{"id":11,"date":"2003-01-01T00:00:00","date_gmt":"2003-01-01T00:00:00","guid":{"rendered":"http:\/\/beta.idanca.net\/2003\/01\/01\/trans-formar-o-moderno\/"},"modified":"2008-08-05T22:05:01","modified_gmt":"2008-08-06T01:05:01","slug":"trans-formar-o-moderno","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/idanca.net\/trans-formar-o-moderno\/","title":{"rendered":"Trans-formar o moderno"},"content":{"rendered":"

A disserta\u00e7\u00e3o de onde foi retirado este trecho foi defendida em 24 de abril de 2002 com a Dra. Maria Cristina Soares de Gouvea como orientadora na Faculdade de Educa\u00e7\u00e3o da UFMG, linha de Hist\u00f3ria da Educa\u00e7\u00e3o, Cultura e Sociedade. Em breve estar\u00e1 dispon\u00edvel na biblioteca da FAE – UFMG.<\/span><\/p>\n

Esta pesquisa procurou mapear em Belo Horizonte, por diferentes vias, uma identifica\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 de artistas, mas de literatos, intelectuais e alguns pol\u00edticos com ide\u00e1rios da modernidade, os quais despontam desde a funda\u00e7\u00e3o da cidade, objetivando-se continuamente em novos significados ao longo da hist\u00f3ria da Capital. O campo da dan\u00e7a, em Belo Horizonte, foi o \u00faltimo a incorporar o ide\u00e1rio est\u00e9tico moderno, fato que, em outras \u00e1reas, j\u00e1 havia ocorrido h\u00e1 muito tempo. Tal efetiva\u00e7\u00e3o vem com o trabalho desenvolvido por Klauss e Angel Vianna no bal\u00e9, modernizando-o tanto t\u00e9cnica como coreograficamente; passa por uma continuidade, mantida de forma diferenciada pelo trabalho do St\u00fadio Anna Pavlova, e ser\u00e1 retomado \u2013 numa din\u00e2mica radicalmente diferente \u2013 por Marilene Martins, que integrando a chamada “Gera\u00e7\u00e3o Complemento” \u2013 grupo de artistas e intelectuais envolvidos na publica\u00e7\u00e3o da revista Complemento \u2013 viveu os contatos com outros campos da arte e linguagens mais vanguardistas, fortalecendo suas convic\u00e7\u00f5es pessoais. Para Marilene, o trabalho com Klauss e Angel Vianna, seja na escola ou dan\u00e7ando no Bal\u00e9 Klauss Vianna, abriu-lhe perspectivas diferentes no tocante \u00e0 dan\u00e7a, que iam desde o movimento em si, \u00e0 t\u00e9cnica de aprend\u00ea-lo e transmiti-lo, at\u00e9 aos conte\u00fados subjacentes de sua expressividade, a rela\u00e7\u00e3o com a m\u00fasica – seja como princ\u00edpio inspirador e\/ou direcionador, ou somente como fundo clim\u00e1tico – e a rela\u00e7\u00e3o entre forma e conte\u00fado. A busca pretendia por este de uma dan\u00e7a genuinamente brasileira, seria, sobre Marilene, fator determinante em seu pr\u00f3prio trabalho, que se caracterizaria, tamb\u00e9m, pela pesquisa de uma brasilidade nos movimentos dos bailarinos, ao que soma-se sua posterior forma\u00e7\u00e3o com Rolf Gelewsky, na Bahia dos anos 60 como aluna, dan\u00e7arina do Grupo Juventude Dan\u00e7a e mais tarde como sua assistente. A t\u00e9cnica moderna, Marilene recebeu-a principalmente de Rolf Gelewsky, entre outras disciplinas e ensinamentos, como todo um rigor metodol\u00f3gico aplicado ao ensino da dan\u00e7a moderna, \u00e0 improvisa\u00e7\u00e3o, \u00e0 composi\u00e7\u00e3o coreogr\u00e1fica e \u00e0 filosofia da dan\u00e7a. Em 1969 funda, em Belo Horizonte, a Escola de Dan\u00e7a Moderna Marilene Martins, n\u00facleo embrion\u00e1rio do Trans-Forma: Centro de Dan\u00e7a Contempor\u00e2nea. Visando oferecer uma verdadeira forma\u00e7\u00e3o art\u00edstica no campo da dan\u00e7a, havia na escola cursos de dan\u00e7a moderna que abrangiam faixas et\u00e1rias desde os 3 anos at\u00e9 a maioridade. A escola organizava-se em 4 n\u00edveis de cursos: principiante, intermedi\u00e1rio I e intermedi\u00e1rio II, somando um total de 5 anos, que davam acesso ao n\u00edvel avan\u00e7ado, com dura\u00e7\u00e3o de 3 anos. Ao todo o curso cobria 8 anos de forma\u00e7\u00e3o. Para Marilene, ao criar a escola, o objetivo fundamental era o “… de formar professores. Toda a liberdade de cria\u00e7\u00e3o do Trans-Forma era muito bem fundamentada em pesquisas. Existia uma did\u00e1tica sistematizada, que era freq\u00fcentemente avaliada”. (1) Inseriam-se no curso de moderno, al\u00e9m das aulas t\u00e9cnicas, outras mat\u00e9rias como o Estudo do Espa\u00e7o, Estudo da Forma, R\u00edtmicca, Composi\u00e7\u00e3o, Improvisa\u00e7\u00e3o e Coreografia em Grupo. Como t\u00e9cnicas acess\u00f3rias, havia o Jazz, a Belly Dance e a dan\u00e7a Afro, que, segundo Marilene, favoreciam a soltura geral do corpo, seu relaxamento e proporcionavam formas diferenciadas de alongamento. Para aqueles que n\u00e3o pretendiam fazer todo o curso de forma\u00e7\u00e3o, foi criado o curso de Dan\u00e7a Livre. Contava, tamb\u00e9m, com uma biblioteca especializada em dan\u00e7a, arte universal e cultura brasileira; uma discoteca com m\u00fasica erudita e popular (moderna e folcl\u00f3rica) e uma ampla \u00e1rea de conviv\u00eancia. Consolidando-se como um verdadeiro espa\u00e7o de sociabilidade, a escola era especialmente freq\u00fcentada pela juventude mais identificada com o ide\u00e1rio da Contracultura, construindo uma imagem local para a sociedade belo-horizontino, de acolhedora dos “malucos” da dan\u00e7a na Capital. O corpo docente da escola formou-se gradativamente com os alunos mais adiantados preparados por Marilene, em cursos por ela ministrados; o trabalho t\u00e9cnico desenvolvido era revisto pela \u00f3tica de uma did\u00e1tica espec\u00edfica para a dan\u00e7a moderna. Paralelamente aos cursos regulares, professores convidados enriqueciam o curr\u00edculo da escola, contribuindo com trabalhos que ampliavam as perspectivas da arte da dan\u00e7a. Ministraram estes cursos, entre outros: Jos\u00e9 Adolfo Moura, de Sensibiliza\u00e7\u00e3o e Improvisa\u00e7\u00e3o; Paulo Ba\u00eata, junto a Rolf Gelewsky, de Estruturas Sonoras; Fredy Romero, t\u00e9cnica contempor\u00e2nea de Martha Grahan, que foi, posteriormente, incorporado ao m\u00e9todo de forma\u00e7\u00e3o da escola; o diretor teatral Eid Ribeiro ministrou Inicia\u00e7\u00e3o Teatral; Graciela Figueiroa, Dan\u00e7a Moderna e R\u00edtmica; o m\u00fasico Eduardo B\u00e9rtola curso de Ritmos e Sons; Bettina Bellomo, Dan\u00e7a Cl\u00e1ssica; a diretora Carmem Paternostro, Express\u00e3o Corporal; o bailarino Denilton Gomes, M\u00e9todo Laban de Dan\u00e7a Moderna; Klauss e Angel Vianna, Consci\u00eancia Corporal; Rolf Gelewsky, Espontaneidade e Consci\u00eancia para a Improvisa\u00e7\u00e3o. Por interm\u00e9dio dessas diversas linguagens, a escola mantinha-se conectada com m\u00e9todos que, em sua maioria, pela primeira vez eram oferecidos em Belo Horizonte, disseminando pr\u00e1ticas que aos poucos v\u00e3o sendo incorporadas por muitos dos profissionais que aqui trabalhavam. Chegavam, assim, atrav\u00e9s da dan\u00e7a moderna, experi\u00eancias de \u00e1reas afins que ampliaram a qualidade da forma\u00e7\u00e3o de bailarinos, e que, at\u00e9 aquela \u00e9poca, eram inexistentes na tradi\u00e7\u00e3o cultural de dan\u00e7a na cidade. Nesse ponto, o trabalho desenvolvido por Marilene diferencia-se daquele iniciado por Klauss e Angel Vianna, anos atr\u00e1s, pois que, se estes tinham sua maior for\u00e7a na linguagem e t\u00e9cnica corporal, Marilene, sem delas se descuidar, incorpora ao curso que oferece, outras linguagens para a forma\u00e7\u00e3o de seus bailarinos. Dessa forma, Belo Horizonte, que sempre vivera o processo de dispers\u00e3o de seus talentos, passa a funcionar como p\u00f3lo atrativo para profissionais de outros estados, criando uma maior concentra\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 destes, mas daqueles que, aqui formados, v\u00e3o aos poucos criando novos meios de perman\u00eancia e sobreviv\u00eancia na capital. O ide\u00e1rio que Marilene fundava, funcionando como um curso livre, fora de uma escola de educa\u00e7\u00e3o tradicional, termina por atuar no indiv\u00edduo como uma educa\u00e7\u00e3o de sua sensibilidade e uma verdadeira forma\u00e7\u00e3o. Nesse ponto a escola ultrapassa sua pr\u00f3pria motiva\u00e7\u00e3o como espa\u00e7o de dan\u00e7a, aportando ao aluno condi\u00e7\u00f5es que o posicionam num ideal \u00e9tico-est\u00e9tico de forma\u00e7\u00e3o, como sujeito, por meio de um programa regular do ensino de dan\u00e7a, e prop\u00f5e uma educa\u00e7\u00e3o que, no seu todo, termina por sustentar, sim, um verdadeiro movimento cultural em Belo Horizonte, do qual o Trans-Forma Grupo Experimental de Dan\u00e7a ser\u00e1 o modelo de constru\u00e7\u00e3o e que efetiva a forma\u00e7\u00e3o de artistas-bailarinos mais questionadores, que, indo al\u00e9m da condi\u00e7\u00e3o de executantes, criam. Assim, dessa coaliz\u00e3o de id\u00e9ias, influ\u00eancias e de um verdadeiro “adubamento” do terreno preparado desde a d\u00e9cada de 50 at\u00e9 finais dos anos 60, objetiva-se o seu trabalho, que, por sua vez, lan\u00e7a as bases de v\u00e1rias outras iniciativas vitoriosas, que se estendem diversificadamente \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de dan\u00e7a em Belo Horizonte, num continuun pleno de rupturas, dentro de uma tradi\u00e7\u00e3o at\u00e9 os dias atuais. Aqui se encontram os tr\u00eas grandes eixos referenciais desta pesquisa: Belo Horizonte, dan\u00e7a\/educa\u00e7\u00e3o da sensibilidade e modernidade, que, em suas distintas temporalidades, pelos momentos hist\u00f3ricos que representam, marcam a cidade como um p\u00f3lo dessa tradi\u00e7\u00e3o cultural. (1) Entrevista de Marilene Martins \u00e0 jornalista Michele Borges da Costa, do jornal O Tempo, em14\/05\/2000.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Arnaldo Alvarenga chama aten\u00e7\u00e3o para Marilene Martins e o redesenho da dan\u00e7a proposto por sua escola de 1959 a 1975.<\/span><\/p>\n","protected":false},"author":16,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_mi_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[2,28],"tags":[1147,150,360,297,119,2152,1314],"yoast_head":"\nTrans-formar o moderno -<\/title>\n<meta name=\"robots\" content=\"index, follow, max-snippet:-1, max-image-preview:large, max-video-preview:-1\" \/>\n<link rel=\"canonical\" href=\"https:\/\/idanca.net\/trans-formar-o-moderno\/\" \/>\n<meta property=\"og:locale\" content=\"pt_BR\" \/>\n<meta property=\"og:type\" content=\"article\" \/>\n<meta property=\"og:title\" content=\"Trans-formar o moderno -\" \/>\n<meta property=\"og:description\" content=\"Arnaldo 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