{"id":23577,"date":"2013-05-09T17:21:35","date_gmt":"2013-05-09T20:21:35","guid":{"rendered":"https:\/\/idanca.net\/?p=23577"},"modified":"2013-05-29T09:10:07","modified_gmt":"2013-05-29T12:10:07","slug":"ensaio-sobre-residencias-artisticas-como-experiencias-relacionais","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/idanca.net\/ensaio-sobre-residencias-artisticas-como-experiencias-relacionais\/","title":{"rendered":"Resid\u00eancias art\u00edsticas como experi\u00eancias relacionais"},"content":{"rendered":"
Botes, Navios ou barquinhos, espa\u00e7os flutuantes e ef\u00eameros.
\nNavegar \u00e9 preciso, viver n\u00e3o \u00e9 preciso
\nQuando as bordas viram centro e o centro vira borda
\nensaio sobre residencias art\u00edsticas como experiencias relacionais<\/p>\n
Um texto de Dally\u00a0Velloso Lemos Schwarz (PPGAV\/UFRJ)<\/p>\n
Um navio \u00e9 um peda\u00e7o flutuante de espa\u00e7o, um lugar sem lugar, que existe por si s\u00f3, que \u00e9 fechado sobre si mesmo e que ao mesmo tempo \u00e9 dado \u00e0 infinitude do mar. E, de porto em porto, de bordo a bordo, de bordel a bordel, um navio vai t\u00e3o longe como uma col\u00f4nia em busca dos mais preciosos tesouros que se escondem nos jardins. Perceberemos tamb\u00e9m que o navio tem sido, na nossa civiliza\u00e7\u00e3o, desde o s\u00e9culo dezesseis at\u00e9 os nossos dias, o maior instrumento de desenvolvimento econ\u00f4mico [\u2026] e simultaneamente o grande escape da imagina\u00e7\u00e3o. O navio \u00e9 a heterotopia por excel\u00eancia. Em civiliza\u00e7\u00f5es sem barcos, esgotam-se os sonhos, e a aventura \u00e9 substitu\u00edda pela espionagem, os piratas pelas pol\u00edcias (FOUCAULT, 1967, p. 7).<\/p>\n
O que leva os artistas a fazerem resid\u00eancias? Sair de sua rotina de trabalho para participar de uma experiencia imersiva num tempo espa\u00e7o diferente? Ficar desconectado de suas redes sociais e rede de e-mails?Sair de suas casas, ateliers, espa\u00e7os de cria\u00e7\u00e3o? sair da cidade?Por que se desconectar? Talvez essas perguntas n\u00e3o tenham respostas t\u00e3o precisas, mas est\u00e3o me fazendo pensar sobre a experiencia da residencia. Depois de passar por um processo recente na Resid\u00eancia Corpografias<\/a> da Cia Flux de Ipatinga, resolvi espacializar o pensamento e tentar entender melhor um processo que ainda estou digerindo.<\/p>\n A resid\u00eancia \u00e9 um formato que est\u00e1 ficando cada vez mais comum na rotina de trabalho e forma\u00e7\u00e3o dos artistas em espa\u00e7os diversos e que muitas vezes fogem do campo da arte. Entend\u00ea-la como parte do processo de cria\u00e7\u00e3o \u00e9 entender as possibilidades da arte contempor\u00e2nea, da dan\u00e7a contempor\u00e2nea e do contempor\u00e2neo. Esse momento contempor\u00e2neo em que a fragmenta\u00e7\u00e3o do tempo\/espa\u00e7o n\u00e3o se d\u00e1 somente na\u00a0 rela\u00e7\u00e3o entre real e virtual, mas na converg\u00eancias midi\u00e1ticas, nos deslocamentos e travessias tempor\u00e1rias e em outras colagens e possibilidades de articular esses dois vetores t\u00e3o modernos que marcam um tipo de experiencia.<\/p>\n Uma fuga da cidade pode sugerir novas formas de se relacionar e perceber esse modelo de experiencia de rela\u00e7\u00f5es sociais em que vivemos. A cidade, me parece estar em crise j\u00e1 tem um tempo, e todo esse discurso e resgate dos espa\u00e7os fora do centro, est\u00e3o cada vez mais valorizados. A experiencia da residencia Corpografias, atrav\u00e9s da minha percep\u00e7\u00e3o, passou um pouco por esse lugar fora do centro, lugar de bordas. De fuga de um centro t\u00e3o determinado e habitado pelos discursos hegem\u00f4nicos e que faz eco em nossos discursos quando falamos e pensamos arte e dan\u00e7a. A hegemonia se encontra no mundo, na hist\u00f3ria da arte, hist\u00f3ria da dan\u00e7a, nas institui\u00e7\u00f5es e departamentos que s\u00e3o centro e centralizam, e por isso, se encontram tamb\u00e9m em nossos discursos.<\/p>\n