{"id":5157,"date":"2007-12-06T16:01:21","date_gmt":"2007-12-06T19:01:21","guid":{"rendered":"http:\/\/beta.idanca.net\/2007\/12\/06\/para-fazer-diferenca\/"},"modified":"2008-08-05T02:15:20","modified_gmt":"2008-08-05T05:15:20","slug":"para-fazer-diferenca","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/idanca.net\/para-fazer-diferenca\/","title":{"rendered":"Para fazer diferen\u00e7a"},"content":{"rendered":"
Minha atua\u00e7\u00e3o como produtor, palestrante, avaliador ou mesmo como convidado ou participante em festivais e eventos de dan\u00e7a pelo Brasil sempre me despertou uma inquieta\u00e7\u00e3o. E depois que os dias de intensa programa\u00e7\u00e3o se acabam, o que resta? Depois que o circo levanta a lona, fica-se aguardando o seu retorno na pr\u00f3xima temporada?<\/span><\/p>\n Esta preocupa\u00e7\u00e3o vem me atormentando um pouco mais do que o normal, principalmente porque a maioria dos eventos vem sendo realizada com verbas p\u00fablicas, especialmente das leis de incentivo. Por isso, mais do que uma inflacionada programa\u00e7\u00e3o muitas vezes traduzida em n\u00fameros de espet\u00e1culos e participantes, ando interessado mais no que fica ou poderia ficar, seja materialmente ou em termos de est\u00edmulo, pensamento e inquietude local e suas reverbera\u00e7\u00f5es.<\/span><\/p>\n Foi sob este prisma que lembro de algumas iniciativas como a dos Nov\u00edssimos<\/em>, no Panorama de Dan\u00e7a<\/em> (RJ), que j\u00e1 h\u00e1 alguns anos vem abrindo espa\u00e7o para fomentar a produ\u00e7\u00e3o de jovens criadores em dan\u00e7a contempor\u00e2nea. Ou ainda de Marcelo Gabriel no pomposo Santa Isabel, durante o Festival de Dan\u00e7a de Recife,<\/em> em 2005, amea\u00e7ando senhoras bem vestidas com cacos de vidro. \u00c9 neste sentido que gostaria de tecer algumas percep\u00e7\u00f5es quanto \u00e0 Bienal de Dan\u00e7a do Cear\u00e1<\/em> e observar os poss\u00edveis res\u00edduos que tal a\u00e7\u00e3o revelou.<\/span><\/p>\n Estive na Bienal pela primeira vez na sua terceira edi\u00e7\u00e3o e, j\u00e1 na \u00e9poca, em 2001, escrevi um artigo intitulado O Pulo do Gato<\/em>, quando o Idan\u00e7a<\/em>, embrion\u00e1rio, ficava hospedado no site da Antares. Neste artigo colocava minha positiva impress\u00e3o com o ambiente em torno da Bienal, com o Col\u00e9gio de Dan\u00e7a, Alpendre, semin\u00e1rios, interc\u00e2mbios.<\/span><\/p>\n Passados seis anos, ainda que algumas iniciativas como Col\u00e9gio de Dan\u00e7a, infelizmente, n\u00e3o existam mais, o ambiente de Fortaleza mais uma vez d\u00e1 sinal de superar a efemeridade do evento e transform\u00e1-lo em um acontecimento que perdura para al\u00e9m da sua programa\u00e7\u00e3o. O movimento nesta dire\u00e7\u00e3o se configurou j\u00e1 bem antes da abertura oficial, nas resid\u00eancias, cursos e oficinas que foram realizadas desde o in\u00edcio de outubro. A\u00e7\u00f5es importantes tanto pelo tempo de dura\u00e7\u00e3o (que n\u00e3o se caracterizaram como fast food)<\/em> quanto pelas tem\u00e1ticas escolhidas. Foi assim com Yann Marussich e sua Prociss\u00e3o Pag\u00e3, <\/em>com a oficina Tradi\u00e7\u00e3o e contemporaneidade<\/em>, de Marcelo Evelin, e tamb\u00e9m com os cursos Desenvolvimento de uma linguagem de dan\u00e7a, partindo das dan\u00e7as populares brasileiras<\/em>, com \u00c2ngelo Madureira e Ana Catarina Vieira, e M\u00fasica e Movimento,<\/em> com Tato Taborda.<\/span><\/p>\n Al\u00e9m destas a\u00e7\u00f5es, o Semin\u00e1rio A dan\u00e7a como \u00e1rea de conhecimento<\/em> antecedeu a programa\u00e7\u00e3o de espet\u00e1culos e buscou refletir quanto \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de saberes na\/da dan\u00e7a e \u00e0 implanta\u00e7\u00e3o de um curso de gradua\u00e7\u00e3o em dan\u00e7a. O Semin\u00e1rio do qual fiz parte, contou com a presen\u00e7a de Silvia Sotter, Leda Muhana, Fernando Passos, Christine Greiner, Rosa Primo, com a provocadora e articuladora media\u00e7\u00e3o de Marcos Moraes. A discuss\u00e3o, com intensa participa\u00e7\u00e3o da comunidade de dan\u00e7a local, evidenciou a preocupa\u00e7\u00e3o com o formato de tal curso, suas implica\u00e7\u00f5es com a realidade da dan\u00e7a no Cear\u00e1 e o seu conseq\u00fcente perfil.<\/span><\/p>\n Depois deste “aquecimento”, a temperatura ainda se elevou, no melhor sentido da met\u00e1fora. Na abertura da programa\u00e7\u00e3o de espet\u00e1culos, a bailarina do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro Isabel Torres subiu ao palco do Teatro Jos\u00e9 de Alencar, apresentando a obra criada por Jer\u00f4me Bel, que leva seu pr\u00f3prio nome Isabel Torres<\/em>. A pe\u00e7a, repleta de ironia e sensibilidade mexeu com o p\u00fablico que n\u00e3o encontrou em cena o esperado universo dos bal\u00e9s de repert\u00f3rio como se est\u00e1 habituado a ver. Frente \u00e0 obra, o p\u00fablico n\u00e3o assistiu passivamente e n\u00e3o s\u00f3 cantou junto o funk que embalava a int\u00e9rprete em cena, como levantou das cadeiras e tamb\u00e9m dan\u00e7ou.<\/span><\/p>\n E, se o p\u00fablico mergulhou junto na hist\u00f3ria de Isabel, tamb\u00e9m conferiu com aten\u00e7\u00e3o a do\u00edda e comovente performance de Vera Sala no MAC (Museu de Arte Contempor\u00e2nea). Ali no espa\u00e7o pouco tradicional para se dan\u00e7ar, o p\u00fablico se permitiu dividir esta experi\u00eancia com a int\u00e9rprete de Imperman\u00eancias.<\/em> Essas impress\u00f5es e muitas outras provoca\u00e7\u00f5es que povoaram conversas de corredores e intervalos ganharam espa\u00e7o certo nos bate-papos com core\u00f3grafos. Os Bons encontros<\/em> garantiram espa\u00e7o di\u00e1rio para criadores e plat\u00e9ia dialogarem, sob a competente e generosa condu\u00e7\u00e3o do cr\u00edtico e professor Roberto Pereira. Os encontros com os core\u00f3grafos tamb\u00e9m sacudiram a poeira nas aulas e workshops que se seguiram. Um bailarino local que depois de acompanhar os debates e participar da aula com Lia Rodrigues comentava: “nunca tinha pensado o que eu queria com a minha dan\u00e7a, agora vou embora com isso na cabe\u00e7a…”<\/span><\/p>\n Al\u00e9m deste pulsante cen\u00e1rio de troca de informa\u00e7\u00f5es, a Bienal ainda teve outras conquistas nesta edi\u00e7\u00e3o, como a amplia\u00e7\u00e3o da rede de institui\u00e7\u00f5es envolvidas, seja ampliando espa\u00e7os, como p\u00fablico e atividades. Entre eles o BNB (Banco do Nordeste), o Sesc e o Teatro das Marias, este \u00faltimo promovendo acolhedores e instigantes momentos, sob a hospitalidade de Val\u00e9ria Pinheiro e sua trupe, a cada final de noite. Mas esta rede se estendeu para al\u00e9m da capital, como j\u00e1 vinha ocorrendo em edi\u00e7\u00f5es anteriores. E a programa\u00e7\u00e3o da Bienal chegou este ano a outros lugares, como Sobral, Paracuru, Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda.<\/span><\/p>\n Mas estas redes s\u00f3 se tornaram poss\u00edveis porque se estabeleceram redes de pessoas. Senti que o evento n\u00e3o acontecia para<\/strong> a comunidade de dan\u00e7a da cidade, mas com<\/strong> a comunidade de dan\u00e7a. A articula\u00e7\u00e3o de Andr\u00e9a Bardawil, com a\u00e7\u00f5es simples e eficazes, incorporou dez profissionais da cidade (de diferentes linhas est\u00e9ticas e correntes art\u00edsticas) para assumirem a fun\u00e7\u00e3o de articuladores junto \u00e0 equipe dirigida por David Linhares. Pessoas da \u00e1rea da dan\u00e7a (core\u00f3grafos, bailarinos ou pesquisadores), que se reuniram mensalmente, trocando id\u00e9ias, elaborando a\u00e7\u00f5es e tra\u00e7ando estrat\u00e9gias, como Val\u00e9ria Pinheiro, S\u00edlvia Moura, Cl\u00e1udia Pires, Gra\u00e7a Martins, Tha\u00eds Gon\u00e7alves e Raimundo Severo Jr.<\/span><\/p>\n Isso n\u00e3o significa um cen\u00e1rio sem tens\u00f5es e contradi\u00e7\u00f5es, mas um cen\u00e1rio que vem fazendo das diferen\u00e7as uma possibilidade de constru\u00e7\u00e3o e di\u00e1logo. E estas a\u00e7\u00f5es fazem a diferen\u00e7a, quando circo chega e vai embora. E mais do que isto, imprime for\u00e7a para que ele volte para apenas passar.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" A \u00faltima Bienal de Dan\u00e7a do Cear\u00e1 e o que vir\u00e1 depois, por Airton Tomazzoni<\/span><\/p>\n","protected":false},"author":8,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_mi_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[31],"tags":[],"yoast_head":"\n