenciar um determinado lugar, a partir do momento em que em jogo est\u00e3o afetos dos bailarinos e o re-colecionamento de imagens, portanto presen\u00e7a, desmantela-se a pr\u00f3pria no\u00e7\u00e3o de site<\/em> como um corpo est\u00e1tico. N\u00e3o h\u00e1 nada espec\u00edfico em um lugar que preexista ao movimento do corpo. A cidade se transforma conforme aterrissa em cada corpo.<\/span><\/p>\n Nef\u00e9s<\/em><\/strong> \u00e9 uma cidade em si.<\/span><\/p>\n Na refer\u00eancia direta ao Hamam, o banho turco, por exemplo, o foco est\u00e1 em um aspecto peculiar: o corpo como centro da vida social. O espa\u00e7o compartilhado \u00e9 onde se experimentam as diferen\u00e7as a partir de padr\u00f5es comportamentais predeterminados. Um dos dan\u00e7arinos apresenta-se dizendo “este sou eu no Hamam”;<\/em> o p\u00fablico confronta um corpo que reproduz uma postura assumida em um outro local. Ele aponta para si: este sou eu l\u00e1 (e n\u00e3o aqui). Logo outros dan\u00e7arinos entram no palco e perdem-se em gestos ao apontar uns aos outros “este sou eu no Hamam”, indicando que os corpos que compartilham um mesmo local tornam-se confund\u00edveis e o eu e o outro intercambi\u00e1veis. O outro transforma-se em uma reflex\u00e3o de si. Qualquer corpo poderia ser este corpo, quando se compartilha um espa\u00e7o de intimidade coletiva. Num mesmo espa\u00e7o: o mesmo corpo.<\/span><\/p>\n